A igreja e o inferno eterno

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12 Mai 2020

O desaparecimento, há três dias, de Franco Cordero, nos convida a conversar sobre o inferno: de fato, tendo ele questionado a existência desse castigo que Deus queria que punisse os grandes pecadores, o ilustre jurista perdeu seu posto na Universidade Católica de Milão. No entanto, o problema questiona a teologia católica e abre hipóteses difíceis de conciliar com a doutrina romana oficial. Cordero (nascido em 1928), professor de direito da Universidade do Sagrado Coração, declarou em uma de suas obras que uma pena "eterna" não podia se reconciliar com um Deus chamado "pai"; de fato, ela o transformava em um carrasco sem piedade. Mas, considerando essa ideia herética, as autoridades daquela Universidade obrigaram o professor a pedir demissão; ele protestou; foi aberto um processo no tribunal que finalmente chegou à Cassação. A Suprema Corte, alegando que é um direito de uma universidade "católica" reivindicar ortodoxia de seus professores, concluiu que ele estava errado; e ele, considerado por muitos como um luminar da jurisprudência, continuou seu trabalho em outras universidades.

A reportagem é de Luigi Sandri, publicada por L'Adige, 11-05-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Deixando de lado aqui o aspecto jurídico da história (que, em um país formalmente "laico", acabou provocando fortes polêmicas), vamos nos deter por um momento no aspecto da doutrina. A afirmação da existência do inferno "eterno" foi gerando questionamentos desde o alvorecer da Igreja. No terceiro século, o grande teólogo egípcio Orígenes negou a eternidade do inferno e afirmou que no final dos tempos haveria, no momento "x" estabelecido por Deus, a "apokatàstasis", palavra grega que significa recapitulação, profunda restauração pela qual até os condenados seriam salvos pelo Altíssimo.

Uma tese como essa, negada pelo sistema oficial (que consequentemente nunca considerou Orígenes um "padre" da Igreja), no entanto, não desapareceu e, ao longo dos séculos e, de maneira eventual, aqui e ali reapareceu; mas em 1215 o Concílio de Latrão IV proclamou como dogma de fé: "No dia da ressurreição, os ímpios receberão a punição eterna com o diabo". Embora com a permanência na doutrina oficial, rumores semelhantes aos de Orígenes surgiram no século passado. Por exemplo, Giovanni Franzoni, ex-abade da abadia de San Paolo, em Roma, argumentava: como Deus poderia ser verdadeiramente feliz se apenas um de seus filhos sofresse eternamente no inferno? Um pai terreno não poderia; o Deus de Jesus poderia acaso fazer isso?

Alguns anos antes, o famoso teólogo suíço Hans Urs von Balthasar disse: "O inferno existe, mas talvez esteja vazio". Uma maneira diplomática de negar a eternidade da punição, porque significaria que, pelo menos desde o começo do mundo até o final do século XX, ninguém permaneceu naquele suplício. E que sua ideia, certamente desconcertante para muitos "catolicíssimos", não era exatamente absurda, o demonstra um inequívoco; João Paulo II, um papa "seguro", em 1988 anunciou que queria nomear cardeal von Balthasar: mas este morreu em junho daquele ano, dois dias antes de receber o título.

 

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