20 Abril 2020
O discurso do presidente da República contra quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais pode muito bem explicar o avanço da violência no campo em 2019.
A reportagem é publicada por Assessoria de Comunicação da Comissão Pastoral da Terra - CPT, 18-04-2020.
Logo no mês de janeiro a barragem do Córrego do Feijão, da mineradora Vale se rompeu em Brumadinho (MG): 272 pessoas enterradas vivas sob uma avalanche de lama. Povoados destroçados, pequenas lavouras e criação de animais destruídos, a água totalmente contaminada. Até hoje se ouvem os gritos de dor, os gemidos de angústia dos atingidos por esta catástrofe.
No meio do ano, o fogo destruiu florestas. O mundo todo se levantando contra a destruição da Amazônia, essencial para o equilíbrio do planeta. E fazendeiros combinando o dia do fogo.
Já perto do final do ano, o óleo invadiu o litoral de quase todos os estados o Nordeste. Afetou grandemente a vida dos ribeirinhos e pescadores artesanais.
A pior calamidade, porém, acontecia na esfera política. Povos indígenas, comunidades tradicionais, movimentos dos povos do campo, ONGs de defesa do meio ambiente se tornaram os inimigos que tinham que ser, se não destruídos, pelo menos freados.
A Amazônia deveria ser explorada a qualquer custo pelo capital.
Foram anunciadas: a extinção de ministérios – Meio Ambiente, Trabalho, Cultura; a transferência da Funai para o Ministério dos Direitos Humanos, da Mulher e da Família; a demarcação de Terras Indígenas para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).
A reação da sociedade obrigou o recuo em algumas das medidas tomadas, o que não significou mudança de orientação do governo. Nos postos-chave dos ministérios e das autarquias foram colocadas pessoas alinhadas com os interesses do agronegócio, sem preocupação com o meio ambiente e com a manutenção dos direitos dos povos indígenas. A propriedade continuou como mais sagrada que a vida. E pode ser defendida com armas. Resultado: nenhum assentamento criado. Nenhuma nova Terra Indígena demarcada. E a liberação recorde de agrotóxicos, 503 novos produtos, a maior parte proibida nos países-sede das empresas que os produzem.
Emendas à Constituição e leis passaram sobre o povo trabalhador como um rolo compressor: leis trabalhistas foram flexibilizadas, a Previdência Social foi reformada com os aplausos dos donos do capital e os protestos dos trabalhadores.
O discurso do presidente da República contra quilombolas, indígenas, comunidades tradicionais pode muito bem explicar o avanço da violência no campo em 2019 em relação a 2018:
14% de crescimento no número de assassinatos – de 28 para 32;
7% no de tentativas de assassinato – 28 para 30;
22% no de ameaças de morte – 165 para 201.
A CPT registrou 1.833 conflitos no campo em 2019. Número 23% maior que em 2018 e o maior número registrado pela CPT nos últimos 5 anos. Esse número equivale a uma média de 5 conflitos a cada dia. Dos 1.254 conflitos por terra registrados, 1.206 ocorrências de conflitos por terra envolveram alguma forma de violência, provocada por supostos proprietários e/ou grileiros. Esse foi o maior número de ocorrências de conflitos por terra já registrado pela CPT desde 1985.
Os despejos explodiram na região Sul (450%), Centro-Oeste (114%) e Norte (55%).
102 mulheres sofreram violência. Desse total, 3 foram assassinadas, 47 foram ameaçadas de morte, 3 sofreram tentativa de assassinato, 5 foram presas, 15 sofreram intimidação.
O “Conflitos no Campo Brasil 2019”, e mais informações estão disponíveis em https://www.cptnacional.org.br
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O campo brasileiro em ebulição. O ano de 2019 vai passar para a história como um ano de grandes tragédias - Instituto Humanitas Unisinos - IHU