02 Março 2020
O Papa Francisco disse à ordem religiosa da Legião de Cristo nesse sábado, 29 de fevereiro, que ela ainda tem um longo caminho de reforma pela frente, deixando claro que os 10 anos de reabilitação ordenada pelo Vaticano não a purificaram das influências tóxicas de seu fundador pedófilo.
A reportagem é de Nicole Winfield, publicada por Crux, 29-02-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Em um discurso preparado, Francisco disse aos novos superiores da Legião que há ainda um “campo muito vasto” de trabalho para corrigir os problemas da Legião e criar uma ordem saudável. Ele os encorajou a trabalhar “energicamente na substância e docemente nos modos”.
“A mudança de mentalidade nas pessoas individuais e em uma instituição requer muito tempo de assimilação, portanto, uma contínua conversão”, disse Francisco. “Um retorno ao passado seria perigoso e sem sentido.”
O Vaticano assumiu o controle da Legião em 2010, após revelações de que seu fundador, o Pe. Marcial Maciel, havia abusado sexualmente de dezenas de seus seminaristas, havia tido pelo menos três filhos e havia construído uma ordem secreta, semelhante a um culto, para esconder sua vida dupla.
Embora o enviado vaticano encarregado de administrar e reformar a Legião tenha declarado que a ordem havia sido purificada e se reconciliado com o seu passado em 2014, novos escândalos de má conduta sexual puseram em questão se a sua missão havia sido realmente cumprida.
Vítimas de outros padres da Legião se pronunciaram, indicando que a cultura de abuso se estendia para muito além dos crimes de Maciel e envolvia um encobrimento de alto nível por parte dos superiores que ainda estão no poder.
Estava previsto que Francisco se reuniria com a liderança da ordem mexicana e os seus ramos consagrados do Regnum Christi, que estão em Roma este mês para eleger novos superiores e definir decisões políticas. Francisco não participou da audiência porque está doente. Mas o texto de suas observações preparadas foi entregue à Legião e divulgado publicamente pela Sala de Imprensa vaticana.
No discurso, Francisco fez seus comentários mais extensos até o momento sobre a Legião e Maciel, aclamada durante o papado de São João Paulo II por sua suposta ortodoxia e capacidade de atrair vocações e doações.
O escândalo da Legião maculou o legado de João Paulo II, já que ele e seus assessores fecharam os olhos para as evidências, incluindo uma documentação no Vaticano datada dos anos 1940 de que Maciel era viciado em drogas, pedófilo e uma fraude religiosa.
Francisco disse que, embora a Legião não possa negar que Maciel fundou a ordem, “vocês não podem considerá-lo um exemplo de santidade a ser imitado” – uma referência ao fato de que alguns legionários ainda guardam fotos dele e leem os escritos de um homem que eles consideravam como um santo vivo.
Francisco disse que o culto à personalidade que Maciel criou para gerir a ordem “de alguma forma poluiu” a inspiração espiritual original da Legião.
O papa elogiou os membros da Legião pela sua disposição em aceitar as mudanças e instou-os a continuar o caminho da renovação, incluindo um novo conselho de governo que, segundo ele, deve atuar como um controle dos superiores.
Desde que o escândalo da Legião irrompeu em 2009, o número de seus padres e dos membros do seu ramo leigo, Regnum Christi, diminuiu, e várias de suas escolas e seminários fecharam. A Legião conta agora com 970 sacerdotes, e apenas 51 noviços entraram no seminário no ano passado, abaixo da média de cerca de 200 por ano no auge da Legião.
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X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos
Sobre a mensagem do Papa Francisco aos Legionários de Cristo veja aqui.
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Papa à Legião de Cristo: a reforma ainda não ocorreu. “Vocês não podem considerar o fundador um exemplo de santidade a ser imitado” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU