19 Fevereiro 2020
Quatro padres desta congregação e um de seus advogados são acusados de tentar obstruir a justiça.
A reportagem é de Anna Buj, publicada por La Vanguardia, 18-02-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O esforço do Vaticano para limpar o nome dos Legionários de Cristo, uma congregação católica que precisou de intervenção pelo alto número de padres pedófilos, poderá se ver manchada por um julgamento que começará no próximo mês de março. Quatro padres dos Legionários de Cristo e um de seus advogados são acusados de tentar obstruir a justiça e extorquir a família de uma vítima de abusos sexuais. Tudo ocorreu em 2013, quando a Santa Sé assumiu o controle da congregação.
O caso é clamoroso. Segundo conta a Agência AP, os Legionários de Cristo ofereceram 15 mil euros à Yolanda Martínez em troca da retratação do testemunho do seu filho que foi dado aos investigadores em Milão, acusando o padre Vladimir Reséndiz de ter abusado dele repetidamente quando era um estudante de 12 anos no seminário para jovens da ordem no norte da Itália. Pediram-lhe que mentisse.
A mãe recorreu ao cardeal Velasio de Paolis, uma das figuras mais respeitadas no direito canônico e quem foi encarregado pelo papa Bento XVI de colocar ordem na congregação, porém o cardeal não pareceu surpreendido, nem compartilhou sua indignação. Recomendou-lhe de não aceitar o trato, porém o animou de trabalhar em outro acordo sem advogados, porque “complicam as coisas”. Essa conversa foi gravada e, junto às seis páginas da proposta de acordo, serão as principais provas para o julgamento. De Paolis, que morreu em 2017, conheceu pela primeira vez os crimes de Reséndiz, em 2011, e aprovou uma investigação interna, porém não denunciou o padre à polícia.
Essas acusações são significativas porque colocam em questão a efetividade que teve a intervenção do Vaticano nos Legionários de Cristo. E ademais, porque o julgamento de Milão chegará poucos meses depois de publicada uma investigação interna demolidora para a congregação. Segundo seus dados, desde sua fundação em 1941 até a atualidade, pelo menos 33 padres abusaram de 175 menores de idade... ao menos um terço destes foram vítimas do seu fundador, o padre Marcial Maciel, um dos maiores depredadores sexuais da Igreja Católica.
Os abusos de Maciel são uma escura mancha no pontificado de João Paulo II. O mexicano estava muito bem considerado pelo Papa polonês, quem admirava suas posições conservadoras, sua lealdade aos ensinamentos da Igreja e sua eficácia para recrutar novos clérigos. Durante anos, o Vaticano desestimou as acusações de vários seminaristas dos Legionários que denunciavam que Maciel havia lhes abusado quando eram mais jovens. Não foi até 2006 que o Vaticano reconheceu os crimes de Maciel, quando o papa Bento XVI ordenou-lhe uma vida de penitência e oração.
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X Colóquio Internacional IHU. Abuso sexual: Vítimas, Contextos, Interfaces, Enfrentamentos
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Os Legionários de Cristo tentaram comprar uma vítima de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU