Querida Amazônia, sonhos proféticos e forte denúncia

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27 Fevereiro 2020

"A exortação apostólica diz claramente que os laicos devem se tornar de fato protagonistas da missão. Mas somente superando a estrutura e a mentalidade clericais, que identificam no poder sagrado todo poder e responsabilidade na Igreja, será possível encontrar um espaço adequado para todos, começando pelas mulheres", escreve Adriano Ciocca Vasino, bispo da Prelatura Territorial de São Félix (originário da Borgosésia), em artigo publicado por Il Verbano, 21-02-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Como há oito anos presto serviço em uma circunscrição eclesiástica localizada na bacia amazônica, a prelatura de São Félix do Araguaia no estado de Mato Grosso, tive a alegria de poder participar como padre sinodal no Sínodo sobre a Amazônia.

Após a aprovação do Documento Final do Sínodo e a promessa do Papa Francisco de publicar a exortação apostólica pós-sinodal em pouco tempo, aguardávamos com expectativa e esperança por esse documento na certeza que confirmaria a abertura da Igreja Amazônica a novos caminhos.

A exortação apostólica "Querida Amazônia", de fato, consagra a sinodalidade como característica de uma Igreja Povo de Deus que caminha junto e amadurece junto, embora lentamente, as escolhas pastorais sugeridas pelo Espírito.

O Papa no início da exortação apostólica declara que assume integralmente o documento final do Sínodo, que, portanto, continua a ser uma referência fundamental para progredir no caminho da reflexão e chegar a outras decisões também em relação à organização pastoral da Igreja na Amazônia.

Os sonhos do Papa (um para cada um dos quatro capítulos da exortação apostólica, ndr) sobre o social, a cultura e a ecologia são realmente uma denúncia profética e poética duríssima e maravilhosa contra o atual sistema socioeconômico, que não apenas devasta a floresta amazônica e seus habitantes, mas também está colocando em risco o futuro da humanidade que vive no planeta Terra, nossa única casa comum. Esses três sonhos são um grito dirigido a todos os homens e mulheres de boa vontade que não se deixam enganar por uma elite econômica e política mundial que, por uma cega ganância por lucros e poder, está destruindo o frágil equilíbrio ecológico do planeta. O Papa, retomando e aprofundando o apelo já lançado na encíclica Laudato Si', propõe a superação radical do paradigma socioeconômico neoliberal, imoral e suicida, propondo um paradigma de sobriedade e de uso respeitoso e compartilhado dos bens da Terra.

O quarto sonho, o pastoral, implica mudanças também significativas na estrutura interna da Igreja para encarnar-se na realidade amazônica e superar completamente uma presença que, junto com a mensagem evangélica da salvação, impôs também modalidades herdadas da época colonial. Por enquanto, o quarto sonho continua sendo mais sonho do que realidade em movimento.

O papa sabiamente relançou a discussão das escolhas pastorais necessárias para a responsabilidade das igrejas locais da grande Amazônia para que trabalhem juntas em busca de novas modalidades que deem à Igreja da Amazônia um rosto verdadeiramente amazônico.

Porque, como Igreja, é indispensável uma conversão, lendo os sinais dos tempos à luz da fé e reconhecendo que o Espírito Santo a chama a comprometer-se com os pobres e os excluídos do mundo e a se empenhar totalmente com a defesa da Terra, a nossa casa comum.

A exortação apostólica diz claramente que os laicos devem se tornar de fato protagonistas da missão. Mas somente superando a estrutura e a mentalidade clericais, que identificam no poder sagrado todo poder e responsabilidade na Igreja, será possível encontrar um espaço adequado para todos, começando pelas mulheres que, apesar de sua presença indispensável na vida da Igreja, continuam na realidade (a estar) à margem da praxe eclesial.

 

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