24 Janeiro 2020
Um bispo de origem cubana chega à prestigiada Arquidiocese da Filadélfia, uma das sedes mais importantes dos EUA, até hoje liderada por Dom Charles J. Chaput, o capuchinho considerado um dos mais conservadores de todo o país.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por La Stampa, 23-01-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Como novo arcebispo metropolitano, o papa nomeou Dom Nelson Jesus Perez, anteriormente pastor de Cleveland, primeiro bispo hispânico da região de Ohio, depois que Chaput apresentou a renúncia ao completar a idade canônica de 75 anos.
Para a Filadélfia, uma arquidiocese que conta com 200 paróquias e mais de 1,5 milhão de católicos dentre cerca de quatro milhões de habitantes, Francisco escolheu um prelado mais jovem (58 anos), nascido em Miami e criado em Nova Jersey, ordenado sacerdote justamente na Filadélfia, onde desempenhou vários encargos, de posições certamente mais moderadas do que o seu antecessor, desconhecido do grande público, mas muito amado na sua diocese. Isso pode ser entendido pelo tuíte divulgado pelo próprio Perez em sua conta oficial, no qual ele expressa a “alegria” com o novo cargo, mas, ao mesmo tempo, a “tristeza” por ter que deixar o povo de Cleveland.
A nomeação, que segue o rastro da eleição de novembro de Dom José Horacio Gómez, arcebispo de Los Angeles, hispânico imigrante do México, como presidente dos bispos estadunidenses, modifica alguns equilíbrios internos da Igreja dos EUA. Chaput era considerado uma das pontas de lança daquela ala “muscular” da USCCB (a Conferência dos Bispos dos Estados Unidos) que, predominante nos últimos anos, em mais de uma ocasião chegou a pontos de atrito com o atual pontificado.
Durante o duplo Sínodo sobre a família, Chaput se destacara pela oposição férrea a toda abertura relativa aos sacramentos aos divorciados e recasados, continuando a contestação também nos meses seguintes com notas e comentários públicos. Em agosto de 2018, depois de ter sido um dos primeiros bispos estadunidenses a publicar uma declaração de solidariedade ao ex-núncio Carlo Maria Viganò que pedia a renúncia de Bergoglio, o prelado informava que havia escrito ao papa para lhe pedir que cancelasse o Sínodo dedicado aos jovens, que seria celebrado no Vaticano em outubro do mesmo ano.
Uma declaração que havia provocado muito ruído, pois Chaput era o prelado eleito pelos bispos dos EUA como seu representante na cúpula. “Neste momento, os bispos absolutamente não teriam nenhuma credibilidade para abordar esse tema (dos jovens)”, explicava então o arcebispo, com uma clara referência ao escândalo dos abusos ocorrido nos EUA com a publicação do relatório da Pensilvânia.
O prelado também contestava o uso da palavra “LGBT” no Instrumentum laboris, o documento preparatório do Sínodo, e propunha que fosse cancelada a assembleia, para preparar outra dedicada à vida sacerdotal e à responsabilidade dos bispos. Tais reivindicações – nunca acolhidas – eram levantadas claramente por Chaput em um documento enviado ao jornal italiano Il Foglio.
De Chaput, também se recordam as batalhas pela negação da comunhão aos políticos católicos defensores do direito ao aborto, contra a legalização do casamento gay e das uniões civis. Foi isso que fez dele o paladino dos frontes conservadores da direita estadunidense – os mesmos dos quais parece chegar ciclicamente uma ameaça de “cisma” – que se queixavam do fato de Francisco nunca o ter criado cardeal, mesmo que a Filadélfia fosse tradicionalmente sede cardinalícia (mecanismo superado pelo pontífice desde os seus primeiros consistórios).
Através de sites e blogs e, em particular, de uma seção no site da arquidiocese, usada, na opinião de muitos, quase como um blog pessoal, Chaput também criticou publicamente os ensinamentos do padre James Martin, o jesuíta conhecido pela promoção de uma pastoral para os católicos homossexuais. Crítica que, no entanto, nunca se transformou em confronto, mas sim em um “diálogo cordial”, como o próprio Martin ressalta em um tuíte, elogiando a obra do capuchinho por ter levado a Igreja da Filadélfia a uma base sólida do ponto de vista financeiro.
Chaput pôs ordem em uma região em caos do ponto de vista econômico e espiritual, devido aos contínuos escândalos de abuso de menores por parte do clero e aos seus encobrimentos. Depois de ter sido nomeado por Bento XVI para liderar a arquidiocese, ele removeu os sacerdotes acusados de pedofilia, fechou 49 escolas e vendeu a mansão arquiepiscopal por cerca de uma dezena de milhões de dólares, como parte de um plano para reduzir os déficits orçamentários.
É nesse cenário que Dom Perez assume. Até agora, o bispo, presidente da Comissão para a Diversidade Cultural na Igreja, manteve um perfil baixo do ponto de vista midiático, exceto por algumas declarações críticas contra a política de Donald Trump de separação das famílias migrantes e o apelo à Igreja para acompanhar os refugiados “muito além do apoio espiritual”.
A passagem de bastão é selada pelas palavras do próprio Chaput, publicadas em sua página no Facebook: “Não posso pensar em um sucessor melhor para guiar esta arquidiocese”. Perez “já é conhecido e amado pelos nossos sacerdotes e pelo nosso povo”, e a sua nomeação é um “momento de grande alegria” para os católicos da Filadélfia.
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EUA: Filadélfia tem novo arcebispo de origem cubana. Ultraconservador Chaput sai de cena - Instituto Humanitas Unisinos - IHU