06 Janeiro 2020
"No discurso do papa Francisco à Cúria Romana, há uma frase que não é nova, mas que soa como o grito que encerra uma inteira história e se abre para uma história nova e completamente diferente: 'Já não estamos mais, irmãos e irmãs, na cristandade, não mais!'. A fé não é mais um pressuposto óbvio da vida habitual, aliás, é exatamente o contrário. Portanto, tudo depende do testemunho da fé, e não do seu "depósito", como deve ser a primeira a entender a Congregação "para a doutrina da fé" e aquela "para a evangelização dos povos", incluindo os povos que passavam por já terem sido evangelizados", escreve Raniero La Valle, jornalista e ex-senador italiano, em artigo publicado por Chiesa di Tutti, Chiesa dei Poveri, 24-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Para Raniero La Valle, o discurso do papa é "epocal".
O discurso do Papa Francisco à Cúria, que poderia ser chamado “epocal”, no sentido de uma passagem de uma época para outra que a Igreja não pode enfrentar apenas fingindo mudar à maneira de Il Gattopardo, que Francisco evoca como uma advertência. O discurso de 21 de dezembro não é como os outros discursos à Cúria para corrigir seus erros e permitir a reforma. É o discurso da reforma da Igreja, mas tão profunda que parte do evento originário de Deus que "tomou um corpo humano e o fez próprio para todo o sempre", de acordo com as palavras muito realistas do místico egípcio moderno Matta el Meskin citadas pelo papa, e vai até o questionamento dramático do cardeal Suhard antes do Concílio, se estariam na época da "Agonia da Igreja", até o lamento do cardeal Martini sobre uma igreja atrasada de dois séculos, até a virada do Concílio Vaticano II e ao anúncio arrebatador do Deus da misericórdia, não violento e tão justo a ponto de não descartar ninguém do Papa Bergoglio.
No discurso, há uma frase que não é nova, mas que soa como o grito que encerra uma inteira história e se abre para uma história nova e completamente diferente: "Já não estamos mais, irmãos e irmãs, na cristandade, não mais!". A fé não é mais um pressuposto óbvio da vida habitual, aliás, é exatamente o contrário. Portanto, tudo depende do testemunho da fé, e não do seu "depósito", como deve ser a primeira a entender a Congregação "para a doutrina da fé" e aquela "para a evangelização dos povos", incluindo os povos que passavam por já terem sido evangelizados.
Mas a situação diz respeito ainda mais ao novo Dicastério para o desenvolvimento humano integral, porque a integralidade do desenvolvimento não significa dizer apenas que, muito além do econômico, todo o homem deve ser promovido, mas que devem ser promovidos todos os homens, todos os homens e as mulheres, todos integralmente humanos. Porque a novidade é esta (talvez a maravilhosa heresia pela qual acusam o Papa Francisco) de que "a humanidade é o emblema distintivo com a qual deve ser lida a reforma (da Igreja)". A integralidade é de fato que "a humanidade nos une como filhos de um único Pai", "a humanidade chama, desafia e provoca, isto é, chama para sair e não temer a mudança".
Então, saiamos nós também: a humanidade fragmentada e dividida, também por causa das más representações de Deus, deve e pode se tornar uma só coisa.
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O “emblema” da reforma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU