02 Dezembro 2019
De acordo com a Polícia Militar, policiais usaram “munição química” para dispersar multidão que, supostamente, atacaram os PMs com latas e garrafas.
A reportagem é de Kaique Dalapola, Juca Guimarães e Daniel Arroyo, publicada por Ponte, 01-11-2019.
Uma ação da Polícia Militar no Baile da 17, um dos mais conhecidos de São Paulo e realizado na favela do Paraisópolis, zona sul, terminou com nove pessoas mortas na madrugada deste domingo (1/12).
Denys foi uma das vítimas pisoteadas em baile funk. (Foto: Reprodução)
De acordo com a PM, policiais da Rocam (Ronda Ostensiva com Apoio de Motocicletas) entraram na comunidade durante uma perseguição a homens armados fugindo com motocicletas. A versão oficial também diz que os suspeitos atiraram contra a polícia.
Um morador da comunidade que estava no baile funk disse que “essa foi uma das piores” ações da PM na favela. Segundo ele, “a 17 [rua onde acontece o baile funk] é bem concentrada em uma rua encruzilhada, e eles [PMs] chegaram pelas quatro ruas, por isso não tinha para onde correr”.
O morador contou que tinha “viatura para todo canto”. Em outros bailes, a única opção usada pelos frequentadores de escapar das ações truculentas da PM, segundo o morador, “sempre foram as vielas, mas desta vez os policiais desceram e foram atrás”.
O jovem ainda disse que os policiais militares sempre dispersaram o baile funk da região “com muita opressão, mas nunca foram atrás das pessoas para esculachar”.
Conforme os primeiros registros sobre as mortes no 89º DP (Portal do Morumbi), quando os PMs entraram na comunidade usaram “munições químicas” para dispersar o baile funk. Os frequentadores teriam atirado garrafas e latas nos PMs, o que teria iniciado a confusão.
Por meio de nota, a União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis disse que o Baile da 17 sofre ações policiais com frequência, mas “nesta madrugada, jovens foram encurralados em becos e vielas e foram levados a caminho da morte, e quem deveria proteger está gerando mais violência”.
A organização dos moradores e comerciantes ainda diz que “não foi acidente” a ocorrência com mortes.
“Não aceitaremos calados, exigimos justiça com a punição dos culpados. Paraisópolis e as comunidades precisam de ações sociais para enfrentar suas dificuldades. Mais do que remediar, precisamos prevenir. Chega de violência, queremos paz”, diz a nota.
Vídeos obtidos pela reportagem mostram policiais militares no meio de uma das ruas da favela agredindo indiscriminadamente as pessoas que tentavam deixar o Baile da 17.
Dos vídeos a que a reportagem teve acesso, nenhum registra ataques contra os policiais.
Vídeo mostra PM chutando e pisando frequentador do baile da Dz7, na favela do Paraisópolis (zs), em ação que terminou com 8 pessoas mortas supostamente pisoteadas pela multidão. E aí, @jdoriajr e comando da @PMESP, qual a explicação? pic.twitter.com/yg0ouMlsAr
— Kaique Dalapola (@KaiqueDalapola) December 1, 2019
8 pessoas morrem pisoteadas na favela de Paraisópolis, zona sul de SP, durante um baile funk nesta madrugada. Elas foram feridas quando a multidão de 5 mil pessoas se assustou e tentou fugir de tiros disparados por PMs, em motocicletas e perseguindo supostos ladrões de moto. pic.twitter.com/TeckARVvVD
— André Caramante (@andrecaramante) December 1, 2019
O porta-voz da Polícia Militar, tenente-coronel Emerson Massera, disse que diversos vídeos estão sendo acrescentados no inquérito policial militar instaurado para apurar a ocorrência, e as imagens apontam abusos de policiais militares. No entanto, ele diz que precisa verificar ainda se os vídeos corresponde à ação desta madrugada.
Uma das vítimas da é Denys Henrique, que faria 17 anos neste mês de dezembro. Ele era morador do bairro do Limão, na zona norte paulistana, e gostava de frequentar bailes funk nos finais de semana.
Segundo a mãe dele, que estava na porta do Hospital do Campo Limpo, essa foi a primeira vez que Denis foi ao Baile da 17, já que costumava frequentar os mais próximos da casa dele. “Ele não soube se defender”.
Para o advogado Ariel de Castro Alves, membro do Condepe (Conselho Estadual de Direitos Humanos), “aparentemente, foi uma ação desastrosa da PM que gerou tumulto e mortes”.
De acordo com o ouvidor de polícia de São Paulo, Benedito Mariano, “toda intervenção em bailes funk tem que chegar antes, [porque] intervir onde tem 5 mil pessoas na rua o conflito é inerente”. Mariano disse ainda que entrou em contato com a Corregedoria da PM e pediu para que o caso não seja apurado pelo batalhão da área, como normalmente costuma acontecer.
Por meio de nota oficial, a Secretaria Municipal da Saúde informou que 20 pessoas deram entrada em unidades de saúde da rede municipal. A Ama Paraisópolis atendeu 12 pessoas, e duas delas foram transferidas para o Hospital do Campo Limpo. A UPA e o Pronto Socorro do Campo Limpo receberam outras oito pessoas que chegaram a ser atendidas, mas foram a óbito. Das duas pessoas transferidas da AMA Paraisópolis, apenas uma continua internada no Hospital do Campo Limpo. A outra deixou a Unidade acompanhada de familiares.
Já a Secretaria Estadual de Saúde disse não ter conhecimento de atendimento às vítimas da ação em Paraisópolis em suas unidades.
No Twitter, o governador do Estado de São Paulo, João Doria (PSDB), disse que “lamenta profundamente” as mortes em Paraisópolis. Ele também afirmou que “determinou ao Secretário de Segurança Pública, General Campos, apuração rigorosa dos fatos para esclarecer quais foram as circunstâncias e responsabilidades deste triste episódio”.
Em entrevista à Ponte, o delegado do 89º DP Emiliano da C. Neto disse que seis policiais militares da Rocam participaram da perseguição aos motociclistas. Os suspeitos teriam entrado no meio do baile, então, teria iniciado a confusão. Os seis PMs já foram ouvidos pela Polícia Civil.
Ainda de acordo com o delegado, uma das vítimas internadas pode ter sido vítima de disparo de arma de fogo. Emiliano afirmam que o inquérito policial deve “verificar se há intencionalidade ou responsabilidades [dos policiais] nas nove mortes”.
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Ação da PM no baile funk da favela Paraisópolis deixa 9 mortos pisoteados em SP - Instituto Humanitas Unisinos - IHU