19 Novembro 2019
O equivalente a secretário das Relações Exteriores do Vaticano urgiu que católicos e anglicanos deixem de lado as diferenças em vistas de um bem maior.
A reportagem é de Ruth Gledhill, publicada por The Tablet, 18-11-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Apesar das diferenças, católicos e anglicanos deveriam trabalhar juntos como um “imperativo moral” para promover o Reino de Deus, disse o equivalente a secretário das Relações Exteriores do Vaticano.
Dom Paul Gallagher, secretário para as Relações com os Estados do Vaticano, falou que, apesar de deficiências e “bagagens históricas”, anglicanos e católicos deveriam incentivar uns aos outros, fortalecendo-se e confirmando-se em tudo o que fazem para a “cura” das feridas do mundo.
O religioso fez este e outros comentários em sua homilia na Igreja de Santo Inácio, em Roma, em cerimônia para encomendar o Arcebispo Ian Ernest, ex-bispo das Ilhas Maurício e primaz da Igreja Anglicana do Oceano Índico, como o novo diretor do Centro Anglicano em Roma.
Gallagher falou:
“Não é preciso eu dizer que o mundo, hoje, enfrenta uma série de desafios sem precedentes em todas as frentes, onde continente algum está excluído e onde escasseiam portos seguros. Alguns acabaram enxergando o movimento ecumênico como uma questão da Igreja, quase um assunto cristão interno, no qual a nossa unidade será o motor para o crescimento ou mesmo de sobrevivência da Igreja de Cristo.
“Visto tudo o que enfrentamos hoje, visto a urgência e a precariedade da nossa situação, eu diria que o envolvimento ecumênico é um imperativo moral para todos nós que somos batizados em nome da Santíssima Trindade. Devemos atuar juntos como um Corpo de Cristo, não porque seja agradável ou aconchegante, mas porque precisamos em resposta às necessidades prementes da humanidade”.
Em referência à época em que serviu na Nunciatura Apostólica em Bujumbura, capital de Burundi, o religioso disse:
“Lembro de uma cena de grande paz e serenidade, quase paradisíaca, mas agora, enquanto uma análise mais próxima revela uma realidade de sofrimento, a região enfrenta graves problemas políticos, que têm provocado uma grande dor. Estes conflitos nos desafiam, mas também são facilmente ignorados em meio a tantas outras questões que a comunidade internacional enfrenta atualmente”.
“Inevitavelmente”, continua o líder católico, “nós nos perguntamos como os cristãos podem responder a estes problemas. O que temos a oferecer? Que incentivo podemos dar àqueles ao redor do mundo que enfrentam situações que desafiam alguma resolução, a sabedoria popular e o senso comum? O que dizemos e fazemos nestes tempos de perigo?”
Gallagher conheceu o Arcebispo de Canterbury, Justin Welby, quem encomendou Ernest, em Bujumbura quando o clérigo da Igreja da Inglaterra trabalhava como cônego de uma catedral local em vista da paz e reconciliação nos países francófonos do continente.
Gallagher lembrou: “Hoje, temos ciência das nossas limitações, imperfeições e falhas, e também dos nossos pecados históricos e atuais. No entanto, existe o perigo de acabarmos presos em nossas próprias inadequações, de ficarmos paralisados e sermos incapazes de agir ou reagir, e existe o perigo de cedermos ao pensamento de que os outros são mais capazes de realizar as tarefas, quem sabe até de que o nosso momento já passou, e que devemos deixar as coisas para outras pessoas com visões e ideias novas. Mas, ao pensar assim, corremos o perigo de não mais anunciar a Cristo, o poder inspirador de sua Palavra viva e de sua graça, nem aqueles dons do Espírito Santo de Deus, que renovam e curam”.
As relações entre as duas igrejas não precisam ser conflituosas. “Olhando de volta para a África, é verdade que aí, e em outros lugares, as nossas relações muitas vezes foram marcadas por uma rivalidade denominacional, mas nem sempre. Na África oriental e central, os anglicanos e católicos têm orgulho do testemunho e do legado dos Mártires Ugandenses, e recentemente nos esforçamos para trabalhar juntos sempre que possível”.
Na semana passada, o Papa Francisco anunciou que visitará o Sudão do Sul em 2020. Após uma audiência privada entre o papa e Welby na Casa Santa Marta, no Vaticano, e antes da cerimônia acima referida, ficou confirmado que Welby irá se juntar ao pontífice em sua viagem, conforme já era esperado. A visita deverá incluir Salva Kiir e Riek Machar, lideranças de lados opostos na guerra civil no país.
Gallagher disse na homilia: “O Santo Padre e o arcebispo anglicano nutrem a esperança de poderem atuar juntos para o bem do povo do Sudão do Sul. Fazendo assim, damos continuidade ao princípio do ministério e do testemunho comuns abraçado em Liverpool pelo Bispo David Shepherd e por Dom Derek Worlock, resumido no título do livro publicado por eles: ‘Better Together’ (Melhor juntos)”.
Lideranças anglicanas e de outras denominações cristãs da Inglaterra, dos EUA, da Itália e das Ilhas Maurício estiveram presentes na cerimônia, que contou com a presença também de diplomatas e apoiadores locais do Centro Anglicano, em Roma. A embaixadora inglesa à Santa Sé, Sally Axworthy, participou das intercessões, que incluíram orações pela paz no Sudão do Sul. O administrador eclesiástico da Diocese das Ilhas Maurício, Sténio André, fez a leitura de uma lição do Antigo Testamento.
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Católicos e anglicanos - Trabalhar juntos para bem da humanidade, diz secretário do Vaticano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU