06 Junho 2017
Papa Francisco cumprimenta o arcebispo anglicano Bernard Ntahoturi, juntamente com o extrovertido diretor do Centro Anglicano de Roma, o Arcebispo David Moxon - RV
O novo representante do arcebispo de Canterbury para a Santa Sé, o Arcebispo Bernard Ntahoturi, de Burundi, diz que sua nomeação ajudará os anglicanos e os católicos a se aproximarem para trabalhar questões fundamentais de reconciliação, pobreza e tráfico de pessoas.
A informação é publicada por Radio Vaticano, 02-06-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
O arcebispo, que também atuará como diretor do Centro Anglicano de Roma, diz que sua experiência na prisão, após um golpe militar em Burundi, ensinou-lhe humildade e outras lições valiosas sobre a responsabilidade dos líderes religiosos.
Ntahoturi atuou como chefe de gabinete do ex-presidente de Burundi, Jean-Baptiste Bagaza, de 1979 a 1986. Após a queda do governo em 1987, ele passou quase quatro anos na prisão.
Depois de ser consagrado bispo da Diocese de Matana e, mais tarde, ter atuado como líder da Igreja Anglicana de Burundi por mais de uma década, Ntahoturi desempenhou um papel fundamental nos esforços locais e regionais de promoção da paz. Ele também é internacionalmente conhecido por seu trabalho ecumênico, atuando no comitê central da Conselho Mundial de Igrejas.
Nos últimos 10 dias, o arcebispo Bernard esteve em Roma, encontrando o Papa Francisco e autoridades do Vaticano antes do início de seu novo emprego no outono. Philippa Hitchen encontrou-o para descobrir mais sobre as experiências que já viveu e como elas podem ajudá-lo nos desafios que estão por vir...
O arcebispo Bernard homenageia o trabalho de seu antecessor, o arcebispo da Nova Zelândia, David Moxon, e diz estar grato pelo encontro - inesperado - com o Papa Francisco durante a audiência geral da quarta-feira. Ele diz que achou o Santo Padre "muito bem informado" sobre sua nomeação e que está aguardando ansiosamente pelo próximo encontro em outubro, quando será possível "explicar minha missão e receber sua benção".
A principal missão do Centro Anglicano, segundo ele, é o trabalho de "aproximar" ou de unir os católicos romanos e os anglicanos que juntos somam quase um bilhão e meio de fiéis. "É uma população que pode fazer a diferença no mundo", diz ele, acrescentando que o principal objetivo é "dar um testemunho a um mundo dividido" em resposta à oração de Jesus "para que eles sejam um, para que o mundo creia".
Sua nomeação para diretor africano do Centro Anglicano é um reconhecimento do crescimento das igrejas na África, além de um forte sinal da universalidade da Igreja. Em segundo lugar, ele diz, transmite a mensagem de que "estaremos concentrados e focados em alguns dos problemas e desafios que temos na África", principalmente a reconciliação, a resolução de conflitos, a pobreza e o tráfico de seres humanos, em que católicos e anglicanos podem se unir para denunciar esses males do século".
Discutindo o trabalho já desenvolvido em prol da paz e da reconciliação, o Arcebispo Bernard observa seu papel como presidente do conselho de todas as províncias africanas, bem como suas responsabilidades como vice-presidente da comissão sobre a verdade e a reconciliação de Burundi. Reconciliação é uma palavra que todas as pessoas religiosas devem levar a sério, diz ele, pois ela "fala com seus corações". Nossa responsabilidade, segundo o arcebispo, é "reunir as pessoas para enxergar o outro não como o mal, o demônio, porque existe demonização, mas como alguém criado por Deus".
O líder anglicano diz que sua experiência anterior em Burundi não compromete seu papel, pelo contrário, contribui para uma maior compreensão do comportamento humano. Falando sobre o período em que atuou no gabinete do ex-presidente Bagaza, ele diz que pessoas próximas ao líder militar alertaram que "conflitos não levam a nada", mas ele acrescenta que Bagaza tinha suas próprias convicções pessoais e sua "luta pelo poder". Ele diz que esses anos ensinaram que "não se pode ignorar o papel [...] e a presença da Igreja, especialmente na África, onde as pessoas são profundamente religiosas", uma lição que ajudará "no trabalho que estou realizando aqui".
Seu período na prisão, após o golpe em seu país, "me ensinou a ter humildade" e que "é preciso estar preparado para as mudanças", diz ele.
Perguntado sobre o desejo do Papa Francisco e do Arcebispo Justin Welby de visitar o Sudão do Sul juntos, ele diz que se os dois líderes religiosos puderem ir juntos, "será uma grande contribuição para o processo de paz". Mas ele acrescenta que eles "deveriam fazer essa visita depois que as negociações inclusivas começarem".
Comentando sobre opiniões divergentes no mundo anglicano, o Arcebispo Bernard diz que "Jesus Cristo rezou pela unidade na Igreja, e não pela uniformidade". No 500º aniversário da Reforma este ano, comenta, não estamos celebrando divisões, mas sim lembrando o que aconteceu, e "devemos estar conscientes das divisões" da Igreja de Cristo hoje. Assim como os cristãos do século I lidaram com suas diferenças através do diálogo, "devemos aprender com a Igreja primitiva", conclui ele, e não dividir a Igreja, mas continuar "caminhando juntos".
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Papa Francisco encontra novo chefe do Centro Anglicano de Roma - Instituto Humanitas Unisinos - IHU