19 Novembro 2019
Com aumento de 30%, dados comprovam tendência que vinha sendo apontada pelo Deter.
A reportagem é publicada por Greenpeace Brasil, 18-11-2019.
O desmatamento da Amazônia atingiu 9.762 km², entre agosto de 2018 e julho de 2019. O número representa um aumento de 30% em relação ao período anterior, segundo dados do Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe) divulgados hoje, em São José dos Campos, pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
A área de floresta destruída equivale a 1,4 milhão de campos de futebol ou seis vezes a cidade de São Paulo. Os estados de Roraima (216%), Acre (55%) e Pará (41%) registraram os maiores percentuais de aumento, e o Pará liderou com a maior área desmatada (3.862 km²) no período.
“A combinação de altas taxas de desmatamento com a falta de governança sacrifica vidas, coloca o país na contramão da luta contra as mudanças climáticas e traz prejuízos à economia, uma vez que o mercado internacional não quer comprar produtos contaminados por destruição ambiental e violência”, afirma Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace.
O Brasil alcançou resultados expressivos no combate ao desmatamento no passado. Em 2004 o desmatamento da Amazônia atingiu um dos maiores níveis da história, chegando a 27.7 mil km². Mas ações do poder público, aliadas à atuação de organizações não governamentais e do setor privado, ajudaram a reverter este cenário e, pouco menos de uma década depois, atingimos a menor taxa desde o início da série. Mas a destruição voltou a subir e, este ano, assistimos a um desmonte sem precedentes das políticas ambientais construídas ao longo dos anos.
“Estamos colhendo o que o governo plantou desde a campanha eleitoral. O projeto antiambiental de Bolsonaro sucateou a capacidade de combater o desmatamento, favorece quem pratica crime ambiental e estimula a violência contra os povos da floresta. Seu governo está jogando no lixo praticamente todo o trabalho realizado nas últimas décadas pela proteção do meio ambiente”, diz Cristiane Mazzetti, da campanha Amazônia do Greenpeace.
Em 2019, 22% das operações de fiscalização planejadas pelo Ibama foram cortadas. Em abril foi criado o Núcleo de Conciliação Ambiental, que visa “aliviar” as dívidas de desmatadores ilegais, enquanto o orçamento do Ibama foi cortado em 24% e o de combate ao fogo em 38%, dentre outros retrocessos.
O desmatamento e invasões em áreas protegidas também vem aumentando, e enquanto Bolsonaro se coloca claramente contrário ao reconhecimento dos direitos indígenas, mais sangue é derramado. No início de novembro, Paulo Paulino Guajajara, guardião da floresta, foi assassinado em uma emboscada preparada por madeireiros.
Em agosto deste ano, diante da enorme repercussão mundial devido ao aumento das de queimadas e dos alertas de desmatamento por toda a Amazônia, Bolsonaro exonerou o renomado físico Ricardo Galvão da direção do Inpe, colocando em dúvida os dados da instituição. Contra fatos, entretanto, não há argumentos, e o Prodes acaba de confirmar a tendência apontada pelos dados da instituição.
E, para além da taxa publicada hoje, que mediu a perda de florestas até o mês de julho, a tendência apontada pelo Deter é que o desmatamento continua subindo. Segundo os dados, de agosto a outubro, os três primeiros meses que compõem o próximo período Prodes, houve um aumento de cerca de 100% da área com alertas de desmatamento na comparação com o mesmo período de 2018.
O governo foi omisso e irresponsável quando decidiu ignorar os alertas do Deter, ao invés de agir, e o que vemos agora é resultado desta deliberada falta de ação. Mas não podemos permitir que a curva do desmatamento continue subindo.
O desmonte das políticas ambientais e o aumento do desmatamento não afetam apenas as populações que vivem na floresta, mas também a reputação do país no mercado internacional. Este ano, no auge da temporada de fogo e diante a inação do governo em combatê-lo, diversas empresas anunciaram a suspensão de compra de produtos brasileiros e lideranças internacionais apresentaram resistência em aprovar o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul. O mercado internacional, do qual a economia do Brasil depende, já não quer mais ter participação no desmatamento e em violações de direitos humanos.
Precisamos reverter imediatamente o desmonte ambiental em curso e exigir um plano efetivo de combate ao desmatamento. As empresas que compram produtos como soja e gado do Brasil também devem se posicionar contra essa política antiambiental desastrosa de Bolsonaro, além de acelerarem seus esforços para retirar completamente o desmatamento de suas cadeias produtivas
O fato é que vivemos uma emergência climática, onde fazer o mínimo já não é suficiente. Neste momento precisamos de mais ambição e não uma volta ao passado, como Bolsonaro vem trabalhando duro para fazer. Infelizmente, temos hoje um presidente que age contra o meio ambiente e as nossas florestas. Cabe agora aos brasileiros defendê-las.
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Desmatamento da Amazônia tem 3ª maior alta percentual da história - Instituto Humanitas Unisinos - IHU