23 Outubro 2019
O Sínodo da Amazônia abriu as portas para pessoas que tempo atrás nunca pensaram em participar de algo semelhante. A presença de uma mulher indígena, há várias que estão na aula sinodal, parecia algo muito utópico. Gloria Grefa é da nacionalidade Kichwa do Equador e, durante o Sínodo, participou dos debates da assembleia, onde muitos destacam a força e profecia das mulheres indígenas.
A entrevista é de Luis Miguel Modino.
A indígena da província de Napo vê o Sínodo como um momento em que “cada um de nós é pela mesma causa, que todos nós estamos unidos” e, juntamente com isso, “a acolhida do Papa Francisco aos povos”, um apoio que os povos retribuem ao bispo de Roma, porque "agora percebemos que não estamos sozinhos".
Mapa do Equador. (Reprodução: Wikipédia)
Gloria insiste na necessidade de conscientizar, de agir, de evitar conflitos e de se unir. Acima de tudo, ela vê como algo fundamental o seguimento do que sair do Sínodo e que seja cumprido.
Para alguém que não está acostumada a esses eventos, no Vaticano, o que mais a impressionou nessas mais de duas semanas do Sínodo?
Para mim, é minha primeira vez aqui em Roma, e participar do Sínodo da Amazônia, ver todos os povos, nacionalidades, ver os bispos, as consagradas, os leigos, ver todos unidos, tive a impressão de que cada um de nós é pela mesma causa, que estamos todos unidos. Então, vê-los estar lá, como as mulheres tentaram se envolver em muitas questões.
Houve muitas intervenções nas quais se falou muito de que as mulheres deveriam ser integradas à Igreja e também fora dela, incentivando-as em muitos assuntos da Igreja. Isso me impressionou ao ver a unidade e a acolhida do Papa Francisco aos povos. Sentimos que está conosco, que nos apoia. Fico feliz em saber que temos esse grande apoio e dizer ao Papa Francisco, como muitos colegas disseram, que ele não está sozinho, que ele nos tem junto com ele para apoiá-lo.
A figura do Papa Francisco é tão importante para você, povos indígenas?
Sim, é importante para nós, porque antes pensávamos que nessa luta estávamos sozinhos. Mas agora percebemos que não estamos sozinhos.
Nesse sentido, você acredita que a força de alguém que é considerado uma das maiores autoridades morais do mundo pode ajudar os povos indígenas a conscientizar a sociedade da grande importância que os povos indígenas têm no futuro da Amazônia e do planeta?
É claro que sim, aumentando a conscientização entre nosso povo. Porque se não tomarmos consciência a tempo, o que acontecerá com nossa Pachamama, nossas selvas, nossa terra, o que será se não começarmos a trabalhar agora? É hora de agir.
O que dizer aos que se opõem ao Sínodo e se opõem ao papel que a Igreja está tentando desempenhar em defesa dos povos indígenas?
Bem, eu diria a eles que é melhor não procurar conflitos, é melhor nos apoiar, é melhor nos unir.
O que você leva de volta para o seu povo, para a sua comunidade, após este Sínodo?
Quando tivermos o documento final, que cada um de nós disse nossas propostas, depois de tudo isso, temos que dar, notificar, informar em nossos territórios, em nossas comunidades e acompanhar para que tudo o que foi dito, tudo o que foi apresentado aqui no Sínodo, seja acompanhado e seja cumprido.
Quem deve cumprir, a Igreja, os governos a sociedade?
Que seja cumprido, que o documento que foi feito aqui seja cumprido, e o sigamos através do Papa Francisco, através de nossos bispos, que estão mais próximos, para que isso seja cumprido.
O governo equatoriano está em sério conflito, principalmente com os povos indígenas, fazendo acusações contra eles. O que você diria, como indígena, ao governo equatoriano neste momento?
Eu diria ao nosso presidente, Hatun Apu, que acho que ele tem algumas coisas para resolver dentro de casa, para que não fique tão confuso e que precisa nos apoiar. Que exista muito diálogo para que não estejamos nesse conflito, e sim primeiro consertando a casa.
Mapa da província de Napo, Equador. (Reprodução: Wikipédia)
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“Fiquei impressionada ao ver a acolhida do Papa Francisco aos povos”. Entrevista com Gloria Grefa, indígena kichwa do Equador - Instituto Humanitas Unisinos - IHU