Dom Felix Genn, membro da Congregação dos Bispos do Vaticano, defende o caminho sinodal alemão

Felix Genn, bispo de Münster. Foto: Harald Oppitz | KNA

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23 Setembro 2019

Felix Genn, bispo de Münster assegura que “a Igreja necessita uma nova estrutura de poder”

A reportagem é de Rosalía Sánchez, publicada por ABC, 21-09-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

O bispo de Münster e já há seis anos membro da Congregação dos Bispos do Vaticano, dom Felix Genn, defendeu nesse sábado publicamente o caminho sinodal” empreendido pela Conferência Episcopal Alemã e chama a Igreja a uma revisão das suas estruturas de poder. “Como bispos alemães, não podemos encarregar um estudo sobre os abusos sexuais a menores no seio da Igreja, conhecer todos esses terríveis fatos e depois voltar ao dia a dia como se nada tivesse acontecido”, explica em uma entrevista concedida a Frankfurter Allgemeine Zeitung, o jornal conservador de referência na Alemanha.

“Temos que reunir o valor para tomar outra perspectiva, para colocar as vítimas em primeiro plano, e isso exige revisão das estruturas imanentes da Igreja que fizeram possíveis esses atos e que inclusive os ocultaram”, disse. Sua defesa do processo de dois anos de reflexão aberta pela Igreja alemã é especialmente relevante depois que, no último 4 de setembro, o cardeal Marc Ouellet, prefeito da Congregação dos Bispos do Vaticano, advertiu por carta os bispos alemães que eles não têm nenhum poder de decisão sobre assuntos que somente se abordariam a nível da Igreja universal, anotando que os processos de votação que os bispos estão pensando adotar não está em sintonia com o direito canônico.

Ele se referia à votação na qual serão apresentados quatro documentos que revisam a estrutura de poder da Igreja, o modo de vida dos padres, o papel das mulheres e a moral sexual da Igreja. Genn, o único bispo alemão e o único bispo comum desta congregação, admite que Ouellet não o consultou antes de enviar a carta e rejeita as críticas ao processo sinodal argumentando que “nenhum aprofundamento teológico machuca ninguém, especialmente a Igreja”. “Pelo contrário”, continua ele, “acredito que nossas deliberações e nossa construção de opinião serão úteis para a Igreja em muitos outros lugares do mundo". “Precisamos de outra estrutura de poder na Igreja”, diz Genn, afirmando que “estou disposto a renunciar ao poder” em favor dessa nova estrutura e “estou disposto a me submeter a conselhos nos quais os leigos têm maior poder de decisão”.

O bispo Genn ressalta, por exemplo, que “seria uma simplificação atribuir a explicação do abuso sexual a menores ao celibato, mas devemos nos perguntar: como o celibato, em certas pessoas e em certas constelações de grupos, é um fator de risco de abuso”. Já anteriormente, Genn havia escrito em uma carta à sua diocese sobre o desejo de usar mais experiência externa para resolver problemas importantes em todos os órgãos centrais da Igreja.

“O apoio profissional de especialistas externos é útil e alivia a pressão. Precisamos de uma igreja mais permeável, não de um sistema fechado”, defendeu. “Quero que na diocese de Münster não sejamos uma Igreja de proibições e mandamentos, mas uma Igreja que viva em relação com as pessoas e a relação com Jesus Cristo. Anunciamos as Boas Novas. Isso deve ser experimentado pelas pessoas na vida cotidiana; e como bispo, posso e quero abrir o espaço”.

O bispo também questionou a moral sexual atualmente levantada pela Igreja. “Uma moral sexual que muitos de nossos contemporâneos consideram limitar a vida e que, em última análise, é irrelevante para a vida, precisa aceitar questões críticas”, sugere ele. “As Boas Novas são uma mensagem que promove a beleza e a preciosidade da vida. Praticamente não temos discurso sobre sexualidade, infelizmente também sobre a proteção da vida do começo ao fim”, afirmou.

O prelado também defende o caminho sinodal adotado pela Igreja alemã. “Existe uma grande unidade na Igreja alemã em relação a esse caminho. Naturalmente, há quem não ache tudo correto, mas isso não significa tensão”, diz ele, garantindo um discurso “construtivo”: “Que a Igreja fosse um exemplo de cultura construtiva do debate, isso já seria algo!”, conclui.

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