23 Setembro 2019
Os convidados parecem estar alinhados com a ênfase que o Sínodo dos Bispos dará a temas ambientais e à espiritualidade indígena.
A reportagem é de Edward Pentin, publicada por National Catholic Register, 22-09-2019. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
O Papa Francisco pessoalmente convidou o Cardeal Sean O’Malley, de Boston, e Dom Robert McElroy, de San Diego, bem como o ex-secretário-geral das Nações Unidas Ban Ki-moon para participar do Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia no próximo mês, segundo a lista completa dos participantes publicada sábado, 21 de setembro, pelo Vaticano.
Os dois prelados americanos estão entre os 185 membros convidados para o evento de 6 a 27 de outubro, cujos outros participantes incluem os bispos da região amazônica, superiores religiosos, especialistas, delgados fraternos e chefes de departamentos vaticanos.
O’Malley, membro do Conselho dos Cardeais e presidente da Pontifícia Comissão para a Tutela dos Menores, tem um forte interesse na América Latina e fala fluentemente o espanhol.
McElroy é um destacado defensor do combate às mudanças climáticas, tendo dito em julho passado que esta causa deveria ser uma “prioridade central” da Igreja nos EUA. O Sínodo, cujo tema é “Novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”, deverá focar suas atenções sobre temas ambientais.
Um terceiro bispo americano, o Cardeal Kevin Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida, também participará, bem como os chefes dos departamentos vaticanos, entre eles o Cardeal Luis Ladaria, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, e o Cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino.
Ban Ki-moon é um acréscimo polêmico à lista de participantes. O diplomata sul-coreano estabeleceu uma primeira aliança com o Vaticano em 2015 quando, como secretário-geral da ONU, participou de um congresso sobre mudança climática e humanidade sustentável na Pontifícia Academia de Ciências.
Apesar da geralmente radical pauta da ONU pró-abortista e secularista, a nomeação de Ban como convidado especial ajuda a destacar a forte orientação da Santa Sé junto às Nações Unidas e aos seus objetivos, em particular na questão do meio ambiente, que ganhou ênfase neste pontificado. René Castro Salazar, cidadão americano que trabalha como diretor-geral assistente do departamento de clima e biodiversidade da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, igualmente se fará presente no encontro em Roma.
No começo deste mês, o Papa Francisco disse, no contexto de uma resolução não vinculante da ONU relativa a uma disputa territorial na Mauritânia, que os fiéis deveriam obedecer instituições internacionais como a ONU. “Se somos uma humanidade, deveríamos obedecer”, disse ele. E os organizadores do sínodo disseram que a Igreja busca “acompanhar” os povos amazônicos “em diferentes esferas internacionais e regionais do sistema das Nações Unidas, para que possam apresentar as situações particulares que os afetam”.
Outros participantes do Sínodo dos Bispos anunciados sábado inclui Jeffrey Sachs, economista americano não católico. Embora diga “gostar do ensino social da Igreja”, Sachs é conhecido por defender o controle populacional e o aborto. Participante de congressos no Vaticano desde 1999, acredita-se que o economista colaborou na encíclica ambiental do Papa Francisco de 2015, Laudato Si’, documento que forma o contexto mais amplo do presente sínodo. Também participará o professor alemão de climatologia Hans Schellnhuber, ateu que também se envolveu na escrita de Laudato Si’.
A lista dos participantes do Sínodo dos Bispos ainda revela a influência significativa que a Igreja alemã deverá ter no encontro. Assim como o papa escolheu pessoalmente o Cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos Alemães, para participar, ele também convidou os representantes das duas grandes agências de cooperação da Igreja alemã, a Misereor e a Adveniat.
Uma investigação feita pelo sítio National Catholic Register nos últimos meses revelou que as duas agências citadas deram significativas contribuições financeiras e outras em preparação para o Sínodo, em particular para a Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM. Elas também têm planos ambiciosos para a assembleia dos bispos deste ano, na espera de que as suas conclusões estendam-se para além da região amazônica.
Em nota conjunta sobre a tradução alemã do documento de trabalho do sínodo em julho, o Mons. Permin Spiegel, diretor-geral da Misereor, e o Pe. Miguel Heinz, presidente da Adveniat, disseram que o sínodo seria um “sinal de partida inconfundível” para a Igreja e que teria “uma significação católica em nível mundial”. O documento de trabalho do sínodo, acrescentaram, convida para uma “transformação profunda na Igreja”.
Em entrevista dada em 25 de julho à Dom Radio, Spiegel afirmou que “será animador observar” se o papa estará “disposto a caminhar junto” com as propostas do sínodo sobre os viri probati (ordenação de homens casados para levar a Eucaristia a áreas remotas) e sobre o diaconato feminino, e se tais mudanças “terão repercussões para nós aqui na Alemanha”.
Igualmente listado como especialista para o Sínodo dos Bispos está o Pe. Eleazar López Hernández, teólogo da libertação mexicano considerado o “parteiro” da teologia índia. A Congregação para a Doutrina da Fé já o advertiu sobre os seus escritos, e o Cardeal Joseph Ratzinger comentou, em 1996 – supostamente tendo o Pe. López Hernández em mente –, que tal teologia era regressiva e desejava “deixar o cristianismo de lado (...) como se o Evangelho tivesse sido opressor”.
Em 2012, López Hernández escreveu que tais teologias indígenas “não empregam uma linguagem discursiva ou filosófica, mas uma linguagem mítico-simbólica” e que “toda a teologia católica deveria ser assim porque Deus não pode ser objetificado como os demais objetos de conhecimento e ciência.
Uma outra nomeação polêmica, embora esperada já que tem sido uma figura-chave por trás do sínodo e em sua preparação, é a do Pe. Paulo Suess. Em entrevista dada em 2014, Suess, alemão de nascença, hoje com 81 anos, especialista em teologia da inculturação dos povos indígenas da Amazônia, declarou que “podemos descobrir a Revelação de Deus entre estes povos indígenas” – posição que também aparece no documento de trabalho e que foi duramente criticado.
Membro do grupo Ameríndia que defende e promove a teologia da libertação, Paulo Suess trabalhou por muitos anos no Brasil com Dom Erwin Kräutler, bispo emérito do Xingu, também figura central por trás do sínodo amazônico e que igualmente participará de suas sessões.
Apesar de o sínodo amazônico ser extensivamente sobre evangelização, a conversão de indígenas não parece estar no alto da agenda destes religiosos. Em 2014, Suess disse que, ao invés da evangelização, o “princípio da vida era o mais importante” para os indígenas e para isso “eles precisam de terra e se fortalecer em suas identidades”. Kräutler, membro do Conselho Pré-Sinodal e importante autor do bastante criticado documento de trabalho, certa vez se vangloriou de que “nunca batizei um indígena” e que “não tenho a intenção de fazer isso”.
Assim como o Cardeal Marx, o papa pessoalmente escolheu para participar o Cardeal Christoph Schönborn, arcebispo de Viena, e dois prelados envolvidos em polêmicas: Dom Vincenzo Paglia, que tem lidado com críticas generalizadas relativas às reformas feitas no Pontifício Instituto João Paulo II, e o cardeal hondurenho Oscar Rodriguez Maradiaga, coordenador do Conselho dos Cardeais, que vem sendo criticado pela forma como lidou com os escândalos de abuso sexual e financeiro em Honduras.
Também entre os 33 convidados papais estão o Cardeal Angelo Bagnasco, presidente do Conselho das Conferências Episcopais da Europa; o cardeal-designado Jean-Claude Hollerich, presidente da Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia; e o cardeal-designado Fridolin Ambongo Besungu, de Kinshasa, capital do Congo.
O papa ainda convidou o Cardeal Oswald Gracias, de Bombaim, membro do Conselho dos Cardeais, e os padres jesuítas Antonio Spadaro, assessor papal e editor da La Civiltà Cattolica, e Giacomo Costa, vice-presidente da Fundação Cardeal Carlo Maria Martini.
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Participantes do Sínodo amazônico incluem ex-secretário da ONU e teólogos da libertação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU