Carta aberta ao cardeal Reinhard Marx: renomados católicos e católicas alemães se manifestam

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07 Fevereiro 2019

“O abuso na nossa Igreja também tem causas sistêmicas. A tentação do clericalismo acompanha o clero como uma sombra. A perspectiva do poder em associações de homens atrai pessoas de grupos de risco. Tabus sexuais impedem necessários processos de esclarecimento e de amadurecimento.”

Publicamos aqui a carta aberta escrita por oito renomados católicos e católicas alemães ao cardeal Reinhard Marx, presidente da Conferência dos Bispos da Alemanha.

A carta foi publicada em Publik-forum.de, 05-02-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Eis o texto.

Caro Sr. Cardeal Reinhard Marx,

Os abusos sexuais cometidos por clérigos católicos contra menores e pessoas que deveriam ser protegidas, e as tentativas de acobertar esses crimes por parte dos bispos responsáveis foram causa de graves danos à vida das vítimas e abalaram a fé dos cristãos católicos próximos deles.

No fim de fevereiro, os presidentes das Conferências Episcopais nacionais discutirão essa crise com o Papa Francisco e tomarão as devidas precauções para que as pessoas que devem ser protegidas no futuro o sejam de fato e não sejam prejudicadas. Isso é urgentemente necessário. As pessoas não devem buscar o bom pastor na Igreja e, ao invés disso, encontrar-se no meio dos lobos.

Por isso, pedimos-lhe que apresente francamente em Roma o principal resultado do estudo MHG: a saber, que o abuso na nossa Igreja também tem causas sistêmicas. A tentação do clericalismo acompanha o clero como uma sombra. A perspectiva do poder em associações de homens atrai pessoas de grupos de risco. Tabus sexuais impedem necessários processos de esclarecimento e de amadurecimento.

Desde 2010, os bispos alemães têm feito progressos tanto na prevenção quanto na sanção de atos de violência. Depois da publicação do estudo MHG em setembro de 2018, eles expressaram a sua perturbação e pediram perdão. Mas eles também sabem que, agora, limitar-se às palavras não é mais suficiente.

A impressão de que, no fim, nada vai mudar, porém, cimentou a desconfiança em relação à Igreja-instituição em muitos dos nossos contemporâneos. E, ao contrário de antigamente, a desconfiança não se detém mais às portas da Igreja. A maioria dos católicos comprometidos não pode mais defender o ordenamento pré-moderno da Igreja. Eles se limitam a suportá-lo. E, todos os anos, são milhares aqueles que se livram do peso e vão embora.

Alguns responsáveis minimizam e dizem: os escândalos não são tudo. A mídia exagera. O importante é a vida normal nas paróquias e nas instituições da Igreja. É claro, muitas coisas boas são realizadas todos os dias por voluntários e por empregados. Mas justamente aí se espalhou uma profunda decepção. O sol da justiça não surge mais. Sob um céu de chumbo, a alegria da fé se atrofia.

Por isso, apelamos aos nossos bispos: tenham confiança no senso da fé dos seus fiéis e devolvam à Igreja aquela veracidade e vastidão sem as quais o Evangelho não pode respirar! Usem o seu poder espiritual para reformas corajosas: comprometam-se, vocês mesmos, com uma efetiva divisão dos poderes – que se enquadra melhor com a humildade de Cristo e com o contexto das leis que valem para todos. Promovam a abolição das superestruturas do ministério ordenado e abram-no às mulheres. Deixem aos padres diocesanos a escolha da sua forma de vida – para que o celibato possa remeter novamente, de forma credível, ao reino dos céus.

Escutem o testemunho da Bíblia e as experiências dos fiéis e façam uma reavaliação da moral sexual – incluindo uma avaliação inteligente e honesta da homossexualidade.

Caro Sr. Presidente, caros Srs. Bispos, vocês podem contar conosco. Se vocês se colocarem à frente do movimento de reforma, definitivamente poderão contar conosco atrás de vocês.

Mas também contamos com vocês. Os bispos têm em suas mãos a responsabilidade como um caderno para marcar os seus progressos. Abram uma página nova, escrevam ali '2019' e comecem... Uma boa viagem a Roma e cordiais saudações ao Papa Francisco.

Johannes zu Eltz, deão da cidade de Frankfurt
Gaby Hagmans, diretora da Cáritas de Frankfurt
Bettina Jarasch, política de Berlim
Claudia Lücking-Michel, política de Bonn
Dagmar Mensink, política de Frankfurt
Klaus Mertes, SJ, reitor em St. Blasien
Jörg und Ingrid Splett, filósofo de Offenbach
Ansgar Wucherpfennig, SJ, reitor em Frankfurt

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