18 Setembro 2019
"Em Goiânia e no Brasil inteiro, o Grito dos/as Excluídos/as 2019 foi o Grito dos/as Descartados/as. A luta por vida digna para todos/as fortalece a nossa esperança e nos une na certeza da vitória", escreve Marcos Sassatelli, frade dominicano, doutor em Filosofia (USP) e em Teologia Moral (Assunção - SP) e professor aposentado de Filosofia da UFG.
Em Goiânia e em todo o pais, o dia 7 de setembro, dia da Independência do Brasil (que na realidade ainda não existe), foi marcado por grandes manifestações de protesto contra o atual Governo - comprovadamente perverso, iníquo e anti-povo - que, cínica e hipocritamente, usa o nome de Deus e a sua Palavra para se autolegitimar. Trata-se de um descaramento que não tem limites!
Na manifestação de Goiânia - além de outras bandeiras de luta como moradia, emprego, saúde pública, aposentadoria, ciência e tecnologia, minorias, terras indígenas e quilombolas, Amazônia, Cerrado - destacamos dois grandes eventos unificados: o 25º Grito dos/as Excluídos/as 2019 e o 4º Tsunami da Educação.
O Grito - desde o início - defende a “Vida em primeiro lugar” e - no lema deste ano de 2019 - denuncia “Este Sistema não Vale. Lutamos por Justiça, Direitos e Liberdade”. O Tsunami da Educação reivindica uma Educação Pública de qualidade para todos e para todas, luta contra o corte de verbas para a Educação e para a Pesquisa, não aceita a “militarização” das Escolas e defende a liberdade de ensino.
A concentração foi na Praça da Catedral Metropolitana, no Centro, a partir das 8:30 horas. Participaram da manifestação - com faixas e cartazes - Movimentos Sindicais de Trabalhadores/as (como os Trabalhadores/as da Educação e outros), Movimentos Sociais Populares (como os Moradores de Rua e outros), Movimentos Estudantis (liderados pela União Nacional dos Estudantes - UNE), Comitês ou Fóruns de Defesa dos Direitos Humanos e do Meio Ambiente, Comunidades Eclesiais de Base - CEBs, Pastorais Sociais Ambientais e representantes de outras Organizações Populares, totalizando cerca de 4 mil pessoas, entre as quais muitos/as jovens, que nos deram um testemunho bonito de resistência e de luta.
Na caminhada, passamos pela Praça Cívica e descemos a Avenida Goiás, finalizando o protesto na Praça do Bandeirante, às 12:30 horas. Durante a manifestação - além de músicas e cantos - tivemos muitas falas, todas demostrando indignação e vontade de lutar, unidos, por um novo Brasil.
Iago Montalvão, 26 anos, presidente da UNE, referindo-se aos cortes na Educação e ao risco de Universidades Públicas pararem de funcionar, afirmou: “Sem ciência e Universidade não há condição de atingirmos uma autonomia, por isso viemos lutar. Queremos a verdadeira independência”.
Bia de Lima, presidente do Sindicato dos Trabalhadores/as da Educação do Estado de Goiás - SINTEGO, denunciou: “Estamos vivendo um verdadeiro desmonte da Educação. O Governo Federal já fez vários cortes no orçamento, colocando em risco o funcionamento das Universidades Federais em todo o Brasil. Sua política está destruindo a pesquisa brasileira. É um absurdo acabar com os recursos das bolsas da Capes e CNPq! No Estado de Goiás, a situação está ficando muito complicada. O Governo vira as costas para quem se dedica a Educação! Até agora não confirmou o pagamento do reajuste do Piso 2019, a Data-base dos/as administrativos/as e o cumprimento do pagamento das progressões. Estamos chegando a um ponto insustentável”.
Sobre a situação atual dos/as excluídos/as no Brasil e no mundo, meditemos as palavras do Papa Francisco: “Hoje devemos dizer ‘não a uma economia da exclusão e da desigualdade social’. Esta economia mata. Não é possível que a morte por congelamento dum idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão”. “Tudo entra no jogo da competitividade e da lei do mais forte, onde o poderoso engole o mais fraco. Em consequência desta situação, grandes massas da população veem-se excluídas e marginalizadas: sem trabalho, sem perspectivas, num beco sem saída. O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois jogar fora. Assim teve início a cultura do ‘descartável’, que aliás chega a ser promovida”. “Os excluídos não são ‘explorados’, mas ‘descartados’ (resíduos, sobras)” (A Alegria do Evangelho, 53)
Na Missa do dia 8 de julho deste ano, na Basílica de São Pedro, Francisco - fazendo a memória dos seis anos de sua visita a Lampedusa - denunciou: “Os migrantes são hoje o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada”. Quanta crueldade e quanta desumanidade!
Em Goiânia e no Brasil inteiro, o Grito dos/as Excluídos/as 2019 foi o Grito dos/as Descartados/as. A luta por vida digna para todos/as fortalece a nossa esperança e nos une na certeza da vitória.
(Comunico aos prezados/as leitores/as que, por razões pessoais, interrompo os meus escritos semanais e - se Deus quiser - os retomarei logo que for possível)
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Trabalhadores e estudantes unidos por um novo Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU