12 Agosto 2019
“Acabou o tempo da indignação ou, pior, da indiferença. É preciso agir, e rapidamente também.”
A opinião é do chef italiano Carlo Petrini, fundador do movimento Slow Food, em artigo publicado por La Repubblica, 09-08-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nenhuma novidade. Infelizmente, o relatório da ONU sobre as mudanças climáticas apresentado nessa quinta-feira, 8, coloca preto no branco o que estudiosos e associações vêm dizendo há anos: devemos intervir imediatamente para deter o aquecimento global, caso contrário corremos o risco do desaparecimento.
O alerta havia sido lançado inequivocamente durante o encontro de todos os Estados do mundo (ou pelo menos da grande maioria) durante o COP 21 em Paris, em 2015, que se encerrou com um acordo para fixar o objetivo de limitar a aumento do aquecimento global para menos de 2ºC em comparação com os níveis pré-industriais. Mas muito pouco foi feito e está sendo feito. Pouco ou nada mudou, senão até para pior.
Nesses dias, está em curso um incêndio de porte catastrófico na Rússia, e durante dias ninguém interveio, porque a lei russa prevê que as ações de extinção sejam postas em prática quando o fogo ameaça a cidade. A consequência são hectares e hectares de floresta queimada e uma redução do pulmão verde e um aumento do aquecimento global.
Por outro lado, o presidente dos EUA nega até o fenômeno. O novo relatório da ONU evidencia, se é que nunca tivéssemos percebido, uma aceleração dos fenômenos ligados à crise climática, com consequências cada vez mais desastrosas e que tocam todo o mundo de modo mais ou menos visível.
Entre as áreas mais afetadas, estão a Ásia e a África, mas também o Mediterrâneo está fortemente em risco e, com ele, as nações costeiras. Esse relatório, mais do que outros, concentra-se na relação entre as mudanças climáticas e a saúde do solo, estudando os efeitos do aquecimento global sobre a agricultura e florestas. Precisamente a agricultura e a produção de alimentos desempenham uma função importante. São fundamentais para a redução dos gases de efeito estufa e, portanto, do aquecimento global a produção sustentável de alimentos, a redução de resíduos e a proteção das florestas (sacrificadas para dar lugar a cultivos de soja transgênica para grandes criadouros).
A corrida enlouquecida para produzir mais alimentos está causando transtornos ambientais e sociais assustadores. Esse sistema fracassou e está fazendo com que o planeta fracasse, empobrecendo a terra e aumentando os níveis de CO2. A desertificação e os fenômenos atmosféricos violentos e repentinos prejudicam a produção agrícola e a segurança dos fornecimentos alimentares.
Então, não nos surpreendamos se houver ondas migratórias tão consistentes. São pessoas que fogem de condições precárias e sem futuro. Elas pagam por anos de desastres criados pela nossa economia. À espera de que os poderosos do mundo tomem consciência da crise climática, nós, a partir da nossa pequenez, podemos fazer algo importante todos os dias.
Comecemos pelas compras e por alguns truques: fazer compras prudentes, não desperdiçar, cozinhar apenas o necessário, reduzir drasticamente o consumo de carne, escolher alimentos da época e da agricultura orgânica e local, evitar produtos com embalagens plásticas, comprometer-se com a coleta seletiva.
É preciso uma nova visão sistêmica, que evidencie as externalidades positivas dessas práticas, a despeito de uma economia que dilapida os recursos ambientais. Se isso não ocorrer, o preço que teremos de pagar será impressionante, e os custos que as futuras gerações terão de pagar se tornarão insustentáveis.
Eis o terreno sobre o qual será preciso discutir nos próximos anos de um novo humanismo, sobre o qual se poderá construir uma política digna desse nome e viver em uma economia que não destrua o bem comum, mas o proteja e o defenda. Acabou o tempo da indignação ou, pior, da indiferença. É preciso agir, e rapidamente também.
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Clima: é preciso uma nova visão sistêmica. Artigo de Carlo Petrini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU