15 Julho 2019
Rainha dos finais de semana e feriados, a sesta deveria ser praticada diariamente. Repararia o déficit crônico de sono, um verdadeiro flagelo da saúde.
A reportagem é de Marie-Pierre Genecand, publicada por Les Temps, 08-07-2019. A tradução é de André Langer.
Após uma noite curta, estamos defasados em nosso sono e somos tomados de fortes sonolências que fazem da nossa cama um oásis sonhado. Nós pensamos que o sono age apenas sobre a concentração e a acuidade. Isto está muito longe da realidade. Durante o sono, um batalhão de agentes se ativa pelo nosso coração, pelo nosso equilíbrio alimentar, pela eliminação de nossas toxinas, pelo alívio da nossa dor, pela nossa memória, pelas nossas defesas imunológicas, pela nossa criatividade e o nosso humor. “Enquanto tudo parece estar abandonado, observa Brice Faraut, médico em neurociência, uma série de equipes de atendimento aliviam o corpo dos males do dia e o consolidam”. É por isso que falamos de “sono reparador”...
Mas esse grande ajuste só é possível a partir de sete horas de sono noturno, observa o especialista. No entanto, porque trabalha fora de casa e deve levantar de madrugada, porque fica preso às telas ou ainda sofre de insônias (20% da população), o adulto contemporâneo cava diariamente seu débito de sono e coloca sua saúde em perigo – quase um terço dos distúrbios cardiovasculares está ligado a isso. A solução? Fazer uma sesta todos os dias, responde Brice Faraut em Sauvés par la siesta [Salvos pela sesta], uma obra brilhante que é ao mesmo tempo científica e prática. O pesquisador mostra como uma sesta diária de 10 a 90 minutos, de acordo com a idade e as necessidades, reequilibra espetacularmente o corpo.
O número de pessoas que dormem menos de seis horas por noite não para de aumentar, ressalta o pesquisador. Nos Estados Unidos, esse número era de 12% em 1998 e agora é de 20%. Na França, mais de 30% das pessoas entre 18 e 65 anos dormem apenas cinco horas e meia por noite. Mas o recorde é registrado pela Coreia do Sul, onde 37% dos adultos consagram menos de seis horas ao sono. Como as pessoas que precisam dormir pouco – esta categoria de pessoas para quem seis horas de sono são suficientes – representam apenas 7% da população, o cálculo é feito rapidamente. Os outros, os 83% de médios dorminhocos, cujas necessidades estão próximas de sete a oito horas de sono por noite, estão em déficit crônico. E nós não falamos dos grandes dorminhocos, esses 10% que sofrem sem as nove horas diárias de sono...
Os sintomas desta dívida? Resfriados frequentes, dores de cabeça ou nas costas, dificuldades de concentração, irritabilidade, bocejos constantes. E esta consequência, bastante inesperada, mas lógica: porque a falta de sono inibe a secreção de leptina, o hormônio da saciedade, não dormir o suficiente aumenta o risco de obesidade. Especialmente quando o indivíduo exausto tende a confundir fome e cansaço e favorece o açúcar para se impulsionar. No livro, trabalhadores noturnos, como motoristas, cuidadores ou profissionais de segurança, confirmam esse risco.
A solução? Muito simples. Para recuperar ou preservar o equilíbrio, basta cochilar pelo menos 10 minutos por dia, para um dia de cerca de 15 horas, quando o relógio circadiano provoca uma queda na energia natural. “Além do grande cansaço, garante Brice Faraut, a sesta luta, como o sono noturno, contra a dor, a lentidão, a fragilidade imunológica, o estresse, a hipertensão, o excesso de peso e as doenças cardiovasculares”. Por que, então, não levá-la sério e dar-lhe um lugar equivalente ao reservado para as refeições? Tanto mais que no paraíso da sesta, todos podem escolher o que preferem. Um pequeno guia “sestivo”.
Sem ser totalmente contra, Brice Faraut não aconselha a sesta curta, aquela de Dali, que disse dormir segurando uma caneta na mão, para acordar assim que o objeto caiu, porque, diz o neurocientista, o cochilo de 30 a 90 segundos não reduz a fadiga. Não melhora “a vigilância subjetiva e objetiva, o desempenho e o vigor”.
Em termos de brevidade, o especialista recomenda a sesta de 10 minutos, chamada power nap pelos anglo-saxões. Ela é a mais praticada nos ambientes de trabalho, porque revitaliza no curto prazo o desempenho cognitivo. É a sesta ideal antes de uma apresentação ou de uma reunião importante. Como ela permanece no sono leve – uma das quatro fases do sono – ela evita ao seu beneficiário o efeito da inércia ou do sentimento vasoso ao acordar. Em um mundo perfeito, ela se prolongaria para essa sesta rápida, de modo a evitar a tensão no pescoço, mas a pessoa também pode inclinar o assento de seu escritório ou de seu carro a 40º. Por outro lado, este leve cochilo não reduz o estresse e não ilumina seu beneficiário.
Para alcançar estes resultados, é necessário ter uma sesta de 20 a 30 minutos. Esta, que inclui uma fase 2 do sono, alivia o estresse, melhora o humor e fortalece a imunidade. Acima de tudo, especialmente, é ela que reduz o risco de acidentes cardiovasculares. Infelizmente, isso pode causar um efeito de inércia ao acordar. Para lutar contra este inconveniente, pode-se beber um café antes de adormecer – a cafeína coloca a bateria 20 minutos para agir –, ou programar mentalmente a hora do despertar, ou ainda fazer-se acordar por uma luz particular, aquela que bloqueia a secreção de melatonina, o hormônio do sono, para suavizar a fase de transição.
Finalmente, há a sesta de uma hora e meia, aquela que permite completar um ciclo total do sono e, consequentemente, alcançar a fase do sono paradoxal (ou sono profundo), que também tem suas virtudes. Apenas para recordar, o sono paradoxal corresponde ao último passo durante o qual os músculos relaxam completamente e a atividade cerebral é profunda. É o momento dos sonhos, que promove a digestão das emoções e consolida a memória procedural – essa memória que permite dirigir ou andar de bicicleta. “Atletas, músicos e bailarinos se beneficiariam do uso dessa longa sesta para melhorar a habilidade de seu movimento”, aconselha Brice Faraut.
Esta sesta também é ideal para pessoas que passaram uma noite em claro, que, em linguagem científica, se diz “recuperar uma dívida de sono imediata”. É bom saber para o verão, época propícia a frequentes “recuperações de dívida de sono imediata”, não?
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Uma sesta por dia, o melhor remédio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU