31 Mai 2019
Alarmadas com a presença de cerca de 10 mil garimpeiros em suas terras, lideranças indígenas foram até Brasília pedir auxílio das autoridades para enfrentar invasores.
A reportagem é publicada por Instituto Socioambiental - ISA, 30-05-2019.
Cada vez mais assustados com as invasões de garimpeiros em seu território, os Yanomami foram até Brasília pedir que o Estado cumpra seu papel no combate à criminalidade na Terra Indígena Yanomami. Desde o início do ano, o garimpo ilegal explodiu, ameaçando os povos indígenas que vivem ali. É a maior invasão desde que a TI foi demarcada, em 1992.
Na semana passada, uma comitiva dos povos Yanomami e Ye’kwana denunciou a situação ao Ibama, Funai, Ministério da Justiça, Ministério da Defesa, Ministério Público Federal e na Secretaria de Governo. Mais uma vez, os Yanomami e Yek’wana deixaram claro que não querem o garimpo em suas terras. “O garimpo não traz benefício pra ninguém. Só traz doença e degradação ambiental. Não tem dinheiro que pague a nossa floresta, os rios e as vidas do nosso povo”, afirmou Davi Kopenawa, presidente da Hutukara (Associação Yanomami) e liderança histórica de seu povo, em reunião no Ministério Público Federal.
A estimativa é de que mais de dez mil garimpeiros estejam ilegalmente na terra indígena, poluindo os rios com mercúrio e assoreando seus leitos, derrubando a floresta, acabando com a caça, desencadeando violência e prostituição de mulheres indígenas. Outro risco iminente é o de contato com os povos indígenas isolados. Três pistas de pouso para aviões do garimpo e três áreas de exploração ilegal foram identificadas em zonas de circulação desses grupos, especialmente vulneráveis às doenças trazidas pelo homem branco. Hoje, a Terra Indígena Yanomami abriga sete registros de povos em isolamento voluntário, segundo dados da Fundação Nacional do Índio (Funai), apenas na porção brasileira do território.
No final de 2018, o Exército desativou duas bases nas regiões dos Rios Mucajaí e Uraricoera, as principais passagens utilizadas pelos garimpeiros para entrar na área. Desde então, o número de invasores explodiu – inclusive com a reconstrução de uma vila dentro da TI, na região chamada de Tatuzão do Mutum.
Em fevereiro de 2019, monitoramento detectou 1.096 hectares degradados em decorrência do garimpo na região, o equivalente a mil campos de futebol. Em março de 2019, as áreas de garimpo aumentaram na maioria das localidades analisadas. Em Watho u/ Koni, uma das regiões da TI monitoradas pelos índios, esse aumento foi de 258%.
As consequências da invasão garimpeira já são sentidas na capital de Roraima, Boa Vista, com a contaminação das águas que chegam na cidade – e que viajam 570 km desde o primeiro garimpo da TI Yanomami. A turbidez das águas do Mucajaí e Uraricoera, principais rios da terra indígena, está em nível muito acima do esperado para essa época do ano. Esses dois rios foram o Rio Branco, que corta a cidade de Boa Vista.
Análise da Fundação Estadual do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Fermarh) em parceria com a Universidade Estadual de Roraima (UERR) mostrou que a turbidez (indicador que mede a quantidade de partículas em suspensão na água), que deveria estar em 17, chegou a 91. Segundo Ivanise Maria Rizzatti, pesquisadora da UERR que conduziu as análises, o índice indica contaminação da água. “A turbidez elevada causa a mortandade de peixes por falta de oxigenação”, diz ela. Segundo a pesquisadora, o garimpo e o esgoto lançado sem tratamento são as principais causas para a contaminação.
A boa notícia é que a Fundação Nacional do Índio (Funai) anunciou que vai reabrir as bases de Proteção Etnoambiental na TI, que haviam sido fechadas por problemas orçamentários. Segundo o órgão, serão reativadas as bases Demarcação, no Rio Mucajaí; Kore-korema, no Rio Uraricoera; e Serra da Estrutura, no afluente do Mucajaí.
O problema do garimpo na Terra Indígena Yanomami é histórico. Na década de 1980, mais de 45 mil garimpeiros invadiram a região em uma corrida por ouro estimulada pelo governo. À época, cerca de 20% da população Yanomami morreu em decorrência de doenças. Entre 1987 e 1989, estima-se que 2.003 balsas de garimpo trafegavam pelo Rio Uraricoera. (Veja linha do tempo).
Operações frequentes de combate da Polícia Federal e a presença constante do Exército e da Funai na área conseguiram controlar e reduzir o número de invasores nos últimos anos. Em 2018, a presença do Exército foi responsável pela saída de mais de 1.500 garimpeiros do Rio Uraricoera. Em 2015, porém, três bases da Funai foram fechadas. No fim do ano passado, a base do Exército também foi encerrada e a situação voltou a se agravar.
Para acessar a linha do tempo: "O Garimpo na TI Yanomami" clique aqui.
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Povo Yanomami solicita apoio do governo para combater maior invasão desde demarcação - Instituto Humanitas Unisinos - IHU