10 Mai 2019
"Até os jornais liberais já reconhecem: é possível reavivar a economia por uma rota oposta à do governo e do baronato financeiro. Saída gera ocupações, produção, dinamismo. Mas há um setor interessado em manter a sociedade deprimida…", escreve Artur Araújo, administrador hoteleiro, consultor em gestão pública e privada e do Projeto Cresce Brasil, liderado pela Federação Nacional dos Engenheiros (FNE), em artigo publicado por Outras Palavras, 08-05-2019.
Em coluna publicada no Valor de ontem (8/5) — “Como cordeiro, a economia caminha para a recessão” — Pedro Cafardo, editor-executivo do jornal, repercute análise de José Luis Oreiro, professor de Economia da UnB.
Sem entrar no mérito dos conceitos utilizados – o diáfano “PIB potencial” e seu acompanhante “hiato do produto” – uma afirmação de Oreiro é decisiva:
“Se a economia estivesse hoje operando no seu nível do produto potencial, a receita tributária do setor público consolidado teria um acréscimo de mais de R$ 90 bilhões em relação à previsão para 2019, ou 64% do déficit primário estimado para o ano, de R$ 139 bilhões. O efeito fiscal, portanto, seria de mais de R$ 900 bilhões em dez anos, quase igual ao da reforma da Previdência.”
Em língua de mortais isso quer dizer que, se houvesse demanda efetiva, destacadamente no mercado interno, a capacidade produtiva ociosa (gente sem emprego e empresas sem produzir) geraria os recursos que o rentismo diz faltarem na previdência e em todo o orçamento da União.
Como é evidente, no cenário atual — de multidões desempregadas e sub-empregadas, renda do trabalho arrochada e mercados externos em fase ultraprotecionista — o tranco para fazer o motor pegar são as compras governamentais de bens e serviços produzidos no Brasil. Esse é o caminho que presta, porque virtuoso, gerando oferta, consumo e arrecadação de impostos.
Com certeza surgirão os interessadinhos da especulação e da usura gritando “inflação! inflação! déficit! dívida!”, querendo manter os brasileiros na escravidão dos juros escorchantes, das importações de tudo e da flagrante injustiça tributária. Querendo que sigamos o caminho que não presta (para a maioria, porque para os agiotas presta e muito).
Pedro Cafardo é macaco velho. Fecha a coluna citando um dos mais consistentes economistas liberais do país.
“Em mais um artigo no Valor, o economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real, escreveu sobre o que chamou de ‘superstição do déficit’. Peço antecipadas desculpas ao economista por citar superficialmente seu texto, que é bastante técnico. Mas em trechos que podem ser entendidos por simples mortais, Lara Resende cita Paul Samuelson para dizer que a crença de que seria sempre preciso equilibrar o orçamento fiscal é uma superstição, um mito. Sua função seria mais ou menos a mesma das religiões primitivas: assustar as pessoas para que elas se comportem de maneira compatível com a vida civilizada.
Na conclusão de seu artigo, Lara Resende sustenta que é preciso dar fim à superstição do orçamento equilibrado. Ele considera que os governos precisam gastar bem. E faz um comparação: ‘Sustentar o mito do orçamento equilibrado porque não se confia que o país seja capaz de resistir à tentação dos gastos irresponsáveis não é diferente de defender a burca porque não se confia no comportamento das mulheres’.”
Com o Brasil em uma encruzilhada decisiva, não é mais possível insistir na rota do austericídio. Demanda injetada via Estado é o caminho que nos tira do buraco recessivo e nos leva à retomada do desenvolvimento com distribuição.
Diz-se que é nas encruzilhadas que o demo propõe pactos. Só escapa do cramulhão quem opta pelo caminho dos justos.
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Dois caminhos. Só um presta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU