22 Fevereiro 2019
Uma experiência “comovente”, “forte”, crua, que chega “ao fundo do coração”, capaz de fazer refletir e “chorar”. Estas foram as reações despertadas pelos cinco vídeos com os testemunhos de cinco vítimas de abusos sexuais com os quais foi aberta a reunião convocada pelo Papa com os presidentes das Conferências Episcopais de todo o mundo, que acontecerá no Vaticano até o próximo domingo.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 21-02-2019. A tradução é de André Langer.
“Eu já me encontrei com sobreviventes e sei que, embora existam semelhanças, cada uma destas histórias é única, mas devo dizer que hoje eu me emocionei muito mais do que o habitual, me surpreendi até as lágrimas”, disse o arcebispo de Brisbane (Austrália), Mark Coleridge, durante a coletiva de imprensa diária. “Eu ouvi vítimas, mas hoje foi diferente por causa do contexto extraordinário, uma reunião de bispos, com a presença do Papa. Acho que tocamos imediatamente uma das cordas profundas do encontro”.
Os textos dos cinco testemunhos foram distribuídos pela Sala de Imprensa vaticana, mas suas identidades e vozes foram codificadas para as 190 pessoas que participaram da reunião. Foi “uma experiência muito forte, emocional”, disse dom Charles Scicluna. “Eu sempre afirmei que para entender a gravidade da situação, você precisa ouvir as vítimas, reunir-se com elas, porque isso é solo sagrado em que tocamos as feridas de Cristo”. Também o padre Federico Lombardi, moderador da assembleia, se disse “muito comovido com os testemunhos das vítimas”.
E o padre Hans Zollner, jesuíta, psicólogo e referência do comitê organizador da reunião, queria enfatizar que os testemunhos de cinco vítimas de cinco continentes diferentes deixaram claro que o problema dos abusos “não é um problema norte-americano ou centro-europeu” e que depois das suas palavras, “muito honestas”, que “não economizaram em nada”, houve dois minutos de silêncio, durante os quais “era possível sentir que as pessoas estavam em sintonia com o que acabaram de ouvir”.
Exatamente este, disse Zollner, é um dos objetivos do encontro vaticano: “As normais legais são importantes, é importante preencher as lacunas, é importante reforçar as responsabilidades, mas também é importante o empenho com o coração, porque só com uma motivação forte é possível alcançar os objetivos” de uma efetiva proteção dos menores. Para o presidente do Centro para a Proteção dos Menores da Pontifícia Universidade Gregoriana, “uma vez que você ouve com ouvidos abertos, mente aberta e coração aberto, não pode ficar indiferente: o primeiro ponto é que as pessoas abram os ouvidos, a mente e o coração”.
Também dom Jean-Claude Hollerich, jesuíta, arcebispo de Luxemburgo e presidente da Comissão das Conferências Episcopais da Comunidade Europeia (COMECE), disse aos jornalistas no final da sessão da manhã que os bispos ficaram “muito comovidos” com os testemunhos das vítimas, uma mensagem que “calou fundo no coração”. Tanto que vários dos participantes foram às lágrimas.
Hoje à tarde, assim como amanhã e depois de amanhã, irão intervir pessoalmente na assembleia, a portas fechadas para proteger sua privacidade, outras vítimas. Uma delegação de vítimas reuniu-se ontem com a comissão organizadora da cúpula. A Santa Sé havia solicitado que os bispos se reunissem com as vítimas de seus países antes de chegar a Roma para a reunião destes dias.
A coletiva de imprensa, moderada pelo diretor “ad interim” da Sala de Imprensa vaticana, Alessandro Gisotti, foi realizada no Instituto Augustinianum, a poucos metros da Praça São Pedro. Foi a ocasião para expor a grande diversidade cultural da Igreja Católica no mundo. “Eu venho da pequena ilha de Malta e estou sentado ao lado do arcebispo dessa grande ilha que é a Austrália”, brincou Scicluna. “Esta é a Igreja Católica. Nós viemos de todas as partes do mundo e estamos juntos para debater e fazer nosso este compromisso comum”.
Dom Coleridge, por outro lado, como anglófono, foi incluído em um dos grupos de trabalho em língua inglesa, grupos nos quais a assembleia está dividida, para que possam preparar propostas concretas, sempre às tardes. Apesar da língua comum, “nós enfrentamos contextos culturais muito diferentes; isso ficou imediatamente evidente”, disse o hierarca australiano, citando alguns de seus irmãos africanos e asiáticos, que “se perguntavam por que falamos tão obsessivamente sobre os abusos sexuais, e dizem que em seus países, sim, há menores que sofrem abusos, mas porque são forçados a serem soldados ou são explorados no trabalho. Isso, para nós, é um grande desafio. A Igreja deve conseguir ser, ao mesmo tempo, radicalmente local e genuinamente global”.
O próprio Coleridge comentou a publicação do livro Sodoma, do jornalista francês Frédéric Martel, que chegou hoje às livrarias de vinte países em oito idiomas diferentes. Ao responder aos jornalistas, com ironia, disse que “aqui, em Roma, de vez em quando aparece um livro desse tipo; há alguns anos atrás foi E o vento levou no Vaticano, agora este livro... Não o li, mas esse gênero escandaloso aqui em Roma é um elemento cultural”.
Dom Sicluna, ex-promotor do Vaticano em matéria de abusos sexuais e atual responsável pela Corte de Apelações da Congregação para a Doutrina da Fé, esclareceu diversas questões apresentadas pelos jornalistas. Alguns perguntaram por que o Papa não usou a palavra “homossexualidade” em seu discurso de abertura da cúpula (e também não aparece em alguns documentos da reunião dos bispos); o religioso maltês respondeu que “generalizar sobre uma categoria de pessoas nunca é legítimo”, e sublinhou que a homossexualidade e a heterossexualidade “são condições humanas, não algo que predisponha ao pecado: todos nós temos uma propensão ao pecado”.
O padre Lombardi, por sua vez, respondeu a outra pergunta sobre a relação entre os abusos e o celibato. “É um tema sobre o qual podemos obviamente falar, mas nossa consciência comum é que os abusos, enquanto tais, não têm nada a ver com o celibato dos padres. O tema, por enquanto, não veio à tona, mas vamos ver se algum dos grupos o cita e aprofunda”. Scicluna, depois, disse que considera, seguindo jurisprudência estadunidense, que devem ser publicados os nomes dos sacerdotes que foram objeto de acusações “credíveis ou fundadas”, não os nomes dos sacerdotes que são objeto de meras acusações ou que não tenham sido verificadas. E disse que não considera que a demissão do estado clerical (preferível à expressão “redução ao estado laico”) seja a solução universal para os sacerdotes culpados, porque, em particular, tendo em conta a idade, é preciso decidir “caso a caso” e perseguir sempre a proteção dos menores.
Scicluna anunciou que já está na fase final de elaboração um “vade mecum” da Congregação para a Doutrina da Fé, na forma de perguntas e respostas, para ajudar os bispos a saber o que fazer quando uma denúncia de abuso infantil ocorrer contra um sacerdote. O padre Lombardi disse que há a previsão de que a reunião termine no domingo com um discurso final do Papa e que, no momento, não se pensou em nenhum documento final, embora, com o andamento das sessões de trabalho, seja possível que apareçam muitas medidas específicas.
Os cinco testemunhos dados aos bispos reunidos em Roma, na manhã do 1o. dia do Encontro dos presidentes das Conferencias Episcopais, são publicados por Religión Digital, 21-02-2019.
Antes que nada, quiero darles las gracias a la Comisión por haberme permitido dirigirme a ustedes hoy, y al Santo Padre por todo el apoyo y la ayuda que nos ha dado en este último tiempo.
Me preguntan que hable sobre el dolor del abuso sexual. Para todos es conocido que el abuso sexual deja una secuela tremenda para todas las personas. Creo que no vale la pena ya seguir, hablando de eso porque las secuelas son obvias, en todo tipo de aspectos, y quedan para la vida.
Más me gustaría referirme como católico, lo que me pasó y lo que me gustaría decirles a los obispos. Para una persona como católico, lo más difícil es poder hablar sobre el abuso sexual, pero una vez que uno se atreve a ir a contar, en nuestro caso por ejemplo yo, lo primero que pensé es: voy a ir a la Santa Madre Iglesia, donde me van a oir y me van a respetar.
Lo primero que hicieron fue tratarme de mentiroso, darme la espalda y decir que yo y otros, eramos enemigos de la Iglesia. Yo sé que están allí hablando, sobre cómo terminar y cómo empezar de nuevo y cómo reparar todo este daño.
Primero, perdones falsos, perdones obligados ya no funcionan. A las víctimas hay que creerles, respetarlas, cuidarlas y repararlos. Hay que reparar a las víctimas, hay que estar con ellos, hay que creerles, hay que acompañarlos. Ustedes, son los doctores de las almas, y sin embargo, con excepciones, se han convertido en algunos casos, en los asesinos de los almas, en los asesinos de la fe.
Qué contradicción más espantosa. Yo me pregunto, qué estará pensando Jesús, qué estará pensando María, cuando ve a sus propios pastores, ser los que traicionan a las ovejas. Yo les pido por favor, que colaboren con la justicia, que tengan especial cuidado con las víctimas. Estamos viendo cada día la punta del Iceberg, cuando la Iglesia ha querido que se diga que esto ya terminó, siguen saliendo casos, ¿por qué?
Porque se tratan, como cuando uno ve un cáncer, uno tiene que tratar el cáncer entero, no sacar el tumor, hay que hacer quimioterapia, hay que hacer radioterapia, hay que hacer tratamientos. No es extirpar el tumor y ya listo.
Yo les pido que oigan a lo que el Santo Padre quiere hacer, no asientan con la cabeza y después hagan otra cosa, yo lo único que les pido es que, y le pido al Espíritu Santo, que los ayude a restablecer la confianza en la Iglesia, que los que no quieran oir al Espíritu Santo y los que quieran seguir encubriendo, que se vayan de la Iglesia, para dejar paso a otros que sí queremos una Iglesia nueva, una Iglesia renovada y una Iglesia absolutamente libre de abusos sexuales.
Yo los encomiendo a la Virgen, los encomiendo al Señor, para que esto se haga una realidad. Pero no podemos seguir con este crimen, de encubrir esta lacra de los abusos sexuales en la Iglesia.
Espero que el Señor y María los ilumine, y de una vez por todas, colaboremos con la justicia, y extirpemos este cáncer de la Iglesia , que está terminando con la Iglesia. Y eso es lo que el demonio quiere. Gracias.
D. - ¿Qué es lo que más te ha herido en tu vida?
R. - Desde que tenía quince años mantenía relaciones sexuales con un sacerdote. Esto duró trece años seguidos. Estuve embarazada tres veces, él me hizo abortar tres veces. Simplemente porque él no quería un preservativo ni un método anticonceptivo.
Al principio tenía tanta confianza en él, que no sabía que podía abusar de mí. Tenía miedo de él. Y cada vez que me negaba a tener relaciones con él, me pegaba. Él me golpeaba. Y como yo dependía totalmente de él económicamente, sufrí todas sus humillaciones. Y teníamos estas relaciones tanto en su casa del pueblo como en el centro de acogida diocesano. Y en esa relación, yo no tenía derecho a tener un novio.
Cada vez que lo tenía y que él lo sabía, me golpeaba. Y esa era la condición para que él pudiera ayudarme económicamente. Él me daba todo lo que yo quería cuando yo aceptaba las relaciones sexuales. De lo contrario, me golpeaba.
D. - ¿Cómo ha asumido todas estas heridas y cómo se siente en este momento?
R. - Siento que tengo una vida arruinada. He sufrido tales humillaciones en esta relación, que no sé qué me depara el futuro. Esto me hace ser muy prudente en mis relaciones en la actualidad.
D. - ¿Qué mensaje le gustaría enviar a los obispos?
R. - Hay que decir que amar sinceramente es amar gratuitamente. Cuando se ama a alguien, se piensa en su futuro, se piensa en su bienestar. No se abusa de la persona de esa manera. Y hay que decir que los sacerdotes, los religiosos, tienen los medios para ayudar y también tienen los medios para destruir. Deben comportarse con responsabilidad, como personas sensatas. Muchas gracias, su contribución será muy, muy significativa para el encuentro de los Obispos. Una vez más, gracias.
R. - Tengo 53 años, soy un sacerdote religioso. Este año es el 25o aniversario de mi ordenación. Estoy agradecido a Dios. ¿Qué me ha herido? Me hirió conocer a un sacerdote. Cuando era adolescente, después de la confesión, iba donde el sacerdote para que me enseñara a leer las Escrituras durante la Misa, y él tocaba mis partes íntimas.
Pasé una noche en su cama. Esto me hirió profundamente. La otra cosa que me hirió fue el obispo a quien, después de muchos años como adulto, le hablé de lo que había pasado. Fui con él junto con mi provincial. Primero le escribí una carta al obispo, seis meses después de una entrevista con el sacerdote.
El obispo no me respondió y después de seis meses escribí al nuncio. El nuncio reaccionó mostrando comprensión. Entonces me encontré con el obispo y me atacó sin tratar de entenderme, y eso me hirió. Por un lado el sacerdote y por otro este obispo que...
¿Qué siento? Me siento mal, porque ni ese sacerdote ni el obispo respondieron a mi carta, y ya han pasado ocho años y tampoco él ha respondido.
¿Qué me gustaría decir a los obispos? Que escuchen a estas personas, que aprendan a escuchar a las personas que hablan. Yo quería que alguien me escuchara, que se supiera quién es ese hombre, ese sacerdote y lo que hace. Perdono de todo corazón a ese sacerdote y al obispo.
Doy gracias a Dios por la Iglesia, estoy agradecido de estar en la Iglesia. Tengo muchos amigos sacerdotes que me han ayudado.
Hola. Aprecio este acercamiento a los sobrevivientes del abuso sexual del clero y estoy feliz de participar en este proyecto.
¿Qué es lo que más me ha herido? Al reflexionar sobre esta cuestión, pienso en la totalidad... en la plena realización de la pérdida total de la inocencia de mi juventud y en cómo eso me ha afectado hoy en día. Todavía hay dolor en mis relaciones familiares. Todavía hay dolor con mis hermanos. Todavía tengo dolor.
Mis padres todavía llevan el dolor por la disfunción, la traición, la manipulación que este hombre malo, que era nuestro sacerdote católico en ese entonces, nos hizo a mi familia y a mí. Así que eso es lo que más me ha herido y lo que llevo conmigo hoy.
Ahora estoy bien porque he encontrado esperanza y sanación al contar mi historia, al compartir mi historia con mi familia, mi esposa y mis hijos - mi familia extendida - mis amigos, y porque puedo hacer eso, me siento más cómodo conmigo mismo y por cómo puedo ser yo mismo.
Y finalmente lo que quiero decir a los obispos - creo que es una excelente pregunta: Yo pediría a los obispos liderazgo. Liderazgo, visión y coraje. Eso es a lo que respondo, eso es lo que espero ver. Tengo una experiencia personal de liderazgo y cómo me ha afectado personalmente.
Uno de mis mejores recuerdos del Cardenal Francis George es cuando él habló de las dificultades de sus compañeros sacerdotes que habían abusado. Y consideré que esas palabras, viniendo de un hombre en su posición, aunque debe haber sido muy difícil para él decirlas, eran lo correcto y apropiado para decir.
Pensé que eso era liderazgo en ese momento, y creo que es liderazgo ahora. Y pensé que si él podía ponerse a sí mismo ahí fuera, y liderar con el ejemplo, entonces yo podría ponerme a mí mismo ahí fuera, y creo que otros sobrevivientes y otros católicos y personas de fe pueden salir ponerse a trabajar para lograr una resolución, y trabajar para sanar, y trabajar por una Iglesia mejor.
Así es que respondemos al liderazgo, miramos a nuestros obispos en busca de liderazgo, les pediría a los obispos que muestren liderazgo. Gracias.
He sido acosado sexualmente durante mucho tiempo, más de cien veces, y este acoso sexual me ha creado traumas y recuerdos a lo largo de mi vida.
Es difícil vivir la vida, es difícil estar con gente, conectarse con la gente. He cargado con esta actitud en mi familia, con mis amigos e incluso con Dios. Cada vez que he hablado con los Provinciales y con los Superiores Mayores, todos han encubierto prácticamente cada asunto, han encubierto a los autores y eso a veces me mata. Hace mucho tiempo que doy esta batalla... y la mayoría de los Superiores, por razones de amistad, son incapaces de detenerlo.
Pido a los Provinciales, a los Superiores Mayores y a los Obispos que participan en esta audiencia que lleven a cabo actos firmes que realmente pongan en su lugar al perpetrador. Si queremos salvar a la Iglesia, los perpetradores deben ser castigados.
Pediré a los Obispos que sean claros en esta materia, porque esta es una de las bombas de tiempo que están ocurriendo en la Iglesia de Asia. Si quieren salvar a la Iglesia, tenemos que actuar juntos y hacer que los perpetradores se den por vencidos.
La amistad no debería prevalecer aquí, sino la acción, porque esto destruirá a todas nuestras generaciones de niños. Como Jesús siempre dijo, necesitamos ser como niños, no ser abusadores sexuales de niños.
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A comoção dos bispos com o testemunho das vítimas de abusos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU