18 Fevereiro 2019
O ex-cardeal estadunidense Theodore McCarrick, convertido nos últimos meses no símbolo da corrupção e dos abusos a menores na Igreja dos Estados Unidos, foi sentenciado neste sábado à demissão do estado clerical. O Vaticano o expulsou do sacerdócio, e o purpurado, de 88 anos, volta assim à vida laica em uma decisão histórica às vésperas do encontro que será realizado nesta semana no Vaticano com todos os presidentes das conferências episcopais do mundo para tratar a questão das agressões sexuais por parte do clero.
A reportagem é de Daniel Verdú, publicado no El País, 16-02-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
O Papa, com esta decisão estrategicamente anunciada, converteu a cabeça de McCarrick em um “aviso aos navegantes” da reunião que começa na quinta-feira e da qual participam cerca de 170 líderes religiosos. A redução ao estado laico é a pena mais dura contemplada na lei canônica e o ex-cardeal é o religioso de maior relevância na história recente da Igreja católica sobre o qual essa sentença se impôs. A mensagem que Francisco busca passar é clara: ninguém mais é intocável.
Conforme pode ser lido no comunicado oficial, a Congregação para a Doutrina da Fé, órgão que se encarrega de julgar estes assuntos, considera o ex-purpurado culpado de abusar menores e adultos com o agravante de abuso de poder, e por isso lhe impõe a pena da redução ao estado laical. McCarrick (Nova York, 1930) foi ordenado cardeal por João Paulo II e participou do conclave de abril de 2005, no qual foi eleito o pontífice Bento XVI. No seguinte, onde foi nomeado o atual Pontífice, já tinha mais de 80 anos e não podia votar.
O caso McCarrick provocou neste verão uma das maiores crises dos últimos tempos na Santa Sé. Uma tempestade que afetou Francisco diretamente. O ex-cardeal e arcebispo de Washington entre 2000 e 2006, foi acusado de abusar sexualmente de menores e de comportamentos indevidos com jovens sacerdotes. No último dia 20 de julho um homem rompeu seu silêncio depois de quatro décadas e contou ao The New York Times que o ex-cardeal havia abusado dele quando era menor de idade. O Papa, já em uma histórica decisão, o afastou do Colégio Cardinalício (a última vez remonta a 13 de setembro de 1927) e o ordenou que permanecesse afastado de suas funções e recluso até que se resolvesse sua situação em um processo canônico.
Uma semana depois, no entanto, o arcebispo e ex-núncio em Washington, Carlo Maria Viganó, acusou Francisco em uma carta de ter encoberto durante anos os abusos de McCarrick e pediu sua renúncia. Os argumentos estavam cheios de imprecisões e incertezas e, em parte, escondiam o rancor de Viganó por não ter chegado a ser cardeal. Mas o que aquelas 11 páginas revelaram foi a frouxidão com que os três últimos papas trataram uma questão convertida em segredo. A tempestade desatada derivou, entre outras coisas, no encontro que começa esta semana (entre os próximos dias 21 a 24 de fevereiro) para tratar o tema dos abusos de uma forma global. A cabeça de McCarrick será agora o símbolo do início do encontro.
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Papa demite cardeal McCarrick do estado clerical - Instituto Humanitas Unisinos - IHU