30 Janeiro 2019
Muito duro. Assim foi o último ano de Cristián del Campo como provincial da Companhia de Jesus no Chile. O sacerdote de 48 anos, que deixará o cargo este ano, precisou enfrentar uma série de denúncias de abusos contra jesuítas chilenos. Só em 2018 foram iniciadas investigações prévias, destinadas a verificar a veracidade das denúncias contra Jaime Guzmán, Leonel Ibacache, Raúl González, Juan Pablo Cárcamo e a conhecida recentemente contra Renato Poblete, ex-capelão do Hogar de Cristo.
A entrevista é de María José Navarrete, publicada por La Tercera, 29-01-2019. A tradução é do Cepat.
Quando você teve conhecimento dos fatos? Que ações foram tomadas nesse momento?
Conheci a denúncia no dia 8 de janeiro. Depois do exame preliminar do depoimento, decidi abrir a investigação prévia no dia 12 do mesmo mês e pedir uma reunião com a denunciante, que se concretizou no dia 17. Nessa reunião, pudemos nos encontrar e escutar, momento para lhe transmitir as decisões que havia tomado para o início da investigação canônica.
Qual era o nível de proximidade que tinham com a vítima? Quais encontros tiveram com ela?
Pessoalmente, não a conheci, até 17 de janeiro, quando nos reunimos. Sei que teve vivência com alguns jesuítas durante seus anos de estudo de Teologia, e que atualmente divide trabalhos docentes na mesma faculdade da Universidade Católica, onde outros jesuítas também atuam como professores.
Quais são os passos a seguir na investigação? Os jesuítas e ex-jesuítas que viveram e foram próximos a Renato Poblete, nesse período, já foram entrevistados?
Desde o próprio dia em que abri a investigação, esta ficou a cargo do advogado Waldo Bown, e é ele quem decidirá quais entrevistas, depoimentos e diligências devem ser feitas. Não há um prazo estabelecido para esta investigação, mas se buscará realizar todas as ações que contribuam para que possa ocorrer da maneira mais profissional e rigorosa, e que as pessoas que apresentem testemunhos ou informações se sintam acolhidas e escutadas.
Os fatos denunciados se prolongaram durante nove anos. Fazem algum ‘mea culpa’ pelo ocorrido? O que aconteceu para que estes fatos não fossem denunciados há tempo? Houve acobertamento?
Determinar tais tipos de responsabilidades faz parte da investigação. Esse é nosso compromisso hoje, investigar cuidadosamente.
Há certeza de que existem mais casos contra Renato Poblete?
Sim, tal como informamos no domingo passado. Após nosso primeiro comunicado, recebemos outras denúncias e todas serão parte da investigação que está sendo realizada.
Havia alguma tentativa – por parte dos leigos ou sacerdotes – de impulsionar um processo prévio, com vistas a uma beatificação de Renato Poblete?
Não, honestamente não tive conhecimento de uma iniciativa assim.
Os antecedentes da investigação foram remetidos ao superior geral da Companhia de Jesus?
O superior geral está ciente dos passos que demos. Pediu-me para que o mantenha informado do desenvolvimento deste caso.
Que medidas serão tomadas em apoio à vítima? Haverá algum tipo de reparação?
Há apenas alguns dias, pudemos ter um primeiro encontro e estaremos sempre abertos a escutar. Faremos tudo o que pudermos para que se sinta acolhida e conte com nosso apoio neste caminho.
Este tema será abordado no encontro da província, em fevereiro? Que outros assuntos serão tratados nesta instância?
Sem dúvida alguma, conversaremos sobre este tema e o que foi o ano de 2018 para a Companhia e a Igreja. Foi um ano muito duro para todos nós que fazemos parte da Igreja, começando pelas próprias vítimas. Além disso, teremos uma conversa preliminar para dar início ao processo de eleição do novo provincial, já que este ano se completa o período de seis anos.
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Chile. “Foi um ano muito duro para todos nós que fazemos parte da Igreja”. Entrevista com Cristián del Campo, provincial da Companhia de Jesus no país - Instituto Humanitas Unisinos - IHU