Crianças de povoado cearense de Tomé apresentam malformações relacionadas a agrotóxicos, aponta pesquisa

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02 Agosto 2018

O povoado de Tomé, de cerca de 2,5 mil habitantes, fica no município de Limoeiro do Norte, no Ceará. É famoso na região. Mas, o motivo não é tão bom: a comunidade fica encurralada por territórios do agronegócio, e é conhecida pela contaminação por agrotóxicos. Fato comprovado por cientistas, segundo a professora de Medicina da Universidade Federal do Cariri, Ada Pontes, que também faz parte do grupo de pesquisa Tramas, da Universidade Federal do Ceará.

A reportagem é de Sumaia Villela, publicada por Radioagência Nacional, 28-08-2018.

Sonora: “A água que via para a comunidade tá contaminada, o ar da comunidade tá contaminado, já houve processo de intoxicação de escolas, de trabalhadores, de moradores. Tanto tem muitas pessoas na comunidade que trabalham nessas empresas, principalmente os homens, como também mesmo as pessoas que não trabalham, que não manipulam diretamente esses produtos, elas estão expostas. Algumas casas ficam contíguas às plantações

O grupo Tramas desenvolve estudos em Tomé desde 2007. O último deles estabeleceu uma relação entre agrotóxicos e a ocorrência de malformações e puberdade precoce em bebês. Das oito crianças identificadas, 5 nasceram com malformações: ausência de braços e pernas e deformações no coração. Uma delas morreu. Em outras três meninas as mamas cresceram antes de um ano de idade.

Para estabelecer a relação com agrotóxicos, a equipe coletou urina e sangue dos pais, mães e crianças. Também foram feitos testes na água das casas. Das 19 amostras de sangue, em 11 foi encontrada uma classe de agrotóxicos proibida no Brasil há mais de 30 anos, os organoclorados. Segundo Ada Pontes, a ciência já indica que essas substâncias causam os problemas de saúde estudados. E eles são bioacumuladores, ou seja, são armazenados pelo organismo por anos.

Sonora: “Foi um dado que assustou muito a gente. Porque como é que uma criança de um ano de idade pode ter organoclorados no sangue, se ela não está sendo exposta atualmente? Então ou um comércio ilegal desse tipo de substância ou outra via que seria uma exposição vertical, pelo leite materno

Na urina ainda foi encontrado outro tipo de agrotóxico. A maioria das casas também tinha água contaminada. Além disso, todos os pais trabalham ou trabalharam com agrotóxico, alguns por 15 anos, conforme Ada. As mães, nascidas em Tomé, foram contaminadas por meio do ambiente. A maioria delas prefere não dar entrevistas. Márcia Xavier, de 27 anos, é exceção. Ela conta como os primeiros sintomas surgiram na filha dela.

Sonora: “Com um ano e três meses, seis meses, a gente começou a perceber aqui em casa que a mama dela estava desenvolvendo. O médico disse que realmente era telarca precoce”

Os sintomas vão e voltam. Márcia afirma que, por orientação médica, adotou uma alimentação restrita para a criança.

Sonora: “As frutas que eu deixo ela comer é laranja e banana. E a banana que ela come é a que a minha mãe produz, porque não tem veneno. O leite de gado eu não deixo ela tomar, eu não deixo ela tomar de maneira nenhuma”

Não é a primeira vez que Márcia é afetada pelo agrotóxico. Sua história foi marcada pela morte de José Maria Filho, o Zé Maria de Tomé, assassinado com 25 tiros em 2010, na comunidade. Ele era uma liderança na luta contra a pulverização aérea de agrotóxicos na região. É também o pai de Márcia.

Esse é o outro traço da disputa pelo uso dos chamados defensivos agrícolas: a violência.

 

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