14 Junho 2018
"Estamos diante de um fenômeno eleitoral protofascista ou neofascista chamado Jair Bolsonaro", escreve Bruno Lima Rocha, pós-doutorando em economia política, doutor em ciência política e professor de relações internacionais e de jornalismo.
No texto abaixo, realizo três comentários rápidos a respeito desta situação inusitada, onde a democracia indireta, liberal, representativa e delegativa no Brasil pós-golpe coxinha pode levar a um protofascista ao segundo turno, e quiçá, ao Palácio do Planalto.
Como quase todos do ramo fui chamado a opinar sobre a pesquisa do Datafolha lançada no final de semana de 09 e 10 de junho. Desta derivaram alguns números e outras reflexões. Como dos números tanto eu já falei em certos veículos de comunicação do Rio Grande do Sul, assim como dezenas de colegas, me atenho às reflexões.
A primeira é mais óbvia: estamos diante de um fenômeno eleitoral protofascista ou neofascista chamado Jair Bolsonaro. O capitão de artilharia da reserva do Exército, deputado federal hoje no PSL-RJ, além de ter feito das redes sociais a antessala do manicômio judiciário e haver eleito sua prole de machos supostamente alfas (isso até terem de debater ao vivo na TV), não tem estrutura político-partidária, carece de base social concreta de apoio e caso seja eleito, a probabilidade de uma convulsão social, concomitante a um colapso econômico e a convocatória de uma constituinte exclusiva com a intervenção do estamento togado é enorme. Ou seja, mesmo as agrupações à esquerda da esquerda que não estão no jogo eleitoral, acabam estando no anti-jogo, diante da possível presença de um discurso de corte fascistoide, misógino, racista, homofóbico, a favor da violência policial, condescendente com execuções extra-judiciais e para culminar, entreguista e pró-EUA. Jair Bolsonaro é todo o chorume ao mesmo tempo agora, e pode polarizar o pleito brasileiro.
Não se trata de alarmismo, mas sim de alerta. Proporcionalmente a Ação Integralista Brasileira (AIB) e os "galinhas verdes" de Plínio Salgado seriam mais complicados, com razoável inserção social e penetração no aparelho de Estado do governo pós-34 até 1938. Mas, o problema maior dos apoiadores de Bolsonaro é sua dispersão através do comportamento enfermo nas redes sociais e o limite da racionalidade como a confirmação de identidades sociais de tipo pós-colonial, com toda a carga genocida e de extermínio que isso pode significar. Mesmo bufão e manipulando bases patológicas, Bolsonaro está na disputa e não há como negar a possibilidade absurda deste protofascista chegar ao segundo turno.
A segunda reflexão é o fator Michel Temer. Toda correlação com este governo, que hoje bate 82% de rejeição, ultrapassando o governo Sarney e Collor nos seus piores momentos, reflete a afirmação do Brasil em Transe. Todo governo eleito em democracia liberal tem um grau elevado de frustração e não realização dos atos prometidos. O sistema liberal é paradoxal. Feito por e para a burguesia ascendente nas ilhas britânicas após a "Revolução Gloriosa", foi estruturado para um governo de classe - burguesia nacional, quando esta ainda existia em sua forma predominante - e desenvolveu suas instituições para a projeção de poder da potência ultramarina.
Ainda assim, com os votos de massas e a expansão dos direitos políticos, os processos legítimos de escolha do governo - não do exercício pleno dos poderes no capitalismo ou em sua etapa atual, talvez de transição para outro modelo de domínio e exclusão - tendem a acalmar a maioria. Enfim, justificando que a escolha foi justa, dura mais tempo a perda de capital político quando a maioria se dá conta que o governo não exerce o Bom Governo e não provê o Bem Comum mas sim as vantagens para setores de sempre, e com uma postura com maior ou menor subordinação dentro do Sistema Internacional. Temer junta o pior dos mundos e quem grudar seu nome como candidato ou candidata ao período MT verá sua campanha transformada em fiasco. Usando a mesóclise de costume, Meirelles afundar-se-á na corrida eleitoral assim como ele e Pedro Pullen Parente deixaram o país na bancarrota.
Ainda no efeito MT, as chances do tucanato são pequenas com Geraldo Alckmin, mas muito diminutas se o ex-ministro da Fazenda de Temer, ex-CEO da J&F e ex-presidente do Banco Central nos dois governos de Lula, Henrique Meirelles, insistir em concorrer como cabeça de chapa. Caso isto ocorra, os preciosos minutos da campanha expressa - apenas 45 dias - serão atirados ao léu, fortalecendo ainda mais a máquina política que conseguir operar a partir da internet. Hoje, o MDB em escala nacional seria mais prudente - para seus próprios interesses e, logicamente, para a mazela do país - se ficasse escondido em uma grande aliança de "centro" (ou seja, de direita envergonhada) e fortalecesse uma candidatura leal aos capitais paulistas, como seria uma chapa Marina e Alckmin.
Já a capacidade de transferência de votos e reputação dos tucanos foi corroída pelo efeito Aécio Neves, ainda que o senador pelas Gerais tenha sido devidamente fritado pelo diretório paulista, especificamente pelos "correligionários" de Serra e cia. FHC de sua parte, parece insistir em triturar a candidatura de Geraldo - sim, acreditem, o médico de Pindamonhangaba já usou o primeiro nome em 2006 - e buscar saídas midiáticas, como o do já ex-prefeito e arrivista político João Dória Jr. ou o apresentador de TV Luciano Huck. Surpreende que as baterias da Força Tarefa começaram a vazar emails e comunicações privadas de Fernando Henrique Cardoso, dando a crer que a relação entre o estamento togado e o Principado de Higienópolis já não opera como antes, nos idos de 2014 até o ano passado, quando da aventura de Joesley Batista e o grampo do presidente que disse "para manter isso aí, viu". Será que o defensor explícito do desgoverno Michel Temer, o jornalista também vazado pela Lava-Jato, Reinaldo Azevedo, está certo ao afirmar que os lavajateiros e adjacências defendem a candidatura de Bolsonaro para assim poderem usufruir de mais e mais prerrogativas considerando que seu hipotético governo provavelmente mal comece e sequer termine?
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Três comentários após a pesquisa de intenção de votos do Datafolha de 09 e 10 de junho de 2018 - Instituto Humanitas Unisinos - IHU