20 Abril 2018
À espera de Francisco no dia 20 de abril, quando o papa prestará homenagem ao D. Tonino Bello, mais conhcido como Padre Tonino, em Alessano e Molfetta, ganha importância o testemunho do pároco de Tricase, Pe. Flavio Ferraro, e do Pe. Salvatore Leopizzi, pároco em Gallipoli e amigo de uma vida inteira.
A reportagem é de M. Michela Nicolais, publicada pelo Servizio Informazione Religiosa (SIR), 18-04-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A cruz e o acordeão. Isso, no desenho de uma criança, é o D. Tonino Bello. A natureza extraordinária de um homem normal. Estamos em Tricase, o lugar de seu primeiro amor, como ele o chamou várias vezes. O lugar onde aprendeu a ser padre entre as pessoas e onde, como pároco que se tornou bispo – contra a sua vontade –, cingiu-se os flancos com uma toalha, dando uma imagem plástica e muito concreta daquela Igreja do avental que, profeticamente, antecipou a Igreja em saída de Francisco.
D. Tonino Bello (Foto: SIR)
À espera do papa, que estará em Alessano e Molfetta em 20 de abril, ouvimos o testemunho do Pe. Flavio Ferraro, pároco da Natividade de Maria em Tricase há sete anos, que conheceu a experiência do Pe. Tonino aqui, a partir dos relatos de seus paroquianos: “Aqui, como ótimo professor, ele se tornou pastor, entendeu o que significa estar imerso nos problemas das pessoas”.
Há uma imagem recorrente citada por aqueles que conheceram o Pe. Tonino de perto, ao longo dos anos do seminário e da formação: “Ele queria vencer a todo o custo, tinha a síndrome do primeiro da turma e, por isso, exigia muito de si mesmo e dos outros. Um jogo de futebol só terminava quando ele fazia um gol”.
Foi em Tricase, para o Pe. Flavio, que o Pe. Tonino percebeu que esse método não correspondia à realidade. Não foi fácil no início: quando chegou aqui, em 1979, havia quase deserto. E, assim, decidiu começar a partir dos jovens: ia ao encontro deles e, para eles, abriu um Centro Teológico de Leitura, onde disponibilizou os seus livros, com os grandes autores pelos quais era apaixonado, como Bonhoeffer, aos quais acrescentou cerca de 50 assinaturas de outras tantas revistas. Não havia as redes sociais, e esse era o único modo para se atualizar. Em um tecido pastoral onde cada pároco estava ligado ao seu campanário, o Pe. Tonino introduziu uma visão mais ampla.
“Vamos fazer com que as pessoas entendam que nos queremos bem de verdade, que vamos tomar um café juntos, para mostrar que, entre nós, não há tensões”, foi a proposta aos sacerdotes. Ele amava a Igreja do poder dos sinais, e não dos sinais de poder: “Era um padre que não falava apenas, mas também fazia: ele nunca disse ‘Façam!’, ele fez”.
Seus gestos surpreendem porque rompem os esquemas. Como quando ia visitar as famílias pobres com o seu Fiat 500, às quais ele levava a comida que tinha solicitado antes, batendo nas casas das famílias da paróquia: “Preparem o primeiro prato, preparem o segundo, preparem a sobremesa...”. Ou como aquela vez em que, indo se encontrar com uma pessoa muito pobre internada no hospital, percebendo que não tinha ninguém com ela, disse sem pensar duas vezes: “Eu vou passar a noite”. No dia seguinte, espalhou-se o boato de que o pároco tinha ficado de vigília, e assim chegaram os voluntários para se alternarem durante a noite.
“No meu corpo, eu tenho o sangue do Pe. Tonino”, revelou uma senhora ao Pe. Flavio uma vez, orgulhosa. Quando foi operada, precisou de uma transfusão, e o Pe. Tonino deu um passo à frente: “Até a morte, terei o sangue dele nas minhas veias”.
E depois chegou aquele fatídico dia, quando um jovem do Centro de Leitura interceptou um envelope endereçado a ele, escrito “Muito confidencial”, e lhe entregou. O Pe. Tonino o abriu e ficou triste, talvez lhe correram também algumas lágrimas. Ele já havia recusado duas vezes, mas desta vez não podia dizer não: a experiência em Tricase tinha acabado, ele devia se tornar bispo em Molfetta.
“Ele tinha dado toda a sua vida pela paróquia, ao lado dos pobres, dos últimos”, explica o Pe. Flavio sobre aquela separação tão dolorosa: “Assim, decidiu ser consagrado aqui, no lugar onde viveu o primeiro amor de sua vida, entre as pessoas que aprenderam a amá-lo cada dia mais”.
O mar, tão próximo: em Tricase, em Novaglie, em Leuca. O Pe. Tonino, que passeava à beira-mar e buscava inspiração para seus escritos. O Pe. Tonino que nadava e ensinava a nadar aos seus jovens, ou àqueles do seminário, carregando sobre os ombros aqueles que tinham medo para depois deixá-los ir ao mar aberto.
Mimmo Turco, que era um de seus rapazes, trabalha hoje no hospital Cardinale Panico, em Tricase, uma excelência da Puglia. Em 1978, ele tinha 16 anos, cresceu com ele na paróquia e na Ação Católica e, depois, continuou frequentando em Molfetta: do Pe. Tonino, ele enfatiza a humanidade e a essencialidade.
“Demo-nos conta de que nem todos percebiam plenamente a sua mensagem. Tínhamos parado no aspecto exterior cativante, mas ele era essencial, incitava-nos a apontar os olhos não para ele, mas para Alguém maior do que ele.”
Radical: é o adjetivo que volta também no testemunho do Pe. Salvatore Leopizzi, pároco de Santo Antônio, em Gallipoli, e conselheiro nacional da Pax Christi, que narra sua amizade com o Pe. Tonino a partir de uma fotografia: seu primeiro gesto como bispo de Molfetta, ao lado dos operários de Giovinazzo.
“Nele, havia a urgência de ser radical, isto é, de ir às raízes, partindo da memória subversiva da Cruz, a única com a qual o mundo pode ser revolucionado.”
Quando foi nomeado presidente da Pax Christi, era o dia da morte do Pe. Popieluszko. “Ele traduzia a paz de maneira poética, além de profética”, conta o Pe. Salvatore: por isso, a sua linguagem, tão diferente, não foi percebida e acolhida imediatamente, ao contrário, ele estava sempre em risco de incompreensão, especialmente, mas não só, para com as hierarquias.
“Depois, todos mudaram de ideia, e não pouco: para ele, os cristãos deviam ter os pés no chão e a cabeça voltada ao céu. A Igreja não é neutra, é Igreja de parte, dizia, e a sua direção de marcha é a partir dos últimos para todos”.
A estola e o avental são símbolos disso, feitos do mesmo tecido.
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D.Tonino Bello: a cruz e o acordeão, a estola e o avental - Instituto Humanitas Unisinos - IHU