28 Março 2018
Em um artigo recente para a America, Colleen Dulle perguntou: “Onde estão os ativistas católicos millennials?”. A pergunta foi motivada pela detenção, no dia 27 de fevereiro, de 40 líderes católicos que se reuniram no prédio do senado dos EUA para exigir uma ação para proteger os Dreamers, ou seja, os imigrantes sem documentos trazidos para o país na infância. Ela observou que os que foram presos eram em sua maioria idosos e defendeu um maior engajamento dos millennials em movimentos católicos pela justiça social.
A reportagem é de Mary Cunningham [1], publicada por America, 26-03-2018.
É verdade que a maioria das pessoas presas era da geração dos baby boomers, grande parte irmãs católicas mais velhas. O que passou despercebido por Dulle, no entanto, é o número de millennials católicos que também apareceram naquele dia em apoio aos Dreamers. Eles não estavam na linha de frente nem foram presos. Não estavam nas fotografias que apareceram nas manchetes após o evento. Mas estavam lá. Eu sei porque eu era um deles.
Em maio do ano passado, concluí a graduação em francês e estudos religiosos na Universidade da Santa Cruz. Durante esse período, minha fé me levou a questionar o status quo e desafiar estruturas injustas. Minha paixão pela religião e pela justiça me levou a Washington, D.C. depois da formatura, para trabalhar no Network Lobby for Catholic Social Justice, entidade católica que defende a justiça social, na equipe de comunicações.
Desde que comecei no Network, fiquei impressionada com o papel que os líderes religiosos podem desempenhar na estrutura política. E me inspiro ainda mais nos jovens católicos que conheço que trabalham em prol da justiça. A Irmã Simone Campbell, do “Religiosas no Ônibus” pode ser o rosto da nossa organização, mas por trás dela há uma equipe de funcionários — incluindo muitos millennials católicos — que viabiliza o trabalho.
A equipe do Network não é o único exemplo de jovens católicos ativistas. Também há muitos parceiros de coalizão. O seminário The Ignatian Family Teach-In, que reúne milhares de estudantes universitários e alunos de ensino médio todo novembro em torno de oficinas de justiça social e ativismo, é um testemunho incrível do poder dos jovens católicos de mobilizar e agir. Há uma canalização de ativistas católicos cultivados por grupos como a Ignatian Solidarity Network, Jesuit Volunteer Corps, Mercy Corps Volunteer e Network que continuam trabalhando pela justiça em outros campos, desde o direito e a política até o ensino e a organização comunitária.
Se o rosto do ativismo católico hoje é a geração dos baby boomers, os millennials católicos são certamente o corpo. Embora nem sempre participemos de atos de desobediência civil, participamos de manifestações, protestos e marchas. Somos nós que organizamos eventos, tuitamos, tiramos fotos e participamos da chamada coletiva no Congresso para fazer mais. E para os millennials em começo de carreira, isto faz sentido: o que será que o registro de prisão poderia significar em candidaturas para a faculdade de direito ou outras ações para sua carreira ao discernirmos e vivermos nossas vocações? Mesmo que nossas ações não pareçam tão "interessantes" quanto as dos mais velhos, sem nossa presença os movimentos não teriam a força que têm, principalmente no contexto da mídia moderna.
Como aponta Dulle, a geração Z, a nova faixa de pessoas com menos de 20 anos, é menos religiosa do que as gerações anteriores. Da mesma forma, millennials mais jovens tendem a se identificar menos com uma religião, e entre os mais velhos a parcela de pessoas “sem religião” está aumentando, de acordo com o Pew Research Center. Uma pesquisa de 2015 concluiu que "os 35% de Millennials que não se identifica com nenhuma religião representa o dobro da cota de baby boomers sem afiliação religiosa (17%)".
Talvez o problema não seja o declínio de millennials ativistas católicos, mas o declínio no período de millennials católicos.
Independentemente disso, os millennials católicos ainda estão se pronunciando em prol da justiça. Movidos pela fé de trabalhar em prol dos que vivem à margem e na sombra, continuaremos fazendo a nossa parte e fazendo nossas vozes serem ouvidas.
Nota:
[1] Mary Cunningham é graduada pela Universidade da Santa Cruz, em Worcester, Massachusetts, e faz parte da equipe de comunicações do NETWORK.
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"Onde estão os ativistas católicos millennials?" Aqui! - Instituto Humanitas Unisinos - IHU