26 Março 2018
O retorno "forçado" a vida privada também para conter a diminuição dos nascimentos.
Contra workholics extremos, medidas extremas. E considerando que a dedicação ao trabalho dos sul-coreanos chega a níveis de patologia, a administração Seul decidiu aprovar uma terapia de choque. A partir de abril, às 20 horas em ponto de todas as sextas-feiras, os computadores de todos os funcionários públicos serão desligados. Não importa que estejam escrevendo um e-mail, preenchendo uma tabela de Excel ou terminando de preparar uma apresentação importante, "o sistema será interrompido", o PC irá travar. Nas semanas seguintes, o horário de sagrado descanso será gradualmente antecipado, chegando em maio às 19h. Tenham todos um ótimo fim de semana, e nos encontramos novamente na segunda-feira.
A reportagem é de Filippo Santelli, publicada por La Repubblica, 23-03-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Um sonho para os funcionários públicos de todo o mundo. Mas que, no entanto, na Coreia do Sul corre o risco de ser experimentado como um pesadelo. Em Seul, de fato, trabalha-se em média 400 horas a mais por ano do que a média das economias desenvolvidas, ou seja, dez semanas a mais, e para algumas categorias de empregos públicos como os bombeiros ou agentes de alfândega o esforço adicional chega a mil horas. Uma ética profissional enraizada no boom dos anos 1980 e 1990, construído mais na quantidade do que na qualidade. Uma dependência do trabalho que não é fácil de superar: a administração de Seul previu permissões para necessidades especiais, e quase sete em cada dez trabalhadores apresentaram pedidos de liberação do bloqueio, temendo que essas horas tiradas do processo possam penalizá-los aos olhos dos chefes.
Uma prova das dificuldades que serão enfrentadas pelas autoridades, que já parecem ter finalmente percebido que os cidadãos devem se desligar para seu próprio bem e de seu país. A esse ritmo, de fato, em algumas décadas é provável que a Coreia do Sul não tenha mais futuro: no ano passado, a taxa de natalidade caiu para 1,07 filhos por mulher, a mais baixa de todos os tempos e de todas as economias avançadas do mundo. Seriam necessários pelo menos dois filhos por casal para equilibrar a população, que está envelhecendo em um ritmo alarmante.
Entre as causas desse impasse demográfico não é difícil identificar o "desumano", palavra do governo, desequilíbrio entre trabalho e vida privada. Então, alguns dias atrás o Parlamento aprovou uma lei que irá reduzir a semana de trabalho a partir de junho de 68 para 52 horas. De qualquer forma interminável quando comparada, por exemplo, com as famosas 35 horas francesas, que na Coreia são o limite para os menores de idade. Mas demasiado curta para as empresas locais, já preocupadas com os custos extras que vão enfrentar para manter os mesmos níveis de produção.
Por causa dessa resistência, uma inédita aliança entre patrões e trabalhadores que querem jornadas mais longas, é que a cidade de Seul decidiu usar métodos radicais, orquestrando o encerramento emergencial dos computadores. Em certo sentido, uma admissão de impotência: se não consegue convencê-los, obriga-os. Mas isso não é novo na Coreia, quando o assunto é interromper manias prejudiciais. Em 2011, o governo de Seul aprovou a chamada lei Cinderela, outro grande "shutdown" organizado, o dos jogos online para todos os jovens abaixo dos 16 anos, da meia-noite às 6 da manhã. Naquele caso também se tratava de dependência.
Naquele caso também se levantaram protestos das empresas, os produtores de jogos digitais que chegaram a evocar o direito das crianças à busca pela felicidade. Obtendo depois de anos uma meia vitória, por solicitação dos pais o desligamento automático pode ser cancelado. Agora, é para esses mesmos pais que chega a proibição do seu passatempo favorito: trabalhar sem limites.
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Computador desligado às 20h: é a terapia de choque de Seul contra os workholics - Instituto Humanitas Unisinos - IHU