26 Mai 2010
Um é apaixonado pelo trabalho e o outro se dedica de uma forma viciante nas suas tarefas profissionais de forma que pode adoecer. Esses são os perfis dos worklovers e workaholics. Em entrevista à IHU On-Line, por email, a psicóloga Silvia Osso explica as diferenças entre esses dois perfis de trabalhadores e analisa seus posicionamentos no mundo do trabalho e como o stress influencia seus modos de vida. “O workaholic se dedica ao trabalho de forma que ele espera uma recompensa emocional proveniente disso. O worklover espera essa recompensa de outro tipo de convívio e experiência de vida”, definiu.
Silvia Osso é pedagoga, jornalista e psicóloga educacional e empresarial.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Como podemos diferenciar um workaholic de um worklover?
Silvia Osso – O “Worklover” é um apaixonado pelo trabalho, pois vive satisfeito com suas realizações; é mais aberto ao lidar com as dificuldades que surgem. Se as condições do trabalho vão mal, busca ajuda em vez de criticar ou esmorecer. Este “amante” trabalha muitas horas por dia de forma produtiva e nem percebe o tempo passar, sendo que esta satisfação se estende a sua vida pessoal. Ele consegue equilibrar bem sua vida pessoal com a do trabalho.
O “Workaholic” é um verdadeiro viciado no trabalho. Sua motivação pelo trabalho é muito alta, seu foco é o trabalho em si, mas sua insatisfação é permanente. Se a vida profissional vai mal, sofre, adoece, e tem dificuldade de reconhecer que precisa de ajuda. Geralmente trabalha muitas horas por dia, mas descuida-se da vida pessoal e da saúde. Foge dos problemas pessoais, familiares e se distancia do social. Sua vida se resume em afundar-se no trabalho, imaginando que isso é ser produtivo e que será, ou está sendo, reconhecido por isso.
IHU On-Line – De que forma o stress se manifesta na personalidade desses dois perfis?
Silvia Osso – Muitos workaholics acham que amam seus trabalhos e, por isso, trabalham muito. Mas só se dão conta que não o são quando alertados por algum Coaching [1] que são “viciados em trabalho” e que sua motivação pelo trabalho é muito alta. Se a vida profissional vai mal, sofre adoece e tem dificuldade de reconhecer que precisa de ajuda.
Os workaholics geralmente são indisciplinados, trabalham à exaustão, têm mais chances de sofrer doenças cardiovasculares, gastrites, depressão, uso de drogas, entre outras doenças físicas e psíquicas. Os ambulatórios de medicina do trabalho das grandes empresas estão cheios de casos desta natureza.
Já o worklover geralmente não manifesta o stress em sua personalidade. Porque ele consegue separar a vida pessoal da vida profissional e, por isso, ele cuida da saúde, faz esportes, ele faz coisas que realmente lhe dão prazer além do trabalho. Existe um stress, mas é um stress que acontece na vida normal de todo mundo. O worklover normalmente não tem aquele stress que provoca problemas físicos como gastrite e hipertensão, doenças que se manifestam nos workaholics. O workaholic se dedica ao trabalho de forma que ele espera uma recompensa emocional proveniente disso. O worklover espera essa recompensa de outro tipo de convívio e experiência de vida.
IHU On-Line – A senhora poderia apontar relações entre a geração Y e o stress?
Silvia Osso – A geração Y é formada tanto por workaholics quanto por worklovers. O problema não é ser Y, mas sim como se encara e utiliza o trabalho em sua vida.
IHU On-Line – Como a senhora vê esses dois perfis no mundo do trabalho hoje?
Silvia Osso – A geração Y, por exemplo, não é comprometida. Então, encontramos muitos que são mais worklover do que workaholic nesse grupo. No entanto, também é possível encontrar jovens na faixa etária dos 20 anos que estão tão estressados quanto os senhores de 55. Isso tem muito mais a ver com o perfil pessoal da pessoa do que com o profissional, porque há quem trabalhe em grandes corporações de geração Y que são pressionados o tempo inteiro e que apresentam o mesmo perfil de um workaholic. A classe médica, por exemplo, é um grupo pressionado e que pode trabalhar 36 horas seguidas atendendo pacientes.
Os workaholics e os worklovers são os perfis que representam a tipologia de quem está no mundo do trabalho hoje. Dentro do que se pode chamar normalidade, existe um terceiro perfil que alterna entre esses dois comportamentos.
IHU On-Line – Como o trabalho influencia nos modos de vida do worklover?
Silvia Osso – O worklover é aquela pessoa que está sempre de bem com a vida. De manhã, ele cumprimenta todo mundo. A vida para ele é algo prazeroso. O sucesso, para o worklover, é o que ele conquista todos os dias. Resultado, para esse perfil, se busca, mas ele não vai morrer pela empresa. São pessoas com um humor extremamente agradável e que compreendem melhor o ser humano.
IHU On-Line – Podemos dizer que o worklover é uma versão saudável do workaholic?
Silvia Osso – Com certeza. Na verdade, algumas pessoas são worklovers a vida toda, mas há workaholics que, por força da pressão e por terem tido problemas como infarto, começam a aprender que existe outra vida. Eles entendem que o trabalho não é uma recompensa por si só, mas sim um processo produtivo.
IHU On-Line – Mas dedicar-se demais ao trabalho, tanto no caso do worklover quanto do workaholic, não é doença?
Silvia Osso – Não, porque se é um prazer, não é uma doença. A doença vem para o indivíduo que não consegue equilibrar todos os perfis que ele tem no dia-a-dia. Todos nós precisamos de recompensa e stress, mas tudo tem que ter um equilíbrio.
Notas:
[1] Coaching é um processo definido em comum acordo entre um profissional (coach) e um cliente (que pode ser um trabalhador ou uma empresa), onde o coach apoia o cliente na busca de realizar metas de curto, médio e longo prazo, através da identificação e uso das próprias competências desenvolvidas, como também do reconhecimento e superação das fragilidades.
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Worklover x Workaholic: quem é quem no mundo do trabalho hoje? Entrevista especial com Silvia Osso - Instituto Humanitas Unisinos - IHU