21 Março 2018
Continua sem parar a oração do Papa Francisco junto aos túmulos das testemunhas incômodas do nosso tempo, figuras que, apesar de terem servido e glorificado a Igreja, em vida foram objeto de medidas disciplinares, de “castigos” judiciais, até mesmo de afastamentos dos sacramentos e da pregação pública, para depois serem reabilitados post mortem e apontados como exemplo de santidade cristã.
A reportagem é de Orazio La Rocca, publicada por Il Tirreno, 18-03-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
De São Padre Pio – venerado nesse sábado, 17, pelo pontífice em Pietrelcina e em San Giovanni Rotondo – ao Pe. Tonino Bello e ao Pe. Zeno Saltini (a quem Bergoglio visitará no próximo mês), depois que, no ano passado, ele fez uma peregrinação semelhante, de surpresa, a dois sacerdotes populares como o Pe. Lorenzo Milani e o Pe. Primo Mazzolari, punidos pelas hierarquias eclesiais do seu tempo, mas a quem Francisco definiu como “profetas que, com seus testemunhos e sua clarividência, anteciparam linhas pastorais que só mais tarde teriam sido apreciadas e promovidas”.
Continua a peregrinação bergogliana ao longo da simbólica Via Sacra pontilhada de figuras emblemáticas que, no século passado, tornaram a Igreja mais próxima das pessoas, aquela Igreja “hospital de campanha após uma batalha” desejada por Francisco, eleito há cinco anos.
No último sábado, Francisco “encontrou-se” pela segunda vez com São Padre Pio. A primeira vez foi no dia 6 de fevereiro de 2016, na Praça de São Pedro, em pleno Jubileu da Misericórdia, quando os restos mortais do santo foram expostos aos peregrinos. E, sempre com palavras e elogios a anos-luz de distância das medidas disciplinares às quais as autoridades eclesiásticas submeteram o Padre Pio, proibindo-o durante anos de celebrar a missa em público, de confessar e de dispensar os sacramentos. Uma verdadeira “reclusão” que o frade aceitou em plena obediência, até a completa liberalização, que culminou com a ascensão aos altares com a canonização proclamada por João Paulo II. Francisco não ficou atrás, indicando São Padre Pio como “modelo de santidade do nosso tempo”.
O Papa Bergoglio proferiu elogios semelhantes no ano passado, em janeiro, quando foi rezar sobre os túmulos dos padres Mazzolari e Milani. O Pe. Milani, “exilado” na perdida igrejinha de Barbiana, onde teve a profética clarividência de fundar uma escola para os filhos das famílias pobres do lugar. O Pe. Mazzolari, forçado também ele ao silêncio e ao isolamento por ter “ousado” defender em voz alta os direitos dos trabalhadores e desempregados.
Feridas que os dois sacerdotes aceitaram em plena obediência e sempre a serviço da Igreja. Com aquela visita, o Papa Francisco pediu-lhes publicamente “desculpas”, elevando-os a exemplo para todo o universo católico e toda a sociedade civil.
Entre abril e maio próximos, ele fará o mesmo com outras três figuras-símbolo que deixaram marcas indeléveis na Igreja e na sociedade: o Mons. Bello, a 25 anos de sua morte, uma vida gasta a serviço do diálogo e do encontro das pessoas, seja como sacerdote, seja como bispo e, em particular, como presidente da Pax Cristi, instituição eclesial dedicada à promoção da paz universal sem compromissos, à condenação dos armamentos e de todas as guerras.
O Pe. Zeno Saltini, pai fundador da Comunidade de Nomadelfia, em Grosseto, que, a 37 anos de seu falecimento (ele morreu em 1981, aos 81 anos de idade), continua sendo um guia moral e espiritual seguro para aqueles (homens, mulheres, crianças) que encontraram na sua instituição uma razão para viver, ajuda concreta, força para seguir em frente.
A vida de Chiara Lubich (falecida em 2008, aos 88 anos de idade), fundadora do Movimento dos Focolares, firme defensora da promoção da família e do diálogo ecumênico, despreocupada também ela com desconfianças e incompreensões – até mesmo entre as instituições eclesiais – que tentaram impedir seu caminho, mas sem detê-la.
Chiara Lubich, Pe. Milani, Pe. Mazzolari, Pe. Tonino Bello, Pe. Zeno Saltini, São Padre Pio: figuras muito populares, embora muito diferentes em termos de carisma, caráter e escolhas pastorais, que Bergoglio sempre levou em grande consideração, por serem modelos daquela Igreja “em saída”, tão cara para ele.
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Papa Francisco e o elogio das figuras punidas pela hierarquia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU