“Vim para o Chile enviado pelo Papa Francisco, para recolher informações úteis sobre dom Juan Barros Madrid”. Se algo parece claro é que a missão de Charles Scicluna não será mantida em segredo. Antes de começar a receber os testemunhos sobre o polêmico bispo de Osorno, o enviado papal quis convocar a imprensa. Algo está mudando.
A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 20-02-2018. A tradução é de André Langer.
Em uma breve aparição nas dependências das Pontifícias Obras Missionárias (as vítimas não queriam ir à Nunciatura, de modo a mostrar sua rejeição a Ivo Scapolo), na qual estava acompanhado pelo porta-voz do episcopado chileno, Jaime Coiro, Scicluna saudou os jornalistas em um espanhol fluente, enfatizando que “eu vim para o Chile enviado pelo Papa Francisco para recolher informações úteis sobre dom Juan Barros Madrid, bispo de Osorno”.
“Quero manifestar minha gratidão às pessoas que se declararam disponíveis para se encontrarem comigo nos próximos dias”, disse o prelado maltês, que quis aproveitar a oportunidade para enviar “uma saudação afetuosa” do Papa Francisco ao povo chileno.
Coiro, por sua vez, queria deixar claro que “dom Scicluna não está aqui para estabelecer a verdade e fazer justiça em todos os casos de abusos sexuais da Igreja no Chile”, que, segundo ele, estão sendo investigados por autoridades canônicas e civis. “Ele não irá agir como um juiz ou um tribunal”.
Sobre o procedimento, o porta-voz do episcopado confirmou que nenhuma informação será fornecida sobre as pessoas que se encontrarão com a Scicluna, porque “vários deles pediram expressamente para não serem identificados”.
De qualquer forma, sabe-se que o enviado papal irá se reunir com pelo menos 20 leigos de Osorno, bem como o resto dos denunciantes do sacerdote pederasta Fernando Karadima, somando-se assim ao relato que deu, na sexta-feira passada, Juan Carlos Cruz, em Nova York.
Coiro qualificou como um “bom sinal” o fato de que o arcebispo de Malta tenha vindo ao Chile para reconciliar as vítimas de Fernando Karadima, algo que eles mesmos valorizaram. “Eles foram ouvidos”, disse ele.
Da mesma forma, ele enfatizou que, embora Scicluna volte para Roma na próxima sexta-feira, “permanecerá disponível mesmo depois disso”. “Saiba que aqueles que não conseguirem (...) dar seu testemunho, há um caminho aberto para que estes testemunhos sejam entregues em um envelope fechado à Nunciatura Apostólica que chegarão diretamente nas mãos de dom Scicluna”.
Declaração de Charles J. Scicluna:
Boa tarde. A todos vocês, pertencentes a diferentes meios de comunicação, agradeço-lhes sua presença e interesse em estar aqui hoje.
Vim para o Chile enviado pelo Papa Francisco para recolher informações úteis sobre dom Juan Barros Madrid, bispo de Osorno.
Quero manifestar a minha gratidão às pessoas que se declararam disponíveis para se encontrarem comigo nos próximos dias.
Agradeço também ao pessoal da Nunciatura Apostólica sua acolhida e colaboração e de forma especial a S.E. dom Ivo Scapolo, Núncio Apostólico no Chile.
O Santo Padre, que ainda lembra com emoção a calorosa acolhida que recebeu em sua recente viagem apostólica a este país, transmite uma saudação afetuosa, acompanhada de sua bênção especial, para vocês e para todo o povo chileno.
Muito obrigado.
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Scicluna. “Venho para recolher informações úteis sobre dom Barros” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU