17 Novembro 2017
A Comissão Justiça e Paz de Brasília (CJP-DF), buscando trilhar o caminho iluminado pelo Papa Francisco, promoveu no domingo, 12 de novembro de 2017, o I Encontro de Diálogo, para mútuo conhecimento, entre o Arcebispo e Presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) D. Sergio da Rocha e representantes de movimentos populares atuantes no Distrito Federal e região metropolitana.
(Foto: Comissão Justiça e Paz - DF)
“Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma digna velhice. Continuai com vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra.”
(Discurso do Papa Francisco no II Encontro Mundial dos Movimentos Populares, Santa Cruz de La Sierra-Bolívia, julho de 2015.)
A informação é de Mauro Almeida Noleto, membro da Comissão Justiça e Paz de Brasília e mestre em Direito pela Universidade de Brasília-UnB.
Engajados nas lutas por Terra, Teto e Trabalho - os três T’s a que se refere o Santo Padre -, as lideranças dos movimentos compareceram em peso à sede da Cúria Metropolitana para expressar seus “anseios e esperanças”, ao tempo em que sugeriram a D. Sergio e a toda a Igreja de Brasília suas “pistas e apoios para o enfrentamento das graves questões vividas pelas classes trabalhadoras do Distrito Federal”. Organizados em três grupos, de acordo com suas respectivas lutas por terra, trabalho e pelo direito à cidade e à moradia, as lideranças se revezaram na apresentação de suas identidades, conflitos, carências sociais e bandeiras de luta, em tom sempre respeitoso e esperançoso diante da oportunidade oferecida pela Igreja de Brasília ao abrir suas portas e seu coração para o clamor daqueles que mais sofrem e lutam por justiça em nossa sociedade.
Após ouvir atentamente todas as manifestações, D. Sergio, em resposta, indicou a necessidade de que sejam dados novos passos de solidariedade e comunhão com as lutas populares. “Escutei, anotei tudo no papel e no coração. E tudo isso será passado para o coração da Igreja”, declarou o Cardeal, que foi também muito enfático quanto à necessidade de que aquele encontro seja considerado apenas o primeiro de outros que deverão ocorrer em breve.
(Foto: Comissão Justiça e Paz - DF)
Durante o Encontro, que contou também com a participação expressiva de religiosos e leigos integrantes de diversas pastorais sociais do Distrito Federal, bem como de D. Leonardo Steiner, bispo Auxiliar de Brasília e Secretário-Geral da CNBB, os movimentos ali representados divulgaram uma expressiva Nota, na qual afirmam ter “consciência que grande parte dos problemas aqui discutidos e analisados tem notoriamente uma raiz política, fincada na matriz de exclusão social que nos afeta como setores empobrecidos pela desigualdade social. Mas não obstante tanta violência e aflição que vivemos no dia-a-dia, anima-nos a esperança de justiça, tão bem expressa pelo Papa Francisco em final de 2014.” A Nota também destaca a gratidão e o entusiasmo dos movimentos quanto ao fato de que “a Igreja de Brasília, sintonizada com o Papa Francisco, repita o gesto de diálogo com os Movimentos Populares da Terra, do Trabalho e da Moradia e se abra ao chamamento que os movimentos fazem para que pastoralmente se solidarize ativamente em suas causas e suas lutas”.
O evento, que foi transmitido ao vivo pelas redes sociais, contou com as presenças da jornalista Tereza Cruvinel do portal de notícias Brasil 247 e do jornalista Beto Almeida da TV Comunitária de Brasília que, em suas intervenções, exaltaram e enalteceram a iniciativa auspiciosa da Igreja de Brasília.
Reunidos no dia seguinte ao Encontro, os membros da Comissão realizaram uma avaliação bastante positiva do resultado alcançado e já começaram a projetar novas atividades e iniciativas de atuação conjunta e solidária com os movimentos do Distrito Federal, de modo a cumprir a exortação de D. Sergio. Entre as medidas discutidas está a produção e divulgação de uma publicação em formato de cartilha ou fascículo, contendo a descrição da metodologia aplicada (identificação dos movimentos, contato com as lideranças, reuniões de preparação, documentação das exposições, elenco das demandas e reivindicações, interface com as pastorais e comissões da Igreja, organização das falas e compromissos firmados, entre outros procedimentos). Com isso, espera-se, além de assegurar “voz” e reconhecimento aos movimentos e suas lutas por justiça, estimular a realização de iniciativas semelhantes em outras dioceses por todo o país, reforçando a rede de solidariedade em torno daqueles que lutam por Terra, Teto e Trabalho. Afinal, apesar das dificuldades e do grave momento de crise que atravessamos, encontra-se luz na mensagem profética de Francisco, para quem: “Solidariedade é uma palavra que nem sempre agrada; no seu sentido correto é pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade, da vida de todos sobre a apropriação de bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade, a falta de trabalho, a luta pela terra, pela casa, a luta pelos direitos sociais e trabalhistas. A solidariedade entendida no seu sentido mais profundo é a forma de fazer história, é isso que os movimentos populares fazem...”.
(Foto: Comissão Justiça e Paz - DF)
Neste domingo, dia 19 de novembro de 2017, a Igreja celebra pela primeira vez o Dia Mundial dos Pobres, que foi instituído pelo Papa Francisco quando lançou a Carta Apostólica Misericordia et misera, em novembro de 2016. Em junho deste ano, Francisco publicou uma mensagem para este I Dia Mundial dos Pobres, com o tema “Não amemos com palavras, mas com obras”. Nela, Sua Santidade ressalta que “se desejamos dar o nosso contributo eficaz para a mudança da história, gerando verdadeiro desenvolvimento, é necessário escutar o grito dos pobres e comprometermo-nos a erguê-los do seu estado de marginalização”.
Ainda ecoam os clamores dos movimentos populares por justiça e paz, por terra, teto e trabalho, lançados durante o I Encontro de Diálogo com a Arquidiocese de Brasília no domingo, dia 12 de novembro. Eles esperam por nossa solidariedade (“sinal concreto de fraternidade”), mas merecem muito mais do que apenas palavras de apoio, senão acolhimento, partilha, diálogo e ajuda concreta, pois, como ensina o Papa Francisco “os pobres não são um problema: são um recurso de que lançar mão para acolher e viver a essência do Evangelho”.
(Foto: Comissão Justiça e Paz - DF)
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Arquidiocese de Brasília abre as portas para os Movimentos Populares - Instituto Humanitas Unisinos - IHU