13 Outubro 2017
“Imaginar, inovar, inventar novas formulações litúrgicas mais acessíveis ao grande número daqueles que vão embora silenciosamente. Essa é precisamente a minha motivação: entre aqueles que vão embora, há uma parte dos meus bisnetos, todos aqueles que estão nas praças e aqueles que se tornaram indiferentes, e todos aqueles que estão no fundo das igrejas e que não se atrevem a dizer nada.”
A reflexão é de Gérard Dupont, publicada por Baptises.fr, 04-10-2017. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
"Jovem octogenário", sempre bem engajado na vida, sinto a necessidade de falar de um mundo que, espiritual e materialmente, me parece que, na escala do tempo, está correndo sabe-se lá para onde.
Como cristão, o religiosamente correto me aborrece. Jean-Claude Guillebaud, escritor e jornalista da revista La Vie, escreveu recentemente: “Precisamos de pessoas que interpelem a Igreja”. Eu aceitei o desafio, decidindo expor, sem rodeios, o meu rude caminho no crer.
Eu continuo sendo católico, religião do meu nascimento e dos meus antepassados, que me abriu a uma primeira expressão de fé e me fez descobrir aquela força de amor e de misericórdia que nós chamamos de Deus.
Hoje, eu sinto, em relação a todas as religiões, uma certa desconfiança. Considero-as como portais de acesso, não como obrigações a seguir.
Deus é movimento de vida e de amor, intercâmbio entre pessoas. Para mim, a Trindade é Deus, Seu Espírito e o homem, todo o homem, todos os homens que têm esse tesouro escondido no mais profundo da sua consciência. Essa mensagem passa por um homem eleito, Jesus, meu irmão mais velho que eu não imagino como “filho único”. Nós todos somos filhos de Deus.
Ele é o único caminho para se chegar a Deus? Eu não penso assim. Mas é o meu jeito. Esse postulado trinitário nos separa de todo acordo com o Islã e com as outras religiões monoteístas. Podemos fingir que somos os únicos detentores da Verdade e supor que Deus deixa bilhões de pessoas no erro?
Isso me lembra o meu pároco, que pensa que todo bom muçulmano é um muçulmano convertido. É um ponto de vista que eu respeito, mas, assim como o ecumenismo me parece ser uma questão que nem deveria mais ser levantada, assim também não temos outras soluções além de um caminho paralelo às outras religiões monoteístas.
Mas nós temos, sem deformá-la, uma mesma mensagem essencial a testemunhar a todos os nossos irmãos: amemo-nos uns aos outros assim como nós somos amados.
Como membro da Conférence des Baptisés [Conferência dos Batizados], assumi a posição de “nem sair nem me calar”, embora essas proposições envolvam apenas a mim. Eu acho que, de boa fé, gerações de cristãos deificaram Jesus.
Eu sinto um profundo respeito pelo conjunto das Escrituras ditas sagradas. Elas continuam sendo a nossa referência, o nosso guia bimilenar, mas, como cristão pós-conciliar, sem cair em um relativismo integral, eu as interpreto em um segundo nível e segundo a minha consciência livre.
Imaginar, inovar, inventar novas formulações litúrgicas mais acessíveis ao grande número daqueles que vão embora silenciosamente. Essa é precisamente a minha motivação: entre aqueles que vão embora, há uma parte dos meus bisnetos, todos aqueles que estão nas praças e aqueles que se tornaram indiferentes, e todos aqueles que estão no fundo das igrejas e que não se atrevem a dizer nada.
Que caos e, ao mesmo tempo, que fé em todos aqueles padres que tentam se adaptar, nessa Igreja que acolhe cada vez mais iniciativas e movimentos na riqueza da sua diversidade! A base existe, falta-lhe a forma. Ir ao encontro dos outros lá onde eles estão, escutá-los, falar com eles em uma linguagem que eles compreendam.
Submeto a vocês uma oração que eu tentei compor. Vários teólogos e exegetas, nem todos em odor de santidade no Vaticano, certamente me influenciaram. Curiosamente, sinto-me livre e não tenho a impressão de que o Espírito Santo bloqueie o meu raciocínio. Eu guardo o essencial, Jesus e aquele Espírito que ele deixou de herança para todos nós. Não posso saber como ele ressuscitou, mas ele simplesmente revive em nós.
Em uma missão que eu continuo, visita aos doentes no hospital, um serviço diocesano, evitando perturbá-los com as minhas interpretações, eu tento testemunhar a sua presença, compartilhar aquela alegria interior e aquela serenidade que me animam.
“Ser católico significa é compartilhar não uma doutrina que se pode discutir, mas uma Presença que se pode respirar. Isso é tudo para nós” (Maurice Zundel).
Creio em um único Deus, única fonte infinita de amor e de misericórdia, Presença imanente e invisível em todo ser humano.
Creio em Jesus, filho do homem e escolhido entre os homens para transmitir a mensagem divina: amem-se uns aos outros como eu os amei.
Ele percorreu o caminho do sofrimento e da morte. Ele foi crucificado por não renegar as suas convicções diante da cobiça de uns e da covardia de outros.
Ele morreu e foi sepultado; mas revive na plenitude de Deus e do seu Espírito Santo, está presente na comunidade universal da sua Igreja.
Ele permanece disponível para todos os seus irmãos e irmãs, convidados a acolhê-lo.
Creio na oferta divina de nos curar e de fazer de nós verdadeiros seres humanos, libertos.
Creio no futuro divino da humanidade, um futuro que é Vida sem limites.
Gérard Dupont, setembro de 2017
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