05 Outubro 2012
Na tarde desta quinta-feira, 04-10-2012, o teólogo Érico Hammes (foto) apresentou o minicurso “O Mistério da Igreja, hoje. Desafios e possibilidades do diálogo entre teologia e ciência”, como parte da programação do XIII Simpósio Internacional IHU – Igreja, Cultura e Sociedade. A semântica do Mistério da Igreja no contexto das novas gramáticas da civilização tecnocientífica.
A reportagem é de Mariana Staudt.
Na primeira parte da sua palestra, Hammes provocou aos presentes que deveriam sair dali com mais perguntas do que respostas e, logo após, fez referência ao motivo do GS 62: “As recentes investigações e descobertas das ciências, da história e da filosofia, levantam novos problemas, que implicam consequências também para a vida e exigem dos teólogos novos estudos. Além disso, os teólogos são convidados a buscar constantemente, de acordo com os métodos e exigências próprias do conhecimento teológico, a forma mais adequada de comunicar a doutrina aos homens do seu tempo; porque uma coisa é o depósito da fé ou as suas verdades, outra o modo como elas se enunciam, sempre, porém, com o mesmo sentido e significado”.
A base da conferência do teólogo foi o porquê do diálogo entre teologia e ciência ser importante. “Teologia tem duas definições. Uma seria identificar e estudar Deus; e a outra o estudo e a inteligência da fé, ou seja, o ‘eu creio’ é o momento subjetivo e ‘o que eu creio’ é momento objetivo da fé”, afirma Hammes.
Complementando sua exposição e promovendo o debate do grupo, comenta que as ciências não vão nos ajudar a crer em Deus, pois a fé é entendida como sendo uma atitude inicial frente a uma realidade, isto é, quando se diz “eu creio”. “Eu sempre sou um sujeito racional, mesmo no ato de fé. Como ser humano racional, deve-se ter a capacidade mínima de dizer ‘isso aqui pode se explicar dessa ou daquela forma.’ Dizer que Jesus de Nazaré é filho de Deus, pode ser explicado de tal forma. Não posso inventar uma resposta, mas posso basear a minha resposta em uma tradição explicativa”.
Como questões atuais de debate, Hammes pontua o pecado original, o ateísmo evolucionista, o evolucionismo teísta, a criação direta da alma por Deus e a vida em geral e vida humana.
O professor Érico Hammes fez algumas referências ao debate “Fé e ciência: um diálogo possível?”, entre o físico Marcelo Gleiser e o teólogo alemão Michael Welker, ocorrido em 03-10-2012, também como parte da programação do XIII Simpósio Internacional IHU. Destacou a fala de Gleiser sobre a forma do ateísmo. “Posso ser uma pessoa de fé em Deus existente ou crer que Deus não existe. Ateísmo não tem provas de que Deus não existe, mas nós também não temos como provar que existe, a partir dos recursos naturais que a ciência utiliza”, salienta. Afirma, ainda, que ser cientista não tem relação com ser alguém que crê ou não crê. Ciência e fé são dois campos de abordagem da realidade distintos. Já a teologia é o passo seguinte, aproximando-se mais da ciência. A teologia, enquanto inteligência da fé, tem um sujeito. A ciência possui um objeto, embora não exclusivamente, pois o ser humano, mesmo do ponto de vista da ciência, não pode ser apenas um objeto.
“Cada um de nós faz a sua biografia da fé e acha as razões para o seu creio. Por que eu creio? Isto está ligado à própria história e é preciso ter esta questão assumida em primeira pessoa, porque, às vezes, a crença é apenas repetida e não sentida. Não se pode crer em Deus, se não há uma experiência”, e ressalta que as mesmas vivências que conduzem a crer ou não crer, não produzem o mesmo resultado nas pessoas. É um desafio de linguagem e cabe a teologia buscar a forma mais adequada de comunicar sua doutrina.
Durante conferência, ele citou o livro Quando a ciência encontra a religião, de Ian Barbour, que apresenta o panorama geral da teologia x ciência, e gerando quatro questões: o conflito, a independência, o diálogo e a integração. Aponta, ainda, que a filosofia como uma mediadora indispensável neste diálogo.
Encaminhando-se para o término do minicurso, o teólogo explica que a fé depende de comunicação e que crer não é algo individual, é comprometer-se com alguém fora de si, finalizando com a seguinte declaração: “a relação de Deus com a natureza, não compromete a natureza com Deus”.
Érico Hammes é graduado em Filosofia pela Faculdade de Filosofia Nossa Senhora da Imaculada Conceição e em Teologia pela PUCRS. É mestre e doutor em Teologia Sistemática pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG, em Roma, com a tese Filii in Filio: A divindade de Jesus como evangelho da filiação no seguimento. Um estudo em Jon Sobrino (Porto Alegre: Edipucrs, 1995).
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Por qual razão eu creio? O debate entre teologia x ciência, por Érico Hammes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU