Por: Lara Ely | 10 Outubro 2017
Enquanto o governo colombiano negocia com o Exército de Libertação Nacional - ELN um cessar fogo mediado pela Organização das Nações Unidas, as forças armadas oficiais assassinam campesinos. A morte de seis "cocaleros" (plantadores de coca), na semana passada, caiu como uma bomba para a reputação de Juan Manoel Santos, presidente que se esforça para solidificar o acordo de paz com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Farc, agora convertidas em partido político.
O fato aconteceu na última quinta-feira, 05-10-17, durante um confronto entre polícia e civis que participavam de um protesto contra a erradicação de plantações ilegais de coca na região Tumaco, no sudoeste do país, fronteira com o Equador. Além dos seis mortos, o massacre teve 14 pessoas feridos e um retrocesso aos acordos de paz do ano passado.
Ao lamentar e condenar o ocorrido, Santos ratificou que o governo prosseguirá com a estratégia contra as drogas, que combina acordos de substituição voluntária com a erradicação forçada de cultivos. “Não vamos permitir que nenhuma organização criminosa frustre uma política que deve ser uma política bem-sucedida (…), recuperar a legalidade em todo o território nacional e substituir os cultivos de coca por cultivos lícitos”, expressou o presidente em declaração à imprensa na casa de governo.
A ONU já havia alertado para o aumento dos assassinatos. Em março, o Escritório da Colômbia do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos havia dito que o “vazio deixado pelas Farc” está sendo “ocupado por grupos ao serviço do narcotráfico”. Na oportunidade, a entidade emitiu um documento onde chamava a atenção para o “aumento de assassinatos nas áreas rurais”.
Há várias versões para explicar o que aconteceu. Enquanto o exército e a polícia atribuem o choque a um atentado do grupo dissidente 'Guacho' (o qual a Farc esclarece por meio de nota em seu site que não faz parte de suas listas oficiais) que teria lançado uma bomba de cinco cilindros contra a Força Pública, a Asociación de Juntas de Acción comunal de los ríos Nulpe y Mataje - Asominuma afirma que foi o Exército que "atacou desproporcionalmente contra a comunidade que protestava pacificamente". Segundo esta entidade, o número de mortos foram 9 e feridos 18.
O processo de pacificação das Farc avança de forma aparentemente irreversível, o que deve pôr fim a uma guerra civil de 53 anos, e o diálogo de paz com a segunda guerrilha do país, o Exército de Libertação Nacional, também já está instalado. Porém, nas duas últimas semanas, de acordo com o Conselho Comunitário de Alto Mira e Frontera, as comunidades foram utilizadas como "escudos humanos antes da intervenção da Força Pública que realiza tarefas de erradicação forçada".
Pressionado pelos Estados Unidos, o governo Santos planeja acabar este ano com 100 mil hectares de cultivos ilegais. Entre 2015 e 2016 os cultivos dispararam 52% em todo o país até somar 146 mil hectares, e a produção de cocaína passou de 646 a 866 toneladas de cocaína, segundo a ONU.
Embora Tumaco tenha sido o local onde o conflito eclodiu, em outras partes do país a situação também é crítica. Conhecido como "o pulmão do tráfico de drogas", pela proximidade com a fronteira com o Equador, ao longo do rio Mataje, a área representa a rota de entrada para a transformação da coca. A droga produzida na Colômbia vai principalmente para os Estados Unidos, onde abastece mercados de Miami, Nova Iorque e Chicago.
A Colômbia e Exército de Libertação Nacional (ELN) acertaram, em Quito, um cessar-fogo bilateral que deverá vigorar até 12 de janeiro de 2018, dois dias antes da chegada do Papa Francisco para visita ao país andino. Há margem para prorrogação. “A prioridade é proteger os cidadãos, por isso, durante este período, sequestros, ataques a oleodutos e outras hostilidades contra a população civil cessarão”, acrescentou. Os detalhes e os métodos de verificação, no entanto, ainda estão sendo finalizados.
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Colômbia. Protesto de cocaleros deixa seis mortos em Tumaco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU