07 Agosto 2017
Em nota divulgada neste domingo, 06 de agosto, Dom Antônio Carlos Cruz Santos, bispo de Caiacó, pronunciou-se sobre a polêmica criada em torno da homilia proferida no encerramento da Festa de Sant’Ana, em 30 de julho. A nota foi lida pelo bispo durante a missa e publicada pela Diocese de Caiacó, 06-08-2017.
No último dia 30 de julho do corrente ano, em razão da homilia por mim proferida no encerramento da Festa de Sant’Ana, padroeira de nossa Diocese de Caicó, muitas contestações se levantaram a partir da referência que fiz, sobre o tema da homoafetividade.
Como “cada ponto de vista é a vista de um ponto”, gostaria de esclarecer a partir de que ponto eu estava falando. Encontro-me no sertão no Seridó há três anos e a cada dia tenho aprendido a amar este povo forte e sofrido. Uma das dores desta região que corta o meu coração de pastor é o alto índice de suicídio (só na cidade de Caicó, nos dez primeiros meses do ano passado, tivemos dezenove casos). Com frequência tenho abordado este tema e, por isso, muitas pessoas tem me procurado para partilhar experiências, o que me fez entender que vários casos estavam associados a conflitos de ordem afetiva.
O Evangelho de domingo era Mateus 13, 44-52, e nos apresentava o Reino de Deus como um comprador de pedras preciosas que ao encontrar uma de grande valor, vai vende tudo o que tem e compra aquela perola. Também Jesus nos dizia que quem se torna discípulo do Reino dos Céus, é como um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas. Com esta imagem, convidei a assembléia a refletir sobre a perola que o Evangelho estava nos dando na Festa de Santana.
Dentro do contexto, abordei o tema dos irmãos e irmãs com orientação homoafetiva, procurando enxerga-los de uma forma evangélica, por isso me dirigi aos que sofrem por causa desta condição. Em geral, a orientação sexual não é uma opção, pois em determinado momento da vida a pessoa se descobre com esta ou aquela tendência. Opção é a forma como a pessoa viverá essa orientação. A minha preocupação ao abordar tema tão delicado, é de caráter eminentemente pastoral e busca acolher, no contexto de nossa Igreja Particular, as orientações da Igreja sobre essa questão, desenvolvidas e aprofundadas nos últimos decênios. O Catecismo da Igreja Católica já nos ensina a respeito do cuidado necessário para com as pessoas homoafetivas: “Um número considerável de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido a sua condição” (CIC, 2358).
Tenho total convicção de que não agi de má fé nem quis induzir ninguém ao erro. Mas, como o Papa Francisco já nos pediu bastante vezes, as pessoas já sabem de cor a doutrina da Igreja sobre aborto, divórcio e atos homossexuais. Ele pede de nós que não fiquemos obcecados em sempre insistir no pecado aumentando a ferida cada vez mais dessas pessoas, mas insistamos que a Igreja está de portas abertas para acolher, instruir, discernir, amar a fim de levar a salvação a todos sem exceção (L’Osservatore Romano, edição semanal em português, Ano XLIV, número 39, Domingo, 29 de setembro de 2013).
Com minha reflexão, em clima de oração, enquanto pastor que se comove diante das fragilidades do seu rebanho, sem querer minimizar as dimensões doutrinal e moral que a matéria em questão envolve, minha intenção é de salvar vidas, contribuindo para que possamos superar os preconceitos que matam e entrar na dinâmica da misericórdia de Deus que respeita, resgata e salva as pessoas. Humildemente confesso que este é o sentimento de um pastor que procura assimilar, no exercício concreto do seu ministério, a mesma compaixão do Bom Pastor, que busca “ter o cheiro das ovelhas”, e que, como Pai, preocupa-se pela salvação e pela dignidade da vida dos seus filhos.
Quero confirmar que sou filho da Igreja, amo a minha Igreja, professo e aceito toda a sua doutrina e, em razão da minha prometida fidelidade ao Sucessor de Pedro, o Papa Francisco, estou procurando colocar em prática os ensinamentos do seu magistério e suas orientações pastorais sobre o tema em questão. Simplesmente busquei ser fiel ao meu lema episcopal: “Olharão para Aquele que transpassaram” (Jo 19,37), tendo os olhos fixos no Transpassado quis contemplá-lo nos transpassados da história. Finalizo com desejo de que as sábias palavras de Santo Agostinho nos inspirem e nos guiem diante e nossas perplexidades: “Na essência a unidade, na dúvida a liberdade, em tudo a caridade”. Rezemos uns pelos outros.
De peito aberto…
Caicó, RN, 06 de agosto de 2017
Festa da Transfiguração do Senhor
Festa do Senhor Bom Jesus
Dom Antônio Carlos Cruz Santos
Bispo Diocesano de Caicó
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"Tenho total convicção de que não agi de má-fé nem quis induzir ninguém ao erro", diz Dom Antônio Carlos em nota - Instituto Humanitas Unisinos - IHU