15 Julho 2014
"Até mesmo o líder de uma organização religiosa que buscava curar pessoas gays – atualmente desativada – afirmou que 99.9% das pessoas que ele conheceu e que tinham atração por pessoas do mesmo sexo 'não vivenciaram uma mudança na sua orientação'", escreve Kirsten Powers, colunista do jornal USA Today, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 10-07-2014. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Eis o artigo.
Poderá haver um futuro em que a maioria dos cristãos apoia relações homoafetivas? Se sim, será devido ao surgimento dos cristãos conservadores que dizem que os fiéis ortodoxos podem apoiar relações monogâmicas ao longo da vida sem enfraquecer o seu compromisso com a autoridade bíblica.
No novo livro intitulado “God and the Gay Christian: The Biblical Case in Support of Same-Sex Relationship” [Deus e o cristão gay: O caso bíblico em apoio das relações homoafetivas], Christian Matthew Vines examina as seis passagens bíblicas sobre o comportamento gay e sustenta que elas não abordam os relacionamentos homoafetivos de longo prazo da atualidade.
James Brownson, estudioso do Novo Testamento que publicou em 2013 o livro “Bible, Gender, Sexuality: Reframing the Church's Debate on Same-Sex Relationships” [Bíblia, gênero e sexualidade: Reenquadrando o debate da Igreja sobre as relações homoafetivas], concorda com esta afirmação. Segundo ele, “o sexo entre homens no mundo antigo era episódico. Era principalmente feito entre jovens garotos e homens mais velhos ou entre escravos e senhores. Não era mútuo. Não eram relacionamentos, não eram casamentos e não eram feitos para se transformarem em casamento”. Brownson disse que comparar o que os escritores antigos viam como “excesso de sexo” heterossexual – semelhante à gula – com a concepção moderna de orientação sexual é um equívoco.
Não se trata de moldar o ensino bíblico para satisfazer uma crença pessoal. Vines e Brownson têm uma “alta valoração” para com as Escrituras, ou seja, é ela a autoridade final sobre todos os assuntos de fé e vida. Eles se opõem ao pecado do divórcio e ao sexo antes do casamento. Mas Brownson também diz: “A questão da orientação sexual constitui um novo assunto sobre o qual a Igreja precisa se perguntar: ‘Será que esta situação deveria mudar a forma como olhamos para o assunto?’”
A Igreja já se perguntou assim antes, sobre assuntos que vão desde a escravidão ao sistema solar.
Vines escreve: “Os cristãos não mudaram de opinião sobre [o Sol girar em torno da Terra] porque eles perderam o respeito pela (...) autoridade das Escrituras. Mudaram de mentalidade porque se confrontaram com evidências que seus predecessores nunca tinham levado em conta”.
Os dois autores argumentam que há muitas novas evidências para se levar em consideração, incluindo o fato de que a orientação homoafetiva não é uma escolha. Até mesmo o líder de uma organização religiosa que buscava curar pessoas gays – atualmente desativada – afirmou que 99.9% das pessoas que ele conheceu e que tinham atração por pessoas do mesmo sexo “não vivenciaram uma mudança na sua orientação”.
Em 1999, o renomado teólogo cristão Lewis Smedes escreveu que o paralelo mais próximo a este debate é a antiga oposição da Igreja para praticamente todo e qualquer casamento depois do divórcio. As Escrituras afirmam que o matrimônio depois do pecado do divórcio é adultério. Para se obter uma boa reputação diante de Deus, dizia-se aos que se casavam pela segunda vez que se divorciassem de seus novos cônjuges e se casassem novamente com o primeiro parceiro ou mesmo permanecessem celibatários para o resto de suas vidas.
Smedes observou o seguinte: “Enquanto a [Igreja] continuar a interpretar as palavras de Jesus sem nenhuma consideração pela ruína que sua política tem infligido sobre as famílias humanas envolvidas (...), ela poderá continuar acreditando estra apenas seguindo as instruções do próprio Jesus. Mas uma vez que comparar a realidade humana com a leitura das palavras do Senhor, ficará obrigada a se perguntar: Será que Jesus quer mesmo que a Igreja rejeite as pessoas?"
A resposta é negativa. Talvez a mesma questão deveria ser feita a respeito dos cristãos gays.
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Um novo olhar do cristianismo sobre a homossexualidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU