20 Junho 2017
"Padre Juan Manuel Solalinde, 72 anos, é de longe uma das figuras mais expostas da resistência civil mexicana. Sobre ele os narcotraficantes colocaram uma recompensa de um milhão de dólares. E, portanto, vamos acrescentar o que nesses casos costuma ser por preguiça a primeira notícia, que ele vive escoltado por um pequeno enxame de seguranças. Por isso, foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2017. Os italianos que tiveram a oportunidade de encontrá-lo entenderam imediatamente qual é a principal das suas preocupações: o liberalismo selvagem", escreve Nando Dalla Chiesa, sociólogo, escritor e político, em artigo publicado por Fatto Quotidiano, 17-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem não ficou indignado, que não se comoveu outra noite ao ver o filme na RAI-3 dedicado à grande marcha pelos direitos de Martin Luther King? Quem não se estarreceu vendo os racistas do Alabama matar um reverendo culpado de ser "pior do que os negros", porque expoente da raça dos "brancos que estão do lado dos negros"? Quem não pensou em como essa história teria sido ainda mais terrível e tortuosa se o "Dr. King" não tivesse recebido o Prêmio Nobel da Paz daqueles que nossa imprensa agora passou a chamar de "velhotes suecos"? Confesso: acabei ficando muito comovido e indignado. E pensar que os "velhotes" poderão ainda hoje distribuir outro presente para a causa dos grandes direitos.
Tem um sacerdote mexicano, de fato, que nas últimas semanas peregrinou sem descanso pelas cidades italianas. Contou o drama de seu povo em dezenas de lugares, a milhares de cidadãos, não apenas católicos. Vestido de branco como um profeta desarmado, com sua cruz de madeira no peito. Com a voz calma e suave cadenciada em espanhol, sob os aros dourados de seus óculos. Em Arona, Milão, Reggio Emilia, nas universidades, lotando o Salão da Feira do Livro de Turim.
Um padre que está lutando com serena e ferrenha coragem contra a violência compulsiva dos narcotraficantes, brandindo o evangelho no meio de um povo martirizado pelo sangue e desaparecimentos, pelas cabeças cortadas e valas comuns. E que justamente onde deveria ser construído o famoso Muro, na fronteira entre o México e os Estados Unidos, há dez anos criou um lugar de acolhimento e de abrigo para os migrantes, vítimas predestinadas de uma ferocidade sem fim, porque ninguém nunca irá procurar nem por eles nem por seus órgãos.
Padre Juan Manuel Solalinde, 72 anos, é de longe uma das figuras mais expostas da resistência civil mexicana. Sobre ele os narcotraficantes colocaram uma recompensa de um milhão de dólares. E, portanto, vamos acrescentar o que nesses casos costuma ser por preguiça a primeira notícia, que ele vive escoltado por um pequeno enxame de seguranças. Por isso, foi indicado para o Prêmio Nobel da Paz de 2017. Os italianos que tiveram a oportunidade de encontrá-lo entenderam imediatamente qual é a principal das suas preocupações: o liberalismo selvagem.
Fórmula que ele repete reiteradamente, sempre acompanhada por uma confissão de estranheza absoluta à doutrina marxista. Porque o liberalismo selvagem é para ele nada mais que o poder de domínio absoluto do dinheiro. Que compra os políticos, os policiais e os juízes; e justifica qualquer ambição ou horror. É este o primeiro inimigo.
Que só pode ser vencido com muita "educação". Foi durante um desses debates que um jovem fez a ele a pergunta mais simples: mas se o senhor fosse ganhador do Prêmio Nobel, a causa do México seria ajudada? Qual seria a reação dentro do país? Padre Solalinde respondeu primeiro com um lampejo nos olhos. Depois explicou que sim, que certamente a causa mexicana seria ajudada. Teria uma visibilidade internacional, como nos últimos anos aconteceu unicamente com a viagem do Papa Francisco, com a diferença que isso seria permanentemente.
Tal como aconteceu com Martin Luther King, pensei na outra noite. Apreciando mais ainda a bela iniciativa tomada por um grupo de cidadãos italianos. Que na esperança de estancar "um massacre sem precedentes" lançaram uma campanha da assinatura para a candidatura ao Nobel do Padre Solalinde, "incansável defensor dos direitos dos migrantes, que através da sua casa do Migrante ‘Hermanos en el Camino’ de Ixtepec (Oaxaca ), luta pela justiça e proteção dos direitos humanos, fornecendo apoio, proteção e abrigo para as pessoas em trânsito".
Entre eles destaca-se Lucia Capuzzi, jornalista do Avvenire, que conhece muito em o México e acompanhou a viagem do papa, e que recentemente acompanhou pela Itália o bravo padre. Há jovens que estão pesquisando o caso mexicano, como Thomas Aureliani, que quase sonhando de olhos abertos afirma "eu quero dedicar toda a minha vida a esta causa". Há Monica Mazzoleni, funcionária em Milão da Anistia para a América Latina, ou Valentina Valfré de Sole Terre, ou Filomena De Matteis de Libera, tantos estudantes, um grande grupo de docentes e também muitos italianos no exterior. Já se reuniram às centenas na página do Facebook "Padre Alejandro Solalinde para el nobel de la Paz". Todos orgulhosos de poder representar assim uma raça ainda pior do que a dos mexicanos livres: a dos europeus que estão do lado dos mexicanos livres.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Juan Manuel, o padre mexicano antinarcotraficantes e o muro de Trump - Instituto Humanitas Unisinos - IHU