06 Junho 2017
Dez anos depois da quinta Conferência do Episcopado Latino-Americano, que foi realizada em Aparecida, Brasil, e que lançou as bases do pontificado bergogliano, Paul Seaton, em First Things, recupera um livro relativamente recente de Thomas R. Rourke, docente da Universidade de Clarion e especialista em filosofia política, religiões e América Latina, para analisar aquilo que ele chama de "excêntrica visão do magistério social" de Francisco.
O comentário é de Matteo Matzuzzi, publicado por Il foglio, 03-06-2017. A tradução é de Luisa Rabolini.
Em The Roots of Pope Francis’s Social and Political Thought, Rourke analisa a série de dicotomias que em sua opinião caracterizam o pensamento social do atual pontificado. Ou seja, “norte-sul, imperialismo-populismo, ideologia-história, abstrato-concreto e assim por diante". O autor pergunta-se até que ponto o pensamento social de Jorge Mario Bergoglio possa ser tomado como modelo e, dessa forma, tornar-se válido para toda a igreja católica. Um pensamento peculiar, não comum, que tem suas raízes no "contexto da Igreja latino-americana do pós-Concílio". Nos últimos quatro anos escreveu-se exaustivamente sobre a teologia do povo, não muito distante da teologia da libertação, mas afastada do ponto de discordância que foi condenado na década de 1980 pelo Santo Ofício sob João Paulo II, ou seja, o uso da análise marxista.
Mas o que Rourke destaca é que o chamamento "à igreja pobre para os pobres" nada mais é que a intenção - mais implícita do que explícita - de "jesuitizar a igreja". Nenhuma crítica, fique claro. Aliás: o "ir às periferias" nada mais é que a versão universal do que foi feito pelos missionários da Companhia nos séculos passados, principalmente na América do Sul que Bergoglio bem conhece. Evangelização, solidariedade com os povos que são encontrados, inculturação do Evangelho em todas as dimensões da vida. Aspecto, este último, que - escreve Seaton- "é a base indispensável para a política e a economia." Mas aqui está o ponto crucial da análise: é possível aplicar esse modelo "excêntrico" para a universalidade da igreja? Já foi tentado pelos seguidores de São Francisco, ansiosos por "franciscanizar" a igreja, ressaltava G.K. Chesterton, aplaudindo a decisão do então Papa que rejeitou tal configuração. Uma parte não podia determinar o todo. Nem mesmo se a parte era aquela em voga e que defendia a necessidade de purificar a igreja, embora sem os vieses new age, entre flores e violões, que inundaram o original franciscano.
A abordagem seguida pelo Papa reinante, escreve Rourke, é nitidamente cultural, e é indiferente que Pierre Manent tenha escrito que "o conceito de cultura penetrou no pensamento social católico depois que a igreja foi politicamente desestruturada, como se fosse algum tipo de compensação". Para entender isso, é preciso voltar às fontes da teologia do povo, aos seus fundadores. Primeiro entre todos, o filósofo uruguaio Alberto Methol Ferré, um grande amigo de Jorge Mario Bergoglio, que morreu em 2009, e que colocou preto no branco a distinção entre as "igrejas-fonte" e as "igrejas-reflexo". A Igreja católica, na opinião do filósofo, tornou-se mundial porque percebe a presença de outras igrejas locais, que antes, ao contrário, eram um seu puro reflexo. Muitas vezes, asfixiadas. Fundamentais são as primeiras, as igrejas-fonte, porque "refletem os sinais dos tempos no melhor sentido, realizando o Evangelho em relação às circunstâncias do momento presente". Partindo dessa premissa, escrevia Methol Ferré, chega-se à constatação de que depois de quinhentos anos a Igreja latino-americana tem a capacidade de assumir um papel de liderança na Igreja e para toda a Igreja. "E Bergoglio - conclui Rourke - absorveu essa visão e enxerga o seu pontificado sob essa ótica. Este é o tempo em que a Igreja latino-americana pode tornar-se uma igreja-fonte".
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Do caro pueblo até Aparecida, eis onde se prendem as raízes da excêntrica doutrina social da igreja de Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU