13 Fevereiro 2017
"Em conclusão, poderíamos afirmar que é um pouco cedo para rotular Trump em uma ou outra corrente. Parece que ele é protecionista para algumas coisas e liberal para outras. Ou melhor, pelo contrário: não é nem uma coisa nem outra. Realmente parece que Trump está de acordo com uma atitude híbrida, que no momento tem resultados desconhecidos. Absolutamente eclético para quase tudo, mas com um objetivo que funciona como centro de gravidade: meus amigos e eu, em primeiro lugar; depois, a América", escreve Alfredo Serrano Mancill, diretor do Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag), em artigo publicado por La Jornada, 12-02-2017. A tradução é de Henrique Denis Lucas.
Eis o artigo.
Estamos na era do imediatismo. E necessitamos apressadamente encontrar o rótulo ideal que caracterize qualquer personagem emergente. Agora é a vez de Donald Trump. Rapidamente ele foi qualificado como o novo expoente do velho protecionismo. A sua frase "América em primeiro lugar" e as suas primeiras decisões (a retirada do Acordo de Parceria Transpacífico e as ameaças contra as empresas americanas que produzem fora do país) têm servido para blindar o projeto de Trump sob essa categoria econômica. Pelo que é lido e escrito na grande mídia, parece que com Trump em breve a globalização chegará ao seu fim. Todo o mundo alerta, incluindo o FMI, que estamos diante de uma clivagem geoeconômica. Tudo parece indicar que Trump, melhor conhecido como O Protecionista, levantará muros por toda parte, físicos e econômicos, que farão com que voltemos para outra época em que a liberdade comercial acabará.
Agora que todos falam de Trump como protecionista, parece que esquecemos que Obama e a própria União Europeia estão há anos implementando suas políticas vigorosamente defensoras de suas grandes transnacionais e de seu mercado interno. A cláusula Buy american ou o resgate de determinados bancos e outras grandes empresas foram praticados precisamente durante a administração anterior. Enquanto isso, em território europeu são milhares de exemplos de grandes muros físicos, contra a migração, e econômicos, de fundamentos comerciais e de propriedade intelectual. É por isso que devemos analisar Trump em uma ordem econômica hegemônica que presume ser liberal, mas é fortemente protecionista.
A urgência de saber quem é esse presidente atípico pode ter efeitos desastrosos sobre nós. Mas até agora, a única previsibilidade sobre Trump é que tudo é imprevisível em suas decisões. E é precisamente este comportamento incerto que nos incomoda. Frente a tal medo geopolítico, então, é quando procura-se rapidamente qualificá-lo em alguma doutrina do passado. É por isso que se insiste constantemente na ideia de que Trump vem para dar uma guinada radical nas relações econômicas internacionais, invocando as regras do velho protecionismo.
O que há de verdade em tudo isso? Realmente nada. Para começar, Trump ameaçou as grandes empresas da indústria automobilística com a cobrança de impostos. Mas devemos recordar que estas empresas são as mesmas que eram aliadas ao presidente Obama. Ou seja, mais do que protecionismo, esta decisão parece responder a princípios de economia política. O verdadeiro propósito desta intimidação é colocar contra a parede o grande capital aliado aos democratas. Ou será que Trump tem ameaçado as suas empresas, aquelas que também fazem business muito longe do território norte-americano?
Em sua relação com a China, veremos verdadeiramente se Trump é protecionista ou não. Até agora, muito barulho por nada. Trump se atreverá a implementar medidas protecionistas sabendo que os EUA possuem uma dívida de mais de um trilhão de dólares com a China? Imagino que não.
Por outro lado, no plano financeiro cabe destacar que o Presidente Trump revogou o Dodd-Frank Act (que foi usado por Obama para regular o sistema financeiro), logo após o seu desastre, ocasionado em escala global. Após essa medida, dificilmente poderíamos classificar Trump na ala protecionista. Certamente, com manual em mãos, alguns diriam que esta é justamente uma medida fortemente ancorada na doutrina do liberalismo econômico.
Em conclusão, poderíamos afirmar que é um pouco cedo para rotular Trump em uma ou outra corrente. Parece que ele é protecionista para algumas coisas e liberal para outras. Ou melhor, pelo contrário: não é nem uma coisa nem outra. Realmente parece que Trump está de acordo com uma atitude híbrida, que no momento tem resultados desconhecidos. Absolutamente eclético para quase tudo, mas com um objetivo que funciona como centro de gravidade: meus amigos e eu, em primeiro lugar; depois, a América.
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Trump, nem protecionista, nem liberal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU