07 Dezembro 2016
Quem não conhece a ternura de Deus não conhece a doutrina cristã, disse o papa Francisco na homilia da missa matutina celebrada nesta terça-feira, na Casa Santa Marta, no Vaticano, dedicada em grande parte à figura de Judas.
A reportagem é publicada por Religión Digital, 06-12-2016. A tradução é do Cepat.
No centro da homilia do Papa esteve o Evangelho da ovelha perdida e a alegria pelo consolo do Senhor que nunca deixa de buscá-la. “Ele vem como juiz, explicou o Papa, mas como um juiz que acaricia, um juiz que está cheio de ternura, faz de tudo para nos salvar”. Não vem para “condenar, mas salvar”. Busca a cada um de nós, nos ama pessoalmente, “não ama a massa indistinta”, mas, ao contrário, nos “ama com nome, nos ama como somos”.
A ovelha perdida, comentou o Papa, “não se perdeu porque não possuía uma bússola na mão. Conhecia bem o caminho”. “Perdeu-se porque tinha o coração enfermo”, cego por uma “dissociação interior” e foge “para se distanciar do Senhor, para saciar essa obscuridade interior que a levava à vida dupla”: estar no rebanho, mas ao mesmo tempo escapar para a obscuridade.
“O Senhor conhece estas coisas” e por isso vai buscá-la. “A imagem que mais ajuda a compreender a atitude do Senhor com a ovelha perdida, confessou o Papa, e a atitude do Senhor com Judas”.
“A ovelha perdida mais perfeita do Evangelho é Judas: um homem que sempre, sempre tinha algo de amargura no coração, algo a criticar nos demais, sempre distanciado. Não conhecia a doçura da gratuidade de viver com os demais. E sempre (ainda que esta ovelha não estivesse insatisfeita, Judas não era um homem insatisfeito) escapava”.
“Escapava porque era ladrão, sempre por esse lado. Outros são luxuriosos, outros... Mas sempre escapam porque tem essa obscuridade no coração que os separa do rebanho. É a vida dupla, essa vida dupla de muitos cristãos, também, com dor, eu digo: de muitos que são sacerdotes, bispos...”, disse Francisco.
“Judas era bispo, um dos primeiros, né? A ovelha perdida. Pobre! Pobre o irmão Judas como o chamava Mazzolari nesse sermão tão belo: ‘Irmão Judas o que passa com o seu coração?’. Temos que compreender as ovelhas perdidas. Todos temos algo, ainda que seja pequeno (às vezes não tanto) de ovelha perdida”.
Isto que a ovelha perdida faz, destacou o Papa, não é tanto um erro, mas uma enfermidade, algo que está no coração e que o diabo aproveita. Assim, Judas com o “coração dividido, dissociado”, é a imagem da ovelha perdida a qual pastor irá buscar.
Mas Judas não compreende e, “ao final, quando viu a vida dupla que teve na comunidade, o mal que semeou, com sua obscuridade interior, que o levava a sempre escapar, buscando luzes que não são a luz do Senhor, mas que são como enfeites natalinos, ‘luzes artificiais’, se desesperou”.
O Papa comentou: “Há uma palavra na Bíblia, o Senhor é bom, também para estas ovelhas, nunca deixa de buscá-las. Há uma leitura que conta que Judas se enforcou, se enforcou ‘arrependido’. Acredito que o Senhor tomará essa palavra (‘arrependido’) e a levará consigo, não sei, pode acontecer, mas essa palavra nos faz duvidar”.
“O que significa? Que até o final o amor de Deus trabalhava nessa alma, até o momento do desespero. Esta é a atitude do bom pastor com as ovelhas perdidas”, refletiu o Papa.
“Este é o anúncio, a Boa Notícia que nos leva ao Natal e que nos pede esta sincera exultação que muda o coração, que nos leva a nos deixar consolar pelo Senhor e não pelos consolos que vamos buscando para nos desafogar, para fugir da realidade, fugir da tortura interior e da divisão interior”.
Quando encontra a ovelha perdida, Jesus não a insulta, mesmo que tenha feito muito mal. No Horto das Oliveiras, chama Judas de “amigo”. São as carícias de Deus.
“Quem não conhece as carícias do Senhor não conhece a doutrina cristã! - exclamou o Papa -. Quem não se deixa acariciar pelo Senhor está perdido! E esta é a Boa Notícia, este é o consolo que buscamos: que o Senhor venha com seu poder, com suas carícias, que nos encontre, que nos salve e que, como a ovelha perdida, nos leve ao rebanho que é sua Igreja”.
“Que o Senhor nos dê esta graça de esperar o Natal com nossas feridas, com nossos pecados, reconhecidos com sinceridade, de esperar o poder deste Deus que vem nos consolar, que vem com poder, mas com este com poder que é ternura, carícias que nascem de seu coração - concluiu -, um coração tão bom que deu a vida por nós”.
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“Quem não conhece a ternura de Deus, não conhece a doutrina cristã”, afirma Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU