20 Outubro 2016
À medida que nos aproximamos do ano de acontecimentos que levam ao 500º aniversário da Reforma Protestante em 31 de outubro de 2017, uma pergunta recorrente é: Devemos celebrar? Arrepender-se? Comemorar? Talvez todos os três?
O artigo é de Thomas Ryan, publicada por National Catholic Reporter, 19-10-2016. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Thomas Ryan dirige o Escritório Norte-Americano Paulino para as Relações Ecumênicas e Inter-Religiosas (Paulist North American Office for Ecumenical and Interfaith Relations) em Boston.
Eis o artigo.
Esta é a primeira vez que a celebração do centenário da Reforma irá ocorrer em uma era ecumênica. Desde a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação, emitida pelo Vaticano e pela Federação Luterana Mundial em 1999, alcançamos a uma nova etapa. Fizemos mais progressos nos últimos 50 anos no sentido de curar as feridas das nossas divisões do que fora feito nos últimos cinco séculos.
Importantes teólogos luteranos participaram como observadores do Concílio Vaticano II (1962-1965). O diálogo internacional entre o departamento vaticano para o ecumenismo e a Federação Luterana Mundial começou em 1967. Após cinco sessões, em 1972 eles produziram o Relatório de Malta em que ficou claro que os membros haviam decidido assumir, nos anos seguintes, uma ampla gama de questões: as escrituras e a tradição; a admissão à Eucaristia; a justificação pela fé; o direito canônico; a ordenação.
Em um congresso sobre os “Cinquenta Anos do Diálogo Luterano-Católico” ocorrido em julho passado no Instituto Luterano de Pesquisas Ecumênicas, em Estrasburgo, na França, o padre dominicano Hervé Legrand, participante do diálogo, deu uma visão geral do trabalho da comissão de diálogo.
O debate sobre a Eucaristia e o ministério levou a um novo documento em 1978 sobre “A Ceia do Senhor”. Católicos e luteranos concordaram: a celebração da Eucaristia não “repete” o sacrifício da cruz ou acrescenta ao seu valor salvífico. No documento, pedia-se aos católicos que dessem a Comunhão sob as duas espécies e que pregassem em todas as missas, enquanto que aos luteranos pedia-se uma celebração semanal. Há um extenso acordo sobre a presença real sob os sinais do pão e do vinho.
Visto que os luteranos têm somente dois sacramentos – o batismo e a Eucaristia –, eles não professam a sacramentalidade da ordenação. Para eles, é uma realidade mais colegiada, enquanto para os católicos esta possui um caráter indelével, quer dizer, marca a pessoa para toda a vida e não se pode desistir dela ou repeti-la. Houve uma convergência de entendimentos aqui, mas permaneceu uma falta de acordo sobre quem pode ser ordenado.
Sobre a questão da ordenação de bispos, para os católicos se uma pessoa é elevada ao episcopado, ela um entra para o colégio dos apóstolos. Esta ligação histórica fez sentido aos representantes luteranos para a unidade universal na doutrina apostólica.
O Relatório de Malta concluía com a recomendação, baseada no crescente acordo teológico, de que a partilha ocasional na Eucaristia deveria ser autorizada. “Não se tem dado a esta recomendação uma atenção e ação suficientes”, disse Legrand.
“O Direito Canônico continua sendo um enorme obstáculo no movimento ecumênico”, observou Legrand, “e está amarrando as mãos do Papa Francisco também”.
Ele refletiu que o Vaticano II foi muito curto, na medida em que foi principalmente um concílio teológico. Não houve tempo suficiente para fazer as adaptações necessárias no Direito Canônico onde, por exemplo, não há lugar para os sínodos.
“O direito não é frutífero para o diálogo ecumênico”, acrescentou. “Não devemos pensar sobre a primazia sem colegialidade”.
Um documento de 1985 da comissão internacional, intitulado “Facing Unity”, recomenda que os católicos romanos reconheçam a Confissão de Augsburgo (a confissão primária de fé da Igreja Luterana) como uma profissão legítima de fé. “Facing Unity” convida os católicos a reconhecerem Martinho Lutero como o nosso mestre em comum, como alguém cuja herança foi distorcida ao longo do tempo.
O Cardeal Johannes Willebrands, presidente do Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos entre os anos de 1969 e 1989, observou que o Vaticano II aceitou muitas das demandas de Lutero. Graças a Lutero, segundo ele, muitas ideias boas foram introduzidas na Igreja Católica de Roma, como o uso do vernáculo na liturgia; a oferta de ambas as espécies na Sagrada Comunhão; a necessidade de uma reforma constante; o sacerdócio de todos os crentes; e uma maior atenção às escrituras e à pregação. O que temos em comum importa mais do que aquilo que nos divide.
A tarefa, hoje, disse Legrand, é delinear um caminho em direção à unidade. O caminho a seguir é abandonar as condenações do passado. Reconhecer a diversidade legítima. Celebrar no ministério. Alcançar uma compreensão comum do episcopado, do colégio dos bispos, da sucessão apostólica e do ofício de Pedro.
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Luteranos e católicos traçam um caminho para unidade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU