27 Abril 2016
Hans Küng, o teólogo suíço, diz que recebeu uma carta do Papa Francisco que responde "ao meu pedido para dar espaço para uma discussão livre sobre o dogma da infalibilidade".
Küng se recusou a mostrar a carta ao National Catholic Reporter - NCR, citando "a confidencialidade que eu devo ao Papa", mas ele diz que a carta foi datada de 20 de março e enviada para ele através da nunciatura em Berlim logo após a Páscoa.
Küng diz que a carta mostra que "Francisco não estabeleceu nenhuma restrição" nas discussões.
A informação é publicada por National Catholic Reporter, 27-04-2016. A tradução é de Evlyn Louise Zilch. A nota é assinada por Denis Coday, editor do NCR.
Küng também disse que está muito animado com a recente exortação apostólica de Francisco, Amoris Laetitia (‘A Alegria do Amor'): “eu não poderia ter previsto quanta nova liberdade Francisco abriria na sua exortação pós-sinodal", escreveu Küng em um comunicado enviado ao NCR e outros meios de comunicação. “Já na introdução, ele declara: ‘Nem todas as discussões sobre questões doutrinais, morais ou pastorais precisam ser resolvidas por intervenções do magistério’”.
Küng escreve, "Este é o novo espírito que eu sempre esperei do magistério" e faz uma discussão sobre a infalibilidade possível.
Em 9 de março, Küng tinha emitido o que chamou de um "apelo urgente ao Papa Francisco para permitir uma discussão aberta e imparcial sobre infalibilidade do papa e bispos". O apelo foi lançado simultaneamente em vários idiomas e publicações.
A seguir está o texto da declaração de Hans Küng, sobre a carta do papa. A versão em inglês está sendo publicada simultaneamente pelo National Catholic Reporter e pelo The Tablet, hoje, 27-04-2016.
Hans Küng, cidadão suíço, é professor emérito de teologia ecumênica na Universidade de Tübingen, na Alemanha. O sexto volume de suas obras completas, Reforma da Igreja, é esperado ainda para este ano, de Herder.
Eis a nota.
Em 9 de março, o meu apelo ao Papa Francisco para dar espaço para uma discussão livre, sem preconceitos e aberta sobre o problema da infalibilidade apareceu nas principais revistas de vários países. Eu fiquei, assim, muito feliz ao receber uma resposta pessoal de Francisco imediatamente depois da Páscoa. Datada de 20 de março, ela foi encaminhada para mim pela Nunciatura em Berlim.
Na resposta do papa, os seguintes pontos são importantes para mim:
• O fato de Francisco ter respondido a tudo e não ter deixado o meu apelo cair em saco furado, por assim dizer;
• O fato de ele ter respondido por si mesmo e não por meio de seu secretário particular ou pelo secretário de Estado;
• Que ele enfatiza sua modo fraterno de sua resposta em espanhol ao tratar-me como Lieber Mitbruder ("Caro irmão") em alemão e exprime esse tratamento pessoal em itálico;
• Que ele claramente leu o apelo, onde eu, expressamente, anexara a tradução espanhola;
• Que ele apreciou muito as considerações que me levaram a escrever o Volume 5 de minhas obras completas, nas quais eu sugiro discutir teologicamente as diferentes pontos que o dogma da infalibilidade levanta à luz da Sagrada Escritura e da tradição, com o objetivo de aprofundar o diálogo construtivo entre a igreja do século 21 "semper reformanda" e as outras igrejas cristãs e a sociedade pós-moderna.
Francisco não expressou nenhuma restrição. Ele portanto respondeu ao meu pedido para dar espaço para uma discussão livre sobre o dogma da infalibilidade. Eu acho que agora é imperativo usar esta nova liberdade para avançar com a clarificação das definições dogmáticas, que são motivo de controvérsia no seio da Igreja Católica e em sua relação com as outras igrejas cristãs.
Eu não poderia ter previsto, no entanto, o tamanho da nova liberdade que Francisco abriria na sua exortação pós-sinodal, Amoris Laetitia. Já na introdução, ele declara: "Nem todas as discussões sobre questões doutrinais, morais ou pastorais precisam ser resolvidas por intervenções do magistério".
Ele problematiza a "fria moralidade burocrática" e não quer bispos que continuem a se comportar como se fossem "árbitros da graça". Ele vê a Eucaristia não como uma recompensa pelo perfeito, mas como "alimento para os fracos".
Ele repetidamente cita declarações feitas no Sínodo episcopal ou a partir de conferências episcopais nacionais. Francisco já não mais quer ser o único porta-voz da igreja.
Este é o novo espírito que eu sempre esperei do magistério. Estou plenamente convencido de que neste novo espírito uma discussão livre, imparcial e aberta do dogma da infalibilidade, esta questão chave fatídica do destino para a Igreja Católica, será possível.
Estou profundamente grato a Francisco por esta nova liberdade e renovo os meus sinceros agradecimentos com a expectativa de que os bispos e teólogos vão, sem reservas, adotar este novo espírito e se unirem nesta tarefa em concordância com as Escrituras e com a nossa grande tradição da igreja.
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Dogma da infalibilidade. Francisco responde ao apelo de Hans Küng - Instituto Humanitas Unisinos - IHU