15 Dezembro 2014
Na próxima semana, dia 16 de dezembro, o Vaticano apresenta as conclusões de uma investigação iniciada há anos sobre as irmãs estadunidenses, na presença de dois representantes das mesmas religiosas.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada pelo Vatican Insider, 11-12-2014. A tradução é de Benno Dischinger.
O “Relatório final da Visita Apostólica aos Institutos de Vida Consagrada das Religiosas nos Estados Unidos da América” será apresentado na sala de imprensa vaticana pelo cardeal João Braz de Aviz, presidente da Congregação para os Institutos de Vida consagrada e as Sociedades de Vida apostólica, pelo monsenhor José Rodriguez Carballo, secretário do mesmo dicastério para os religiosos, pela diretora da vida apostólica, Irmã Clare Millea, e – sinal eloqüente do diálogo que agora se instaurou entre a Santa Sé e as Irmãs estadunidenses – pela Irmã Agnes Mary Donovan, coordenadora do Council for Major Superiors of Women Religious (CMSWR) e, sobretudo, pela Irmã Sharon Holland, nova presidente da Leadership Conference of Women Religious (LCWR), objeto também de uma distinta investigação vaticana, desenvolvida nestes anos pela Congregação para a Doutrina da Fé (Cdf).
A Congregação para os Religiosos, guiada então pelo cardeal Franc Rodé (prefeito) e pelo monsenhor Gianfranco Gardin (secretário), anunciou, com um decreto de 22 de dezembro de 2008, a preparação de uma visitação apostólica para examinar a “qualidade de vida” das mais de 51 mil Irmãs estadunidenses.
Numa entrevista sucessiva à Rádio Vaticana, em novembro de 2009, o mesmo purpurado esloveno explicou: “Dos Estados Unidos chegaram vozes críticas e um importante representante da Igreja estadunidense me advertiu sobre algumas irregularidades ou carências na vida das religiosas americanas. Pode-se falar, sobretudo, de certa mentalidade secularista que se propagou nestas famílias religiosas, talvez até certo espírito feminista”. De repente não faltaram perplexidades e críticas.
Num email que devia permanecer privado, mas que rapidamente foi parar na imprensa, por exemplo, a irmã Sandra M. Schneiders, docente de Novo Testamento e Espiritualidade cristã na Escola teológica dos Jesuítas de Berkeley (Califórnia), escreveu: “Não atribuo absolutamente nenhuma credibilidade à afirmação de que se trate de uma visitação amigável, transparente, tendente a ajudar-nos, etc. É uma mostra hostil e as conclusões já estão escritas’. Seguiram meses de tensão.
A visitação, guiada pela Irmã Millea, da Congregação das Apóstolas do Sagrado Coração de Jesus, começou com o encontro entre a religiosa e 127 superiores de ordens religiosas estadunidenses, prosseguiu, nos anos subseqüentes, com o envio de um questionário que ia da vida espiritual às vocações e à questão financeira (diversas superioras se recusaram responder) e se concluiu com visitas in loco do grupo dos visitadores apostólicos. Em janeiro de 2012 enviou à Congregação vaticana um “relatório final”, sublinhando que “embora haja preocupações na vida religiosa que merecem apoio e atenção, a realidade que perdura é a da fidelidade, da alegria e da esperança”.
No dicastério vaticano para os religiosos, entrementes, iniciara a mudança de guarda. No final de 2009 Gardin foi nomeado bispo de Treviso e no seu lugar, como secretário da Congregação, chegou, em agosto de 2010, o redentorista estadunidense Joseph William Tobin. “Não há nenhuma intenção hostil” perante as Irmãs estadunidenses, declarou o religioso. “A intenção é a de ajudar não só a vida consagrada, mas também a Igreja. O problema tem sido o modo de comunicar e talvez de projetar esta visita”.
Tobin não permaneceu muito tempo em Roma e em outubro de 2012 retornou aos Estados Unidos como arcebispo de Indianápolis. Também Rodé, no entanto, entrou em pensão e em janeiro de 2011 o cardeal brasileiro Braz de Aviz foi nomeado por Bento XVI prefeito da Congregação para os religiosos.
A ótima relação com Tobin prosseguiu com igual ótima colaboração com o novo secretário, o franciscano Carballo, nomeado pelo Papa Francisco pouco após a eleição ao pontificado. Com as Irmãs estadunidenses “é possível retornar a um diálogo que não foi feito antes”, disse Braz de Aviz num encontro de 2013 com a União Internacional das Superioras Gerais (UISG). Na semana seguinte, enfim, se deu a apresentação da conclusão da visitação apostólica.
Aquela conduta da Congregação para os Institutos de Vida consagrada e as Sociedades de Vida apostólica não é a única indagação desenvolvida pelo Vaticano sobre as Irmãs USA. Uma segunda, distinta, “avaliação doutrinal” foi aviada em fevereiro de 2009 pela Congregação para a Doutrina da Fé, conduzida então pelo cardeal estadunidense Wiliam Levada, sobre a Leadership Conference of Women Religious (LCWR).
Trata-se da maior organização de Irmãs estadunidenses, representando em torno de 80% das superioras das religiosas do Além-Atlântico. Uma realidade que, “se não pode ser reformada, então não tem o direito de continuar”, disse numa entrevista televisiva o então prefeito do Supremo Tribunal Apostólico, o cardeal estadunidense Raymond Leo Burke.
Em abril de 2012 – poucos meses antes que Levada deixasse a chefia do ex-Santo Ofício ao cardeal alemão Gerhard Ludwig Müller – a Conferência Episcopal dos EUA (não o Vaticano) publicou o documento conclusivo no qual a Congregação vaticana relevava, entre outras coisas, “sérios problemas doutrinais” entre as Irmãs americanas, registrando algumas “inaceitáveis posições” expressas por algumas expoentes do LCWR sobre a Igreja e sobre Jesus, os protestos nos confrontos da Santa Sé sobre temáticas como os gays e a ordenação sacerdotal feminina e, mais em geral, um “radical feminismo” que serpeia na associação, além de estigmatizar – uma referência às polêmicas saídas nos USA em torno da reforma sanitária de Barak Obama – “ocasionais tomadas de posição públicas em desacordo ou polêmicas com as posições dos bispos, que são os mestres autênticos da fé e da moral católica”.
O documento – criticado pela própria LCWR, além de periódicos como National Catholic Reporter, America e Commonweal – concluía com a nomeação de uma comissão, conduzida pelo arcebispo de Seattle, James P. Sartain, encarregada da revisão, ainda em curso, dos programas, das parcerias e dos estatutos da organização.
No decurso do primeiro encontro entre o novo prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e a coordenação da LCWR, Müller – tornou conhecido um comunicado difundido aos 15 de abril de 2013 pelo mesmo dicastério – “tem informado a presidência que tem discutido recentemente a avaliação doutrinal com o Papa Francisco, que reafirmou os resultados da avaliação e o programa de reforma para esta conferência de superiores”. A “conversação”, glosou de sua parte a LCWR, “foi aberta e franca. Oramos para que estas conversações possam trazer fruto para o bem da Igreja”.
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O Vaticano conclui o caso da visitação às Irmãs USA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU