18 Fevereiro 2014
Vinte anos após a Conferência Internacional sobre a População e o Desenvolvimento, no Cairo, a ONU soa o alerta: se os países não redobrarem os esforços a favor das mulheres e das adolescentes, vítimas de crescentes desigualdades, os progressos obtidos desde 1994 estarão ameaçados. Em seu "Relatório Mundial: Além de 2014", publicado nesta quarta-feira (12), o FNUAP (Fundo das Nações Unidas para a População) faz um panorama da situação em matéria de desenvolvimento nos domínios da saúde, da educação e do combate à pobreza.
A reportagem é de Alexandra Geneste, publicada no jornal Le Monde e reproduzida pelo Portal Uol, 14-02-2014.
O documento de 400 páginas se baseia nos dados fornecidos por 176 países. Se a mortalidade relacionada à gravidez e ao parto diminuiu quase pela metade desde 1990, "em 2010, 800 mulheres ainda morriam no parto a cada dia", lamenta o diretor executivo do FNUAP, o Dr. Babatunde Osotimehin, determinado a fazer da proteção às mulheres e às adolescentes a prioridade da agenda internacional de desenvolvimento.
O ex-ministro nigeriano da Saúde acredita que "o melhor termômetro dos avanços em matéria de desenvolvimento seria o estudo da situação das adolescentes, particularmente crítica nos países em desenvolvimento". Há o registro de cerca de 600 milhões de adolescentes no mundo, sendo que 90% vivem em países em desenvolvimento.
Um indicador que analisasse a evolução de suas condições de vida permitiria que o FNUAP fosse mais convincente e tivesse mais credibilidade junto a governos que ele aconselha e apoia em seus esforços a favor do desenvolvimento sustentável, diz Osotimehin. "Sem elementos de provas, nossas recomendações não têm nenhuma chance de serem respeitadas", ele explica, antes de salientar a importância dos dados para os Estados que queiram direcionar melhor seus gastos.
"Um efeito positivo sobre o crescimento"
Apesar de o casamento precoce ser ilegal em 158 países, uma em cada três jovens é casada à força antes dos 18 anos nos países em desenvolvimento. Citando pesquisas que tendem a demonstrar que "mulheres mais instruídas e famílias em boa saúde têm um efeito positivo sobre o crescimento do PNB (produto nacional bruto)", o diretor do Fundo convida os governos a criarem leis que protejam as mulheres e as adolescentes, que se tornaram as populações mais vulneráveis.
O relatório do FNUAP aponta que 222 milhões de mulheres não têm nenhum acesso à contracepção e que uma em cada três mulheres é vítima de violências físicas ou sexuais. "A boa notícia é que 70% dos governos consideram a igualdade e o respeito aos direitos humanos como prioridades para o desenvolvimento", observa o diretor da ONU, advertindo os países que não estariam cumprindo suas promessas feitas no Cairo vinte anos atrás.
Mencionando uma visita feita três semanas antes a um país da África – que ele evita nomear - , ele cita dois números que, segundo ele, ilustram a gravidade do problema: 92% das garotas de lá haviam iniciado ou concluído seu ciclo de ensino primário, mas somente 3% haviam continuado no ciclo secundário. "Está na hora de agir, insiste Osotimehin", que não culpa a falta de vontade política dos países, mas sim o enorme abismo que há entre a vontade política e sua aplicação. São realidades que deverão ser amplamente debatidas durante a próxima sessão, em abril, da Comissão da ONU da População e do Desenvolvimento.
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Discriminação contra a mulher é um obstáculo para o desenvolvimento, segundo relatório da ONU - Instituto Humanitas Unisinos - IHU