Acolher a Paz para receber o Espírito. Comentário de Ana Casarotti

Foto: canva

06 Junho 2025

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Evangelho de Jo 20,19-23 que corresponde a Festa de Pentecostes, ciclo C do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.

Eis o comentário.

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”.

Nesta ultima semana escutamos as leituras que fazem presente o Espirito Santo. Ele é a Promessa que Jesus deixa a comunidade para que seja movida pelo seu Espirito, para que tenha a capacidade para continuar seu caminho, para viver unidos no amor, para comunicar sua vida y sua presença a pesar das dificuldades e dos problemas que vão acontecer. Lembremos que esta festa nasceu como uma festa de ação de graças, no tempo de recolher a colheita. Cinquenta dias depois de recolher os primeiros frutos da colheita, ofereciam-se a Deus as primícias do trabalho.

Mais adiante passa de ser uma festa agrária a uma festividade histórica que lembra a promulgação da Lei no Sinai. Celebrava-se o aniversário da Aliança de Deus com Moisés cinquenta dias depois da saída do Egito, do êxodo libertador, e o povo judeu renovava os compromissos da Aliança. Jerusalém se enchia de pessoas vindas para celebrar a festividade de todas as partes.

A descida do Espirito Santo narrada no livro dos Atos dos Apóstolos nos disse que estavam todos reunidos num mesmo lugar e “todos ficaram repletos do Espírito Santo, e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. O Espirito Santo gera unidade na diversidade, falam em outras línguas, mas estão “reunidos num mesmo lugar”.

No evangelho que meditamos este domingo nos disse que: “Ao anoitecer desse dia estando fechadas as portas do lugar onde se achavam os discípulos por medo das autoridades dos judeus”. A comunidade está reunida, mas está com medo, sente a inseguridade, não sabe o que vai acontecer com cada um e cada uma deles. E nesse momento apresenta-se Jesus ressuscitado com o sopro da sua Paz. “A paz esteja convosco”.

Com esta saudação apresentou-se o papa Leão XIV no dia da sua eleição: “A paz esteja com todos vocês. Caríssimos irmãos e irmãs, esta é a primeira saudação de Cristo ressuscitado, o Bom Pastor que deu a vida pelo rebanho de Deus. Eu também gostaria que esta saudação de paz entrasse em seus corações, alcançasse suas famílias e todos os povos da Terra. A paz esteja com vocês” (Primeiro discurso de Prevost, Papa Leão XIV: "O mal não prevalecerá, construamos pontes de paz").

Jesus oferece sua Paz, uma paz que atravessou a dor da injustiça, das tentações, do sofrimento da cruz. É uma paz que não guarda rancor, que não ficou aprisionada pela dor da cruz, mas que pode mostrar suas chagas porque elas são um testemunho de sua nova presença entre nós. Com um coração habitado pela paz de Cristo, convida-nos a receber o Espírito Santo. É necessário deixar que Jesus Ressuscitado nos cubra com sua paz, que cure nossas feridas, abra nossos túmulos, acalme nossos medos e assim estejamos dispostos a acolher seu Espírito. 

 

A presença do Espírito Santo vem acompanhada da paz! Neste tempo a paz é um clamor mundial, mas não depende somente dos que tem o poder o daqueles que estão destruindo populações inteiras como acontece em Gaza. É preciso uma não violência ativa, como disse o Papa Leão. “Desde o nível local e cotidiano até o nível da ordem mundial, quando aqueles que sofreram injustiças e as vítimas da violência sabem como resistir à tentação da vingança, eles se tornam os protagonistas mais credíveis de processos não-violentos de construção da paz. A não-violência como método e como estilo deve caracterizar nossas decisões, nossos relacionamentos e nossas ações”. Jesus nos oferece seu Espírito para comunicar sua vida estar “presentes dentro da massa da história como fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade”.

O Espírito habita em cada pessoa e comunidade que constrói a paz, que se compromete na sua vida e no seu tempo a construir espaços de justiça e verdade. “A história, a experiência, as muitas boas práticas nos fizeram entender que a paz autêntica é aquela que toma forma a partir da realidade - territórios, comunidades, instituições locais - e em escuta dela. Essa paz é possível quando as diferenças e as conflitualidades não são removidas, mas reconhecidas, assumidas e superadas”, disse Prevost (Leão na esteira de Francisco recebe os movimentos. Artigo de Luca Kocci).

Por isso fazemos nosso o apelo do Papa Leão que nos disse: “Se você quer a paz, prepare instituições de paz, não apenas instituições políticas nacionais ou internacionais”, mas também “instituições educacionais, econômicas e sociais”, porque “é o conjunto das instituições que está sendo chamado em causa”.

Oração

O vento de Deus

Tu que sopras onde queres,
Vento de Deus dando vida,
sopra-me, sopro fecundo!
Sopra-me vida em teu sopro!
Faze-me todo janelas,
olhos abertos e abraço.
Leva-me em boa Notícia
sobre os telhados do medo.
Passa-me em torno das flores,
beijo de graça e ternura.
Joga-me contra a injustiça
em furação de verdade.
Deita-me em cima dos mortos,
boca-profeta a chamá-los.

Dom Pedro Casaldáliga

 

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