A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 6,30-34 que corresponde ao 16° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O comentário é elaborado por Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
Naquele tempo, os apóstolos reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado. Ele lhes disse: "Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco". Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer. Então foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado. Muitos os viram partir e reconheceram que eram eles. Saindo de todas as cidades, correram a pé, e chegaram lá antes deles. Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor. Começou, pois, a ensinar-lhes muitas coisas.
No domingo passado, lemos o texto do Evangelho de Marcos em que Jesus envia os discípulos para comunicar a Boa Nova e lhes dá algumas recomendações.
No texto do Evangelho que a liturgia nos oferece hoje, os discípulos “reuniram-se com Jesus e contaram tudo o que haviam feito e ensinado”. Eles responderam ao chamado e ao envio de Jesus e, seguindo suas recomendações, foram comunicar a Boa Nova. O evangelho não diz quanto tempo eles ficaram nas diferentes aldeias e cidades falando sobre Jesus, anunciando sua presença, compartilhando com as pessoas a experiência de seu amor curador, que nos mostra um Deus que é Pai e realmente nos ama como filhos.
Não sabemos quanto tempo se passou. Possivelmente foram várias semanas, nas quais cada pequeno grupo foi a diferentes vilarejos, próximos ou distantes, onde algumas pessoas moravam, para comunicar a bondade de Deus Pai/Mãe. A alegria de conhecer Jesus, de estar com ele, de compartilhar sua vida foi o impulso que os levou a continuar comunicando Jesus e como suas vidas haviam mudado.
Durante esse tempo, eles podem ter se deparado com realidades diferentes. Lugares onde foram recebidos com hospitalidade, compartilharam a vida, rezaram juntos, foram muito bem recebidos, mas também lugares onde foram rejeitados, onde a indiferença e o desinteresse prevaleceram e, como Jesus lhes disse: eles tiveram que sacudir a poeira dos pés para recuperar sempre a alegria das boas novas que traziam.
Durante essa jornada, surgiram perguntas, preocupações, a incerteza de não saber para onde ir ou o que fazer em determinadas situações, bem como o espanto com a recepção de suas palavras, o sentimento de serem portadores de um tesouro valioso. Eles perceberam uma necessidade, que talvez sempre tivessem visto, mas que agora estavam compreendendo com novos olhos. Vibraram com a alegria, a esperança e também com a dor e o sofrimento daqueles que humildemente os acolheram. Fizeram muito, mas receberam muito mais.
Tudo isso eles querem partilhar com Jesus! Eles trazem muito e Jesus os recebe com tudo o que eles carregam e querem dividir com ele: suas experiências, alegrias, histórias de vida, perguntas, decisões tomadas ou incertezas nas situações que encontraram. Jesus percebe que eles precisam de algo mais, que não é suficiente compartilhar, e por isso lhes diz: "Vinde sozinhos para um lugar deserto, e descansai um pouco". Jesus os convida a descansar juntos.
O descanso pode ser entendido como a necessidade de repousar depois de tanta atividade e é necessário para reparar as forças (no sétimo dia ele descansou), é dar lugar ao alívio das preocupações que, no caso dos discípulos, seriam muitas e com diferentes nuances. Podemos pensar que Jesus também os convida a delegar, a confiar essa necessidade que eles viam em outras pessoas.
Por outro lado, consideramos que é uma necessidade grupal, não é individual, cada um por si... Às vezes, o texto é lido como um convite para estar com Jesus, em um retiro pessoal individual, mas Jesus propõe um descanso para todo o grupo que ele enviou. Da mesma forma que a atividade missionária foi compartilhada, assim também será esse momento de estar com Ele “em um lugar solitário”. Desta maneira vai se configurando uma comunidade onde reina a própria vida, a partilha, a troca de experiências junto com a recreação e a alegria do que estão vivenciando.
“Havia, de fato, tanta gente chegando e saindo que não tinham tempo nem para comer”. O evangelista não destaca nenhuma atividade em particular, mas a realidade que muitas pessoas chegam e os procuram. Não há distinção entre o que faz Jesus e os discípulos. Agora são uma equipe, uma pequena comunidade que “foram sozinhos, de barco, para um lugar deserto e afastado”.
Hoje podemos estar aglomerados, mas estar isolados, cada um no seu pequeno submundo, na sua realidade, seja com o celular olhando as vidas de outras pessoas ou vivendo em espaços comuns sem saber o nome da pessoa que está ao nosso lado. O convite de Jesus e ir sozinhos, mas grupalmente, a um lugar deserto e afastado. Distanciar-nos e apartar-nos para um lugar deserto para que aconteça assim uma partilha diferente.
Deixamos ressoar as palavras do Papa Francisco comentando este texto:
“Jesus convida os seus a repousar um pouco à parte, com Ele. Não é apenas o descanso físico, é também o descanso do coração. Porque não basta “desligar a tomada”, é preciso descansar de verdade. E como se faz isso? Para tanto, é preciso voltar ao cerne das coisas: parar, ficar em silêncio, rezar, para não passar da correria do trabalho para a correria das férias. Jesus não se afastava das necessidades da multidão, mas todos os dias, antes de tudo, se retirava em oração, em silêncio, na intimidade com o pai. O seu terno convite — repousar um pouco — deve acompanhar-nos: acautelemo-nos, irmãos e irmãs, do eficientismo, paremos a correria frenética que dita as nossas agendas. (Disponível em: Papa: descanso, contemplação e compaixão para uma “ecologia do coração”)