"Descendo da barca, Jesus se dá conta da grande multidão. A sua misericórdia é mais que uma simpatia humana. Como no Antigo Testamento, a misericórdia é uma qualidade de Deus. Na(s) atitude(s) de Jesus se anuncia a compaixão de Deus pelos seres humanos."
O subsídio é elaborado pelo grupo de biblistas da Escola Superior de Teologia e Espiritualidade Franciscana – ESTEF:
Dr. Bruno Glaab
Me. Carlos Rodrigo Dutra
Dr. Humberto Maiztegui
Me. Rita de Cácia Ló
Edição: Prof. Dr. Vanildo Luiz Zugno
Primeira Leitura: Jr 23,1-6
Salmo: 22,1-3a.3b-4.5.6
Segunda Leitura: Ef 2,13-18
Evangelho: Mc 6,30-34
Marcos não nos informa sobre o êxito da primeira experiência missionária dos apóstolos e tampouco nos diz o que Jesus teria feito neste intervalo. Sua intenção é mostrar a estreita ligação entre a ação dos Doze e o Mestre que é o ponto de referência para seu ministério.
O v. 30, com sua breve menção sobre o retorno dos apóstolos, se relaciona com o relato da missão. É o único caso no qual Marcos denomina os Doze como apóstolos. O seu status de ser-estado-enviado é realçado. A obra e o ensinamento dos enviados, “tudo o que tinham feito e ensinado”, se refere a 6,12s.
Em 1,35.45 encontramos o retiro a um lugar solitário como motivo redacional. Também a multidão que acorre (6,33), pode ser considerada frequentemente como uma preocupação do evangelista (2,2; 3,7s.20; 4,1s). O fato de eles não encontrarem tempo para comer é uma anotação que havia sido feita de forma introdutória em 3,20 a propósito de Jesus e de seus discípulos.
Segundo Marcos, a partida a um lugar solitário tem sua origem na intenção de Jesus de procurar para os discípulos um pouco de refresco e repouso. Este gesto muito humano encontra em Marcos uma explicação típica: eram tantas as pessoas que acorriam que eles “não tinham tempo nem de comer” (v.31). A solicitude de Jesus em conceder aos apóstolos um pouco de repouso é anotada só por Marcos.
Jesus e seus discípulos partem sobre a barca e são notados por muitos. A grande multidão é mais rápida que a barca e a precede (v.32). As pessoas que têm sucesso em chegar antes que a barca, se colocam em singular contraste com os discípulos que, na barca, não conseguem preceder Jesus (cf 6,45s).
O v. 34 fazendo referência ao ensinamento de Jesus, subordina a misericórdia de Jesus ao seu ensinamento. Descendo da barca, Jesus se dá conta da grande multidão. A sua misericórdia é mais que uma simpatia humana. Como no Antigo Testamento, a misericórdia é uma qualidade de Deus. Na(s) atitude(s) de Jesus se anuncia a compaixão de Deus pelos seres humanos.
A motivação geral se serve da imagem das ovelhas e do pastor. A ideia do rebanho sem pastor foi usada frequentemente na Bíblia. Como acusação, atinge os pastores que esqueceram seu dever (Jr 23,1; Ez 34,5; 1Rs 22,17) ou faz o povo compreender a punição divina (Zc 13,7). Moisés havia providenciado a nomeação de seu sucessor “para que a comunidade de Iahweh não seja como um rebanho sem pastor” (Nm 27,17).
A Primeira Leitura e o Salmo refletem essa realidade da importância do pastoreio como imagem escatológica do Pastor que reúne e guia o povo de Deus com ensinamento, oferecendo-lhe comida. Ao tema do pastor ausente ou malvado, a liturgia contrapõe a compaixão de Jesus para com a multidão.
A observação em Mc 6,34 que Jesus começa a ensinar o povo, indica em que coisa consista, antes de tudo, a sua atividade de pastor. Assim fazendo, o milagre que vem a seguir (banquete da multidão em 6,35-44) é colocado sob uma luz precisa, o milagre é subordinado ao ensinamento e inserido nele.