12 Junho 2020
Vendo as multidões, Jesus teve compaixão, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então Jesus disse a seus discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita».
Então Jesus chamou seus discípulos e deu-lhes poder para expulsar os espíritos maus, e para curar qualquer tipo de doença e enfermidade. São estes os nomes dos Doze Apóstolos: primeiro Simão, chamado Pedro, e seu irmão André; Tiago e seu irmão João, filhos de Zebedeu; Filipe e Bartolomeu; Tomé e Mateus, o cobrador de impostos; Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu; Simão, o Cananeu, e Judas Iscariotes, que foi o traidor de Jesus. Jesus enviou os Doze com estas recomendações: «Não tomem o caminho dos pagãos, e não entrem nas cidades dos samaritanos. Vão primeiro às ovelhas perdidas da casa de Israel. Vão e anunciem: "O Reino do Céu está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, deem também de graça!
Leitura do Evangelho segundo Mateus capítulo 9,36-10,8. (Correspondente ao 11º Domingo do Tempo Comum, ciclo A do Ano Litúrgico).
O comentário é de Ana Maria Casarotti, Missionária de Cristo Ressuscitado.
O Evangelho deste domingo convida-nos a refletir sobre o encargo dado por Jesus aos seus discípulos e discípulas. Eles/as devem continuar e expandir Sua missão: anunciar a Boa Nova a um povo que sofre, abatido pela desesperança, pela marginalização, indigno de receber a promessa de Deus.
“Vendo as multidões...” Hoje também há multidões que sofrem pela falta de pão na sua mesa, pelas carências geradas por interesses econômicos, porque não têm como defender seus direitos, pela crise humanitária que o mundo inteiro está atravessando pela incerteza que gera a pandemia, pelas mortes de tantas pessoas queridas. Multidões que sofrem sem saber qual é o caminho a seguir, qual é a palavra que deve ser escutada.
“Jesus teve compaixão”. A compaixão acompanhou o sentir de Jesus e motivou seu agir durante toda sua vida. É sinalada em diferentes oportunidades pelos evangelistas como uma maneira de aproximar-se das pessoas, quase como o coração do seu viver. Jesus vê as multidões que “estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor” e diante do seu sofrimento ele sente compaixão.
Mais adiante Mateus descreve a compaixão de Jesus num cenário similar: “Ao sair da barca, Jesus viu grande multidão. Teve compaixão deles, e curou os que estavam doentes” (Mt 14,14). Diante de numerosas multidões que “o seguem levando consigo coxos, aleijados, cegos, mudos, e muitos outros doentes” para que sejam curados, Jesus chama seus discípulos e lhes revela aquilo que sente: “Tenho compaixão dessa multidão” (Mt 15,32).
Neste momento quais são as multidões às quais Jesus dirige seu olhar e despertam nele compaixão? Quais são as povoações que caminham à procura de vida, de uma terra, de defesa dos seus bens que estão sendo roubados, deixando-os na miséria e pobreza absoluta? Neste tempo a pandemia atinge mais fortemente as populações vulneráveis em todo o mundo e são sempre os mais pobres e desprotegidos os que mais sofrem suas consequências. No Brasil a pandemia está atingindo os povos indígenas e comunidades tradicionais.
Como disse dom Roque Paloschi, “o tempo de pandemia revela uma situação que é já conhecida desde sempre em relação à precariedade dos povos originários”. “Essa pandemia mostrou o caos que se vive na saúde, na questão das políticas públicas, de atenção aos povos amazônicos”[...] “Nossa pátria está assistindo ao desaparecimento dos nossos povos originários, algo que vem desde a chegada dos primeiros colonizadores”´[...] Diante da morte de muitos anciãos indígenas em decorrência do coronavírus, ele os define como “livros vivos dos povos, uma biblioteca do povo, e a morte desses guerreiros e guerreiras é sinal de perda, de empobrecimento das tradições dos povos”.
Desde este olhar Jesus descobre a necessidade mais profunda das pessoas que estão ao seu redor. Não são simplesmente “pessoas”, é seu povo amado e companheiro de caminho. São seus amigos e amigas, seus vizinhos, as pessoas que o conheciam e possivelmente ele também sabia da história e da vida delas. E assim ele sente sua dor, seu cansaço e abatimento. Neste momento ele descobre “a necessidade mais profunda daquelas pessoas: andam ‘como ovelhas sem pastor’. O ensino que recebem dos mestres e letrados da lei não lhes oferece o alimento de que necessitam. Vivem sem que ninguém cuide delas. Vivem sem pastor que as conduza e as defenda”.
E, movido pela compaixão, “Jesus disse a seus discípulos: «A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos! Por isso, peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita». Antes de chamar a cada um por seu nome, Jesus convida-os a olhar a multidão como ele a vê e reconhecer assim a necessidade profunda que há nesse povo que precisa de trabalhadores.
O chamado nasce do olhar compassivo de Jesus e do pedido ao Pai que envie trabalhadores para a colheita. Os discípulos são chamados a ser pastores deste rebanho que não tem pastor e os envia com recomendações: “Vão e anunciem: ‘O Reino do Céu está próximo’. Curem os doentes, ressuscitem os mortos, purifiquem os leprosos, expulsem os demônios. Vocês receberam de graça, deem também de graça!”.
Neste momento também somos convidados/as a viver e comunicar a gratuidade do Amor de Deus que se oferece sem medida. Anunciar o Reino do Céu é colocar-se em primeiro lugar ao serviço das pessoas, das suas necessidades. Seguindo o exemplo de Jesus que se fez servo de todos/as, solidário de toda a humanidade para desde as suas entranhas realizar o caminho de libertação e ressurreição.
Neste domingo Jesus nos convida, de forma especial no contexto histórico que estamos vivendo, a levar adiante este serviço que se expressa no cuidado dos que mais sofrem as consequências da pandemia, dos povos mais vulneráveis. Deve manifestar-se em atos e gestos proféticos, numa luta real, que manifestam a presença ativa de Deus e são assim sinais visíveis do Invisível. Hoje a intervenção para a justa distribuição dos bens econômicos, a luta pelos direitos dos seres humanos, pela conservação do meio ambiente, podem ser consideradas atividades que estão no mesmo plano que curar enfermos e ressuscitar mortos.
Olhemos com Jesus nosso mundo hoje. O que Ele nos mostra? O que Ele sente? Somos convidados a unir nosso olhar ao olhar de Jesus. Deixemos que sua compaixão ecoe no nosso interior para escutar assim seu convite para anunciar a Boa Nova.
Em tudo contemplar-te
porque em tudo alentas
interior e última energia
onde tudo consiste,
em tudo descobrir-te
perfurando a casca
bela ou destroçada
de tudo o que vive.
Em tudo anunciar-te
próximo e inédito
venturoso futuro
surgido do abismo.
Em tudo sofrer-te
solidário nas perdas
que amputam a toda criatura
perfurando seu peito.
Em tudo amar-te
Deus íntimo e universal
no abraço que enternece
e na comunhão cósmica.
Em tudo servir-te
trabalhando a convergência em ti,
certa e impossível,
de tudo o que existe.
Benjamin González Buelta
Salmos para sentir e saborear internamente as coisas
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As multidões estavam cansadas e abatidas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU