10 Mai 2024
O artigo é de José Antonio Pagola, teólogo, publicado por Religión Digital, 22-04-2024.
O céu não pode ser descrito, mas podemos saboreá-lo. Não podemos alcançá-lo com a mente, mas é difícil não desejá-lo. Se falamos do céu não é para satisfazer a nossa curiosidade, mas para reacender o nosso desejo e a nossa atração por Deus. Se nos lembrarmos disso, é para não esquecer a última saudade que carregamos no coração.
Ir para o céu não é chegar a um lugar, mas entrar para sempre no Mistério do amor de Deus. Finalmente, Deus não será mais alguém oculto e inacessível. Embora nos pareça incrível, poderemos conhecer, tocar, saborear e desfrutar do seu ser mais íntimo, da sua verdade mais profunda, da sua infinita bondade e beleza. Deus nos amará para sempre.
Esta comunhão com Deus não será uma experiência individual. O Jesus ressuscitado nos acompanhará. Ninguém vai ao Pai senão por meio de Cristo. “Nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Colossenses 2:9). Somente conhecendo e desfrutando do mistério encerrado em Cristo poderemos penetrar no mistério insondável de Deus. Cristo será o nosso “céu”. Ao vê-lo, “veremos” Deus.
Cristo não será o único mediador da nossa felicidade eterna. Incendiados pelo amor de Deus, cada um de nós se tornará “céu” para os outros à sua maneira. Da nossa limitação e finitude tocaremos o Mistério infinito de Deus, saboreando-o nas suas criaturas. Desfrutaremos seu amor insondável provando-o no amor humano. A alegria de Deus nos será dada encarnada no prazer humano.
O teólogo húngaro Ladislaus Boros tenta sugerir esta experiência indescritível: "Sentiremos o calor, experimentaremos o esplendor, a vitalidade, a riqueza transbordante da pessoa que hoje amamos, com quem desfrutamos e por quem agradecemos a Deus. Todo o seu ser, a profundidade da sua alma, a grandeza do seu coração, a criatividade, a amplitude, a excitação da sua reação amorosa nos será dada".
Que plenitude alcançará em Deus a ternura, a comunhão e a alegria do amor e da amizade que aqui conhecemos. Com que intensidade aqueles de nós que já se amam tanto na terra se amarão então? Poucas experiências nos permitem prever melhor o destino último para o qual somos atraídos por Deus.
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Provar o céu. Artigo de José Antônio Pagola (Ascensão do Senhor – Ano B - Marcos 16,15-20) - Instituto Humanitas Unisinos - IHU